quinta, 28 de março de 2024
SpaceDica

Conheça mudanças em discussão para o crowdfunding de investimentos

20 novembro 2020 - 14h24Por Larissa Vitória

Apesar de ser um segmento que existe há poucos anos no Brasil, o crowdfunding de investimentos chama a atenção de empresas e investidores pela transparência, facilidade e alto retorno, entre outros atrativos. 

O mercado, regulamentado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 2017, deu um salto no ano passado: o número de plataformas que oferecem a modalidade passou de quatro, em 2016, para 26, em 2019 — um aumento de 607%, de acordo a CVM.

Para Christian Rocha, COO da Investweb, plataforma que conecta empreendedores a pessoas interessadas no crowdfunding, esse movimento deve continuar crescendo nos próximos anos, à medida que cada vez mais pessoas entendam como funciona esse modelo de investimentos.

“Se beneficia desse modelo quem tem o desejo de investir diretamente em empresas e negócios de outras pessoas reais, sem a necessidade de passar por bancos, pagar altas taxas e lidar com burocracias”, afirma Rocha. 

Porém, para que as taxas de crescimento sigam elevadas, os principais players do setor discutem, em conjunto com a CVM, uma série de alterações nas regras que regulam desde o valor máximo das captações de investimentos a formas de divulgação das ofertas e proteção de quem investe em crowdfunding

Mercado secundário

O ponto mais importante nas discussões, para Christian Rocha, é a criação de um mercado secundário — segmento para operações de compra e venda de ativos já lançados ao mercado em ofertas públicas ou privadas anteriores — voltado para o crowdfunding. A medida, conforme indica ele, traria mais liquidez aos investimentos e melhoraria a atratividade das ofertas.

O COO explica que, atualmente, quem participou de rodadas de investimento e deseja vender suas cotas tem poucas saídas: “Os investidores podem oferecer os ativos para a própria empresa ou à plataforma que fez a captação, que, por sua vez, repassa-os a outros participantes da mesma rodada”.

A existência de um mercado secundário permitiria que as plataformas de crowdfunding direcionassem as cotas a um público maior e aumentaria as possibilidades de liquidez dos investidores.

Rocha compara o mecanismo a uma seção de classificados de jornal: “Os investidores sabem que, se precisarem do dinheiro depois de um certo período, poderão vender suas cotas e recuperar os recursos alocados. Dessa forma, aumentamos a segurança das pessoas em participarem das primeiras rodadas de investimento nas empresas”.

Ofertas maiores

Segundo a CVM, nos últimos três anos, o total captado com ofertas do tipo crowdfunding passou de R$ 8,342 milhões para R$ 59,043 milhões. Mas as empresas, investidores e plataformas querem ainda mais: outra importante discussão sobre a regulamentação é o valor máximo das captações, atualmente definido em R$ 5 milhões.

Em um edital lançado no início deste ano, a CVM propôs que o novo limite fosse de R$ 10 milhões. Além disso, o valor máximo de receita bruta das empresas que podem captar por essa modalidade triplicaria, dos atuais R$ 10 milhões para R$ 30 milhões.

Porém, conforme conta o COO da Investweb, a questão deve ser definida apenas em 2021. Ele defende que, como não existem órgãos ou empresas, além da B3, que possam fazer captações dessa magnitude para empresas na faixa de faturamento do crowdfunding, os novos valores devem estar entre os R$ 15 milhões e R$ 20 milhões: “Temos um gap muito grande, de empresas órfãs de algum instrumento que permita que elas fujam dos grandes bancos comerciais e façam captações maiores de recursos no mercado”.

Divulgação mais aberta

Por fim, os players discutem também mudanças nas normas de divulgação das ofertas que, conforme explica Rocha, são muito restritas. “Tudo o que é apresentado sobre o modelo de negócios da empresa, captação, vantagens, desvantagens, riscos e retornos do investimento deve ser publicado na página principal do crowdfunding”.

A medida, criada inicialmente para promover transparência às ofertas e impedir que haja investidores com informações privilegiadas, acaba por dificultar o conhecimento da operação por mais pessoas. “Isso nos limita no sentido de realizar propagandas e promover eventos e palestras, porque tudo que é feito enquanto a rodada ainda está ativa precisa necessariamente ser gravado e colocado na página principal”, aponta ele. 

As plataformas propõem que as ofertas dessa modalidade possam ser mais parecidas com as de fundo de investimentos, por exemplo, nas quais podem ser criados materiais paralelos à rodada. Os documentos extras permitiriam que a oportunidade fosse descoberta por mais pessoas ao invés de ficar restrita ao meio comum da empresa e daqueles que já estão familiarizados com a existência do crowdfunding.