Economia

Ata do COPOM: o tempo e os preços dirão se aparente unidade convence o mercado, diz analista

Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos, observou esforços do colegiado para demonstrar que compartilha a mesma visão sobre a política monetária

Banco Central
Banco Central

Nesta terça-feira (14), o Banco Central (BC) divulgou a ata da última reunião de seu Comitê de Política Monetária (COPOM). Na quarta-feira passada (8), o colegiado decidiu reduzir o ritmo do corte da taxa básica de juros Selic de 0,50 p.p. a 0,25 p.p., a 10,50% ao ano (a.a.).

Para Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos, o documento mostra que a autoridade monetária “percebe uma deterioração no cenário doméstico e internacional com relação à inflação” e tenta “convencer essa entidade chamada mercado de que, apesar do placar apertado (5 votos a 4 para reduzir a Selic em 0,25 ponto percentual), o Comitê ainda compartilha a mesma visão sobre a política monetária”.

De acordo com o executivo, o material indica uma deterioração das expectativas em vários trechos: “o ambiente externo está mais adverso” contra “o ambiente externo segue volátil” da edição anterior.

Três parágrafos depois, o texto diz “a inflação cheia ao consumidor manteve trajetória de desinflação, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta”.

Assim como nos Estados Unidos, o mercado de trabalho segue aquecido, o que pressiona os preços. “[A] inflação nos serviços intensivos em trabalho, que tem se mostrado persistentemente acima do nível compatível com o cumprimento da meta”, informa.

Para as contas públicas, “ainda que as projeções de resultado primário e de trajetória da dívida não tenham se alterado significativamente, observou-se, no período, um aumento do prêmio de risco e uma percepção de piora da situação fiscal”.

Para Bevilacqua, o documento ainda tentou mostrar que não existe divisão no colegiado. O texto tratou o debate de maneira mais detalhada, e minimizou uma eventual discordância.

  • “A maioria do Comitê avaliou que era apropriado reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual. (…) Para tais membros, o forward guidance indicado na reunião anterior sempre foi condicional e houve alteração no cenário (…). Tais membros ressaltaram que muito mais importante do que o eventual custo reputacional de não seguir um guidance, mesmo que condicional, é o risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação.”

 

E para evitar demonstrar discordância, o texto diz, a seguir:

  • “Os membros que votaram pela redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic também compartilharam da percepção de aumento das incertezas internas e externas entre as reuniões de março e maio, aqui já discutidas. (…) O debate proposto por tais membros foi sobre o custo de oportunidade de não seguir o guidance vis-à-vis a mudança de cenário no período.”

 

“O Comitê claramente tentou provar que não há discordância sobre a trajetória e sobre a necessidade de ancoragem da política monetária. O que ocorreu foi um debate sobre a pertinência e sobre os custos de não cumprir o indicado no forward guidance da reunião anterior. Se o texto foi convincente ou não, apenas o tempo (e os preços) dirão”, concluiu Bevilacqua.

 

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