Economia

Governo Lula: mercado financeiro reduz preocupação com possível caos fiscal

O poder executivo está percebendo a importância de se portar com equilíbrio e essa dinâmica também está influenciando o déficit fiscal, que provavelmente será menor do que o previsto, destaca a Smart House Investments.

O presidente Lula ladeado por Rodrigo Pacheco (esq.) e Arthur Lira - Roque de Sá/Agência Senado
O presidente Lula ladeado por Rodrigo Pacheco (esq.) e Arthur Lira - Roque de Sá/Agência Senado

O governo brasileiro está mais alinhado às expectativas do mercado financeiro e alguns gestores se mostram mais otimistas. “O crescimento do PIB em 2,9% representou um momento crucial para o mercado, indicando que as previsões extremamente pessimistas em relação ao novo governo não se concretizaram, pelo menos por enquanto”, afirma André Collares, CEO da Smart House Investments.

Conforme o executivo, a controvérsia em torno dos dividendos da Petrobras (PETR3)(PETR4) foi mais um teste decisivo, forçando potencialmente a empresa a reconsiderar suas decisões. “A aprovação popular de um presidente muitas vezes está diretamente ligada ao desempenho econômico e, para isso, certos erros não podem ser cometidos”, diz.

Para ele, o poder executivo está percebendo a importância desse equilíbrio. “Essa dinâmica também está influenciando o déficit fiscal, que provavelmente será menor do que o previsto pelos principais analistas e economistas do país, que estimavam algo entre 0,7% e 0,8% do PIB. Estamos testemunhando uma gradual convergência entre os impulsos de gastos excessivos do governo para fins populistas e as pressões exercidas pelos principais agentes econômicos”, frisa.

Ainda assim, o próximo Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias de 2024 está previsto para indicar um déficit fiscal em torno de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB). A informação foi antecipada pela Revista Exame, veículo para o qual o documento será divulgado pelos ministérios da Fazenda, Planejamento e Gestão até o dia 22 de março. Essa projeção leva em conta não apenas o desempenho das contas públicas em janeiro, considerado positivo pela equipe econômica, mas também os dados de fevereiro, que ainda não foram divulgados pela Receita Federal e pelo Tesouro Nacional.

Primeiro relatório de 2024

Vale lembrar que o primeiro Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias de 2024 indicou um superávit primário previsto de R$ 9,1 bilhões. Sob o novo arcabouço fiscal, a meta é eliminar o déficit público no ano, com uma margem de tolerância de 0,25 ponto percentual. Isso implica que o resultado pode variar entre um superávit e um déficit de até 0,25% do PIB.

Os analistas que monitoram as finanças do governo mostram-se menos pessimistas, concedendo ao governo o benefício da dúvida. Algumas instituições, que inicialmente previam um déficit entre 0,7% e 0,8% do PIB, já revisaram suas estimativas para cerca de 0,5%. Este cenário mais otimista é refletido tanto em projeções internas quanto nas perspectivas de mercado.

Olhar dados com cautela

O economista Volnei Eyng, CEO da Multiplike, diz olhar com bastante cautela o relatório que sairá dia 22. “Apesar das perspectivas positivas para o primeiro trimestre de forma geral, o volume de vendas do varejo nacional teve um início de ano menos auspicioso, com recuo de quase 5%, conforme mostra o Índice de Atividade Econômica Stone Varejo”, cita.

“Já os relatórios que controlam inflação tem mostrado bastante moderação em relação às vendas estarem em ritmo lento. Com isso, a arrecadação pode estar em ritmo lento e, embora janeiro tenha vindo acima da expectativa, foi um janeiro inferior em relação aos últimos anos e precisamos lembrar que houveram eventos de cauda referente à tributação que o governo fez no final do ano incentivando pagamentos a toque de caixa no mês de janeiro e que não irão se repetir em fevereiro”, destaca.

Para Eyng, o governo promete um déficit zero, mas é perceptível que o ministro da Fazenda vem prorrogando esse número. “Primeiro falava no final de 2023, depois passou para março, e agora o novo prazo é junho”, ressalta.

PIB do Brasil

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou um crescimento de 2,9% no acumulado de 2023, atingindo a marca de R$ 10,9 trilhões. Esses dados foram divulgados pelo Sistema de Contas Nacionais Trimestrais nesta sexta-feira, 1º. Em 2022, a economia brasileira havia crescido 3%.

No quarto trimestre do ano passado, em comparação com os três meses anteriores, a economia do país manteve-se estável. Esse resultado esteve em linha com as expectativas do mercado financeiro, que projetava um leve aumento de 0,1%.

Já o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), sediado em Washington DC, projeta uma desaceleração significativa no ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2024. A instituição estima um avanço de 1,5% neste ano, em comparação com a alta de 2,9% registrada no exercício anterior.

Caso essa estimativa se concretize, o Brasil crescerá abaixo da média da América Latina e do Caribe, e também deve experimentar uma desaceleração mais acentuada. O BID prevê um crescimento de 1,6% para a região em 2024, após uma expansão de 2,1% em 2023, superando as expectativas de economistas e analistas.

O estudo "Pronto para decolar? Aproveitando a estabilidade macroeconômica para o crescimento", destaca que países de grande porte como Brasil e México contribuíram significativamente para o crescimento regional. No geral, a América Latina e o Caribe demonstraram uma força econômica inesperada em 2023, segundo avaliação do BID.

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