A inflação americana mostra força e deve comprometer o corte de juro no primeiro semestre de 2024, é o que afirma o economista Volnei Eyng, CEO da Multiplike, em relação à expectativa por parte do mercado financeiro de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) inicie o ciclo de corte de sua taxa de juro em junho.
O comentário do especialista surge em reação aos dados da inflação nos EUA, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (CPI, em inglês), divulgados nesta terça-feira (12), que aumentou 0,4% em fevereiro.
“Em termos anuais, o indicador subiu de 3,1% para 3,2%. O núcleo da inflação, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, também registrou um aumento mensal de 0,4%, superando a previsão de 0,3%, mas mantendo-se estável em relação ao mês anterior. Como resultado, o núcleo da inflação em doze meses caiu de 3,9% para 3,8%”, explica Eyng.
O economista lembra que ontem o Fed anunciou que as expectativas de inflação do consumidor nos EUA aumentaram tanto no curto quanto no longo prazo. “A inflação esperada para os próximos três anos subiu de 2,4% para 2,7% entre janeiro e fevereiro, enquanto a expectativa para os próximos cinco anos avançou de 2,5% para 2,9% no mesmo período. Por outro lado, as expectativas de inflação para o próximo ano permaneceram em 3,0%”, destaca.
E a inflação brasileira?
Nesta terça também saiu, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que registrou um aumento de 0,83% em fevereiro, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“As expectativas do consenso apontavam para um aumento de 0,78%, enquanto em janeiro o índice havia subido 0,42%. No acumulado do ano, o IPCA aumentou 1,25%, e em termos anuais, passou de 4,51% para 4,50%”, ressalta.
Eyng aponta que sete dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados registraram aumento no mês passado, com maior impacto e variação na categoria de educação, que subiu 4,98%. Alimentação e bebidas tiveram um aumento de 0,95%, enquanto os custos com transporte aumentaram 0,72%. A categoria de comunicação apresentou um aumento de 1,56%, embora com um impacto menor.
"O aumento significativo em fevereiro já era esperado e foi impulsionado principalmente pelos aumentos nas mensalidades escolares e pelo aumento do ICMS sobre a gasolina no início do mês", frisa.
Qual o impacto da inflação dos EUA?
Fabio Murad, sócio da Ipê Investimentos, explica que a inflação nos EUA exerce um impacto significativo na economia global, especialmente devido ao status do dólar como moeda de reserva internacional. “Aumentos na inflação americana podem desencadear ajustes nas políticas monetárias de outros países e influenciar os preços dos ativos globalmente. Se a inflação nos EUA aumentar, pode haver pressão para elevar as taxas de juros, o que, por sua vez, pode ter um efeito negativo nos preços dos ativos, particularmente nos mercados emergentes”, destaca.
Segundo ele, a inflação nos EUA pode afetar a inflação brasileira de várias maneiras. “Um aumento na inflação americana pode resultar em elevações nos preços das commodities, o que impacta diretamente a inflação brasileira, dada a posição do Brasil como um grande exportador de commodities. Além disso, se a inflação nos EUA levar a um aumento nas taxas de juros globais, isso pode afetar o custo do capital para o Brasil, influenciando os preços domésticos”, ressalta.
Neste cenário, como fica a Selic?
Murad lembra que um aumento na inflação nos EUA pode influenciar as decisões sobre a taxa Selic no Brasil. “Se a inflação nos EUA resultar em um aumento nas taxas de juros globais, o Banco Central do Brasil pode considerar ajustes na taxa Selic para mitigar possíveis pressões inflacionárias domésticas e manter a estabilidade econômica”, frisa.
Em se tratando da B3, que é a bolsa brasileira, ele reforça que a elevação da inflação nos EUA pode desencadear movimentos de capital, especialmente se os investidores anteciparem uma resposta mais agressiva do Fed, levando a aumentos nas taxas de juros. Isso poderia resultar em uma saída de capital dos mercados emergentes, incluindo o Brasil, em busca de ativos mais atraentes em termos de retorno e segurança.
Como está a bolsa brasileira atualmente?
Para Eyng, a bolsa brasileira vem sofrendo uma fuga de capital e já foram registrados inúmeros saques este ano por parte do investidor estrangeiro. “Somente no dia 8 de março, retiraram R$ 1,751 bilhão. Em março, até o momento, o saldo está negativo em R$ 4,582 bilhão; no ano, o capital externo está negativo em R$ 21,933 bilhões”, aponta, elencando que desta forma a B3 dificilmente baterá os recordes que o mercado projetava até então.
Com isso em mente, o investidor brasileiro deve, conforme o economista, manter cautela e buscar diversificação.