Economia

IPCA-15 de fevereiro: núcleos de inflação preocupam, mas analistas não veem mudança de visão do BC

Autoridade monetária deve seguir com cortes na taxa básica de juros Selic, uma vez que o indicador traz números em linha ou abaixo do esperado consecutivamente, apesar do alerta em serviços subjacentes

- Marcello Casal Jr/Agência Brasil
- Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Nesta terça-feira (27), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) de fevereiro.

O indicador de inflação veio em 0,78% no mês, enquanto a mediana das projeções do mercado era de uma alta de 0,82% em fevereiro, contra uma alta de 0,31 ponto percentual (p.p.) em janeiro.

Em doze meses, o IPCA-15 variou 4,49 ponto percentual (p.p.). Apesar de ser marginalmente superior aos 4,47 por cento acumulados nos doze meses até janeiro, o resultado veio abaixo da mediana das expectativas, que era de 4,52%. E também ficou um ponto-base (centésimo de ponto percentual) abaixo do teto da meta de inflação, de 4,50%.

A alta do índice deveu-se aos reajustes das tarifas de educação, que, em geral, ocorrem em fevereiro. Esse movimento também deve influenciar o IPCA do mês fechado, a ser divulgado no início de março.

Segundo o IBGE, o resultado foi, “em grande parte, influenciado pelo grupo Educação. O grupo foi puxado pelos cursos regulares”, informou o Instituto. De acordo com a pesquisa, “as maiores variações vieram do ensino médio e do ensino fundamental”.

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito registraram variações positivas em fevereiro. 

Prévia da inflação oficial, medida pelo IPCA, o IPCA-15 só se diferencia do outro índice pelo prazo de apuração: entre o 16º dia do mês anterior e o 15º dia do mês corrente, contra o mês fechado do IPCA “tradicional”.

O que pensa a ASA Investments

Leonardo Costa, economista de ASA Investments, aponta que os serviços subjacentes são ainda um ponto de preocupação da inflação, mas o Banco Central não deve mudar seus planos quanto ao ciclo de cortes na taxa básica de juros Selic.

Para Costa, precisaríamos ver mais leituras de IPCAs que sacramentassem essa piora dos serviços. A projeção dos juros para o fim de 2024 vem em 8,50%, diz.

Alimentos devem seguir em desaceleração, e atingir neutralidade no meio do ano, de acordo com o economista, uma vez que os riscos parecem estar em processo de diluição.

A ASA projeta que o IPCA fechado de fevereiro deve rodar entre 0,75% e 0,80%. Para o fim do ano, a casa manteve a projeção de inflação em 3,5%.

O que pensa a Levante Investimentos

Na avaliação de Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe de Levante Investimentos, essa semelhança permite que o IPCA-15 seja uma projeção de excelente qualidade do que vai ser a inflação usada pelo Banco Central (BC) para verificar se a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) pode ou não ser cumprida.

Outro indicador importante que foi divulgado nesta terça-feira foi o último Relatório Focus de fevereiro. Esse levantamento das projeções do mercado financeiro mostra expectativas estáveis para a inflação e os juros para este ano e para 2025 e 2026. A Selic prevista para dezembro de 2024 segue em 9 por cento, e as taxas estimadas para o fim dos dois anos seguintes seguem em 8,50 por cento.

A projeção de inflação para este ano caiu para 3,80 por cento, contra 3,82 por cento na edição anterior.

Qual a segurança disso? Para Bevilacqua, os preços dos serviços como um todo devem ser afetados pelo que ocorrer com o reajuste da educação. O foco dos investidores vai estar nos serviços subjacentes. Eles foram objeto até de declarações de Roberto Campos Netto, presidente do BC, de que a inflação de serviços preocupa.

Como isso pode afetar os juros? Segundo os comunicados do Comitê de Política Monetária (Copom), vai haver mais duas reduções de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, atualmente em 11,25 por cento ao ano. Ou seja, em março os juros caem para 10,75 por cento e, em maio, recuam novamente, para 10,25 por cento.

Daí em diante, menos certezas. A edição mais recente do Focus, divulgada na quinta-feira (22) mantém a Selic esperada para dezembro em 9 por cento. Tudo o mais constante, isso significaria cinco cortes de 0,25 ponto percentual nas cinco reuniões remanescentes para 2024 após o encontro de maio. Os números nesta terça-feira podem reforçar ou alterar essas expectativas.

“A divulgação de uma inflação abaixo do esperado, com o IPCA-15 em 12 meses (ainda que por pouco) abaixo do teto da meta aumentou a confiança dos investidores da manutenção de trajetória de baixa da Selic”, conta Bevilacqua. 

O que pensa a Nord Research

O resultado abaixo das expectativas do mercado e a leve queda nos serviços subjacentes mostraram bons sinais em relação ao resultado bastante pressionado do IPCA de janeiro, afirmou Maria Luisa Nepomuceno, da equipe Renda Fixa PRO da Nord Research.

Para Nepomuceno, a aceleração da média dos núcleos e a alta difusão ainda mantêm o tom de alerta para os próximos resultados e trazem sinais de que podemos observar uma desaceleração da inflação um pouco mais lenta.

Já para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) em março, o indicador não muda as expectativas, que anteveem mais um corte de 0,50 ponto percentual.

O que pensa a Suno Research

A Suno Research chamou a atenção novamente para o grupo de Alimentação e Bebidas, que registrou alta de 0,97% e impactou o índice em 0,20 p.p.

“Nesse início de ano, o clima mais adverso com altas temperaturas e chuvas impactam negativamente a produção e colheita de alimentos”, apontou Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Sung destaca que, em relação aos combustíveis, houve alta nos preços do gás veicular, da gasolina e do etanol, enquanto o óleo diesel registrou queda. A alta do ICMS sobre a gasolina impactou para o crescimento no mês.

De forma geral, o economista vê que a inflação segue controlada, mas há alguns sinais de alerta. “Era de se esperar um fevereiro mais pressionado por conta dos reajustes de matrículas no início do ano letivo, aumento do ICMS sobre gasolina e pressão sobre alimentos em domicílio”, ponderou.

Do lado positivo, apesar da alta mensal na média dos núcleos, nos últimos doze meses, Sung observou desaceleração. E, o índice de difusão que estava pressionado caiu.

Alguns sinais de alerta como os preços de serviços subjacentes, que subiu tanto no mensal quanto na variação anual. E, a média móvel de três meses anualizada e ajustada sazonalmente do núcleo de inflação e de serviços subjacentes registraram novas altas. “Essas métricas ainda continuam em patamares elevados e por isso merecem cautela”, acrescentou.

Para 2024, a projeção de Suno Research para o IPCA segue em 3,90%. Para 2025, 3,70%.

Para a política monetária, Sung opina que esse dado não deve alterar o plano de voo já anunciado pelo Banco Central, de cortes de 0,5 p.p. nas próximas reuniões, pelo menos para março e a maio.

O que pensa a Warren Investimentos

Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, comentou que os serviços subjacentes continuam a acelerar acima do esperado e seguem como dúvida mais à frente.

“A surpresa baixista ficou concentrada em passagem aérea, repetiu o sinal de deflação visto em janeiro. E por alimentos, in natura, mais fracos (1,16% vs. alta de 1,40% projetado). Além disso, gasolina subiu menos que esperado por nós e apresentou alta de 0,84%”, apontou Angelo.

Telefone celular e combo de internet apresentaram alta acima que o esperado e estes são itens que mostrarão pressão no IPCA fechado de fevereiro, na opinião da analista.

Angelo avalia ainda que tanto serviços subjacentes como intensivos em mão de obra caminham próximos a média 2010 a 2020, quando seguiram pressionados e em patamar elevado.

A projeção da plataforma para fevereiro está em 0,84%, estável se considerados itens que repetem entre o IPCA-15 e o IPCA fechado.

“Se por um lado educação e itens de comunicação pressionam, por outro, passagem aérea equilibra”, declarou a estrategista.

Para março, a Warren Investimentos observa uma alta de 0,21%, uma alta em relação ao esperado de 0,12%, com ajuste em passagem aérea, que apresentou deflação antecipada em fevereiro.

Para o ano, a plataforma segue com estimativa de um IPCA em 4% e, para 2025, com 3,50%.

“Acreditamos que março será um ponto importante na inflação do trimestre, que pode marcar o início da devolução de 3% em alimentação no domicílio. E, corroborar a tese de reaceleração da inflação subjacente em 2024”, comentou.

Angelo relembra que a inflação encerrou 2023 em 4,8% e pode atingir 5,50% em 2024.

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