Economia

IPCA de março: analistas veem riscos no processo de desinflação, mas citam alívio em serviços

Utilização de recursos de fundos regionais da Eletrobras (ELET3)(ELET6) para baratear tarifas de energia e possível interferência nos preços da gasolina preocupam o mercado financeiro

Risco fiscal influencia na queda da bolsa - Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Risco fiscal influencia na queda da bolsa - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,16% em março, após alta de 0,83% no mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (10) e abaixo do consenso de 0,25% projetado pelo mercado financeiro.

No acumulado de doze meses até março, o índice chegou a uma taxa anualizada de 3,93%, contra a marca de 4,50% em um ano na inflação até o mês anterior.

Em relatório, o britânico Barclays alertou que “a queda surpreendente não alivia a preocupação com uma possível reversão da desinflação no Brasil”.

Seus analistas projetam que o índice, no ano, chegue a 3,70%, quando consideradas medidas como a redução das contas de luz e possíveis aumentos nos preços da gasolina.

Por fim, a instituição prevê que a taxa básica de juros Selic chegue a 9,5% no fim dos ciclo de cortes, devido às pressões nos serviços.

“Embora os preços relativos possam não voltar aos níveis pré-pandemia, o mercado de trabalho forte e os salários crescentes podem impulsionar a recuperação dos serviços”, completou o banco.

Para o Bradesco (BBDC3)(BBDC4), foi justamente a pressão na inflação de serviços a maior surpresa negativa, com um avanço de 0,45%, o que garantiu a manutenção da média móvel de três meses em 5,70%
  
“Essa surpresa se espalhou em quase todos os grupos do IPCA, especialmente em bens, alimentação domiciliar e preços administrados”, comentaram os analistas, em relatório.

Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, por sua vez, entende que o número foi bastante favorável.

“Tínhamos uma expectativa qualitativa, ou seja, uma abertura bastante positiva prevista, até melhor que o consenso, apesar de nosso valor estar um pouco mais elevado, e o resultado foi uma surpresa”.

Kautz destacou o setor de serviços e os núcleos, que evidenciaram sinais de desaceleração, principalmente no segundo, e uma melhora um pouco mais generalizada na parte de difusão também.

Para Maria Luisa Nepomuceno, da Nord Research, a composição foi positiva, com o índice abaixo das expectativas, relativa estabilidade nos serviços subjacentes e relevante redução na média dos núcleos.

“A leitura reiterou os sinais trazidos pelo IPCA-15 de março de que as pressões na inflação no início do ano poderiam estar relacionadas com importantes componentes sazonais. Caso esta trajetória da inflação seja mantida nos próximos resultados, sem acelerações relevantes por efeitos de atividade e mercado de trabalho, podemos observar uma manutenção do ritmo de 0,50 ponto percentual também na reunião de junho”, afirmou.

De acordo com a estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andrea Angelo, a surpresa negativa em março foi principalmente nos grupos de alimentação no domicílio, comunicação e transportes, enquanto os serviços subjacentes devem acelerar nos próximos meses.

“Como temos chamado a atenção, era esperado que este grupo desacelerasse de forma mais contundente nesta leitura e ainda esperamos o mesmo para o IPCA de abril”, avaliou.

A plataforma espera uma reaceleração a partir de maio, com o risco de o IPCA encerrar o ano em 6,00%. Para 2024, os principais riscos são a Medida Provisória (MP) da Eletrobras (ELET3)(ELET6) e um possível aumento nos preços da gasolina, destacou Angelo.

Na composição do índice, o Itaú BBA observou três surpresas baixistas: alimentação no domicílio (com frango e queijo), serviços (com refeição e conserto de automóvel) e industriais (com higiene pessoal). 

“O IPCA de março veio abaixo do esperado e com abertura mais benigna também. O qualitativo dessa divulgação, ao contrário das anteriores, foi melhor do que o esperado, com surpresas baixistas em serviços subjacentes e industriais subjacentes. Na margem, a média dos núcleos desacelerou para 3,5% (de 3,9%). Para 2024, projetamos IPCA de 3,6%”, comentou a economista Luciana Rabelo.

Para o Inter Research, o único porém foi a não desaceleração da inflação de serviços subjacentes, mas, ainda assim, as outras medidas de inflação de serviços sugerem um alívio inflacionário vindo do setor.

De acordo com o economista André Valério, a desaceleração da média dos núcleos foi uma excelente notícia e sugere que a dinâmica inflacionária se mantém saudável.

“Com isso, não enxergamos uma modificação da atual dinâmica desinflacionária, não afeta a condução da política monetária, que ainda mantém um patamar contracionista e consistente com a atual dinâmica da inflação”, declarou.

Após a última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central (BC) e os resultados menos positivos de dezembro a fevereiro, o mercado financeiro passou a ficar mais cauteloso, e projetou inclusive uma Selic terminal maior que o esperado anteriormente.

Por outro lado, o Inter Research reiterou sua expectativa de Selic a 8,50% ao fim de 2024, que, a ver, se mantém consistente com a atual dinâmica inflacionária.

 

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