Nesta quinta-feira (6), o Banco Central Europeu (BCE) anunciou um corte de 0,25 p.p. em sua taxa de juro, posicionando-a em 3,75% ao ano. Ao menos esta é a precificação de boa parte do mercado financeiro, para quem a autoridade monetária do velho continente seguirá nessa linha.
“Os analistas esperam de dois a três cortes ao longo deste ano. A tendência é desacelerar o euro e acelerar o dólar, com o investidor procurando o mercado norte americano num movimento chamado flight to quality (busca por segurança)”, explica Jefferson Laatus, sócio-fundador e estrategista-chefe do Grupo LAATUS.
“A Europa corta primeiro o juro porque sentiu sua economia desacelerar e, se não fizer nada, esse recuo pode resultar em um Produto Interno Bruto (PIB) Negativo”, diz, acrescentando que a economia da zona euro cresceu 0,4% em 2023, mantendo o mesmo ritmo da União Europeia (UE), em contraste com o crescimento de 3,4% registrado em ambas as regiões em 2022, segundo dados divulgados pelo Eurostat em março.
No boletim, o Eurostat revisou ligeiramente para baixo a estimativa preliminar de janeiro, que previa um crescimento de 0,5% no produto interno bruto (PIB) dos países da zona euro e dos 27 estados-membros da UE.
Conforme os dados do serviço estatístico europeu, no quarto trimestre de 2023 o PIB da zona euro aumentou 0,1% e o da UE 0,2%, em comparação com um crescimento homólogo de 0,1% em ambas as regiões. Em relação ao trimestre anterior, o PIB manteve-se estável na zona euro e na UE entre outubro e dezembro.
Impacto no Brasil será abrangente
Fábio Murad, sócio da Ipê Investimentos, destaca que o impacto do novo patamar de 3,75% ao ano dos juros europeus no Brasil é abrangente. “Inicialmente, a redução dos juros na Europa pode tornar o capital mais barato e acessível, incentivando investimentos estrangeiros no Brasil. Além disso, o enfraquecimento do euro pode tornar as exportações brasileiras para a Europa mais competitivas, embora as importações da Europa se tornem mais caras devido à depreciação da moeda europeia”, ressalta.
Ele explica que o BCE está se adiantando ao Fed porque a economia europeia pode necessitar de estímulos mais urgentes do que a americana. “A inflação na zona do euro tem se mostrado mais persistente e a desaceleração econômica pode ser mais acentuada na Europa do que nos EUA”, frisa.
Em relação ao Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), o executivo aponta que a autoridade monetária americana está dividida sobre o início do ciclo de corte de juros devido a diferentes percepções sobre a economia americana. “Alguns membros veem sinais de desaceleração econômica e aumento da inflação, justificando cortes nos juros. Outros membros, mais otimistas quanto ao crescimento econômico e menos preocupados com a inflação, não consideram necessário cortar os juros no momento”, observa.
Vai pagar um prêmio menor
O economista Volnei Eyng, CEO da Multiplike, lembra que o Brasil vem sofrendo fuga de dólar e fuga de investidores na renda variável. Com a Europa pagando um prêmio menor, o fluxo de saída de investidores do Brasil tende a diminuir”, indica.
A B3 (B3SA3) informou, na manhã desta segunda-feira (3), que os investidores estrangeiros retiraram R$ 887,4 milhões na quarta-feira, 29 de maio. “Em maio, até o momento, a retirada totalizou R$ 824,759 milhões. No acumulado do ano, a saída de capital estrangeiro alcançou R$ 35,083 bilhões”, informou, em relatório.
PIB da Europa e zona do euro
Entre os estados-membros, os maiores crescimentos do PIB foram observados na Croácia e Malta (4,3%), Dinamarca (3,1%) e Eslovênia (2,6%), enquanto as principais quedas ocorreram na Irlanda (-9,1%), Estônia (-2,5%) e Finlândia (-1,8%).
Na variação em cadeia, Dinamarca (2,0%), Croácia (1,3%) e Eslovênia (1,1%) apresentaram as maiores altas, contrastando com as quedas na Irlanda (-4,3%), Estônia e Finlândia (-0,7% cada) e Alemanha (-0,3%).
Em Portugal, no quarto trimestre de 2023, o PIB cresceu 2,2% na variação homóloga e 0,8% em relação ao trimestre anterior.