De olho nos juros

COPOM vai ou não mexer na Selic? Veja variáveis que podem influenciar os juros no Brasil

Marília Fontes, analista da Nord Research, listou as quatro variáveis intervenientes que podem influenciar na política monetária

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Existe uma probabilidade, ainda que baixa, de uma alta de 0,25 p.p. na taxa básica de juros Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) e uma alta de quase 2 pontos percentuais ao longo dos próximos anos, afirmou a analista Marília Fontes, da Nord Research.

O movimento seria influenciado pela depreciação recente do real e pelas comunicações confusas do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação à necessidade de cortes de gastos públicos, de acordo com Fontes.

Para que esse prêmio fizesse sentido, o Copom já deveria dar indícios do início desse ciclo de alta na próxima reunião, e trazer para o comunicado a possibilidade de isso acontecer, afirma a analista. “Ou, pelo menos, as variáveis que fariam com que isso se tornasse mais provável”, pondera.

Mas quais seriam essas variáveis? Marília Fontes listou as quatro variáveis intervenientes que podem influenciar na política monetária.

A taxa de câmbio

    Um real a patamares muito acima de 5,5, faria com que o mercado revisasse as expectativas de inflação futura para mais próximo de 4% do que da meta de 3%. “Isso exigiria que o Banco Central retomasse o ciclo de alta para desaquecer a inflação e convergir novamente para a meta”, explica.

      Recentemente, o câmbio subiu para níveis de R$ 5,70, o que assustou bastante o mercado financeiro.

      A piora fiscal

      Fontes avalia que, caso o governo não levasse a sério a necessidade de corte de gastos, teríamos muita dificuldade para cumprir a meta fiscal do ano que vem.

      “Isso significaria não somente a descredibilização completa do arcabouço, como também uma pressão inflacionária importante. A piora fiscal também foi um dos maiores influenciadores para a desvalorização cambial”, comenta.

      Inicialmente, o governo Luiz Inácio Lula da Silva tentou controlar o fiscal por meio do aumento da arrecadação. No entanto, o impacto real acaba menor que o estimado, uma vez que os contribuintes encontram outras formas de não pagar mais tributos.

      “A tributação de fundos exclusivos, por exemplo, fez os ultra ricos saírem desses fundos e migrarem para ativos isentos, como CRIs, CRAs, Debêntures de Infra e FIIs”, relembra a analista.

      Após diversas tentativas para aumentar a arrecadação, sem o resultado final almejado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, virou meme e, finalmente, mudou o discurso para o corte de gastos.

      Emprego

      O mercado de trabalho no Brasil tem se mostrado bastante resiliente e, apesar dos juros altos e restritivos, temos visto os menores patamares de desemprego da história. 

      Um mercado de trabalho assim significa uma pressão altista nos salários, o que, por sua vez, torna a inflação de serviços mais resiliente. 

      “Os últimos dados de inflação mostram uma melhora nos preços de serviços. Todavia, se o mercado de trabalho continuar forte, essa melhora pode ser apenas temporária”, diz Fontes. 

      Juros americanos

      O Federal Reserve (Fed), o Banco Central norte-americano, tem sinalizado que pode iniciar o ciclo de queda dos juros em setembro, uma vez que os dados de inflação tem mostrado melhoras. 

      “A queda dos juros americanos reduz a pressão de alta do juro no Brasil porque reduz a pressão no câmbio. Se a Selic cai com o Fed Funds ainda em 5,5%, ela pressiona o real. Mas, se a Selic cai com o Fed Funds também em queda, o câmbio pode seguir estável”, explica.

      Uma melhora nas taxas nos EUA pode ajudar o Banco Central do Brasil (BCB) a não ter que subir os juros este ano, finaliza Fontes.

      Todas essas variáveis serão cuidadosamente estudadas pelo Banco Central até a próxima reunião. Para a próxima semana, se o comitê achar que a probabilidade maior for ter que subir novamente a Selic, vai imediatamente antecipar no comunicado pós-decisão. 

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