Na reunião marcada para esta quarta-feira, 18 de setembro, o Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central (BC) deve anunciar uma elevação na taxa básica de juros Selic para 10,75% ao ano, afirma o BTG Pactual.
Esta decisão responde a recentes surpresas altistas nos dados de atividade econômica no País, a inflação corrente com desaceleração marginal e os efeitos da taxa de câmbio, que, mesmo com a precificação de ciclos de política monetária divergentes entre o Brasil e os Estados Unidos, continuam a impactar negativamente as expectativas inflacionárias.
De acordo com o analista Álvaro Frasson, do BTG Pactual, “a elevação da taxa Selic para 10,75% a.a. parece ser a resposta adequada diante das condições econômicas atuais”.
Ele observa que os dados recentes indicam uma necessidade de ajuste na política monetária para conter as pressões inflacionárias.
Como o COPOM se comunica e o histórico de divergências entre membros robustece
Frasson destaca que a comunicação dos diretores do Banco Central (BC) já sinalizava a necessidade de um ajuste na taxa de juros, mas com diferentes intensidades.
Após a reunião de julho, Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e virtual sucessor de Roberto Campos Neto (RCN) na presidência da autarquia, afirmou que o balanço de riscos estava “assimétrico” e que a projeção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o primeiro trimestre de 2026, de 3,2%, estava “acima da meta”.
Galípolo também indicou que a reação do mercado, refletida na curva de juros, mostrava uma maior probabilidade de um aumento de +0,50 p.p..
Em contraste, RCN, declarou que “se e quando houver um ciclo de ajuste nos juros, vai ser gradual”.
Esta divergência na comunicação entre Galípolo e Campos Neto gerou uma percepção confusa no mercado financeiro, e não conseguiu desmobilizar as expectativas de um aumento mais agressivo a partir de novembro.
Frasson observa que “uma decisão unânime e, posteriormente,
discursos uníssonos serão importantes para a boa condução da política monetária”.
Hiato precisa ser reconsiderado
Frasson aponta que o hiato do produto, que o Comitê considerava até então “próximo à neutralidade”, precisa ser reavaliado.
“Com a taxa de câmbio depreciada e uma trajetória da Selic significativamente mais alta, espera-se que a projeção do IPCA para o primeiro trimestre de 2026 seja ajustada para cima”, afirma Frasson.
Ele destaca que o Banco Central deve reconhecer que a pressão inflacionária nos serviços está relacionada a uma atividade econômica que opera acima do potencial, como evidenciado pelos dados do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2024.
Para que o potencial aumento de 0,25 p.p. na quarta-feira seja hawkish (abordagem mais rigorosa e conservadora em relação à política monetária), um texto mais preocupado com a demanda doméstica vai ser fundamental para a estratégia do Comitê de Política Monetária em recomprar credibilidade, avaliou Frisson.
O conceito econômico “hiato do produto” mede a diferença entre o Produto Interno Bruto (PIB) real e o PIB potencial de uma economia.
O PIB real, por sua vez, equivale ao valor atual da produção de bens e serviços de um país, ajustado pela inflação.
O PIB potencial, por outro lado, trata-se de uma estimativa do nível máximo sustentável de produção que a economia pode alcançar sem provocar pressões inflacionárias.
Perspectivas para a Selic terminal de 2024
A previsão atual sugere que a taxa básica de juros Selic deve alcançar 11,75% ao final de 2024, calcula o BTG Pactual.
No entanto, Frasson menciona que “uma valorização potencial da moeda brasileira, seja pelo carry trade ou pela recuperação dos preços das commodities, pode reduzir a magnitude do ciclo de alta”.