Economia criativa

De Ambev (ABEV3) a Embelleze: os acordos comerciais que movimentam o Carnaval e fomentam a economia

Marcas se aproveitam do período para impulsionar negócios, e, ao mesmo tempo, ajudam blocos, empreendimentos e escolas a desfilarem na Folia

A Ambev (ABEV3) é patrocinadora oficial dos principais destinos no carnaval; Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. - Divulgação/Ambev
A Ambev (ABEV3) é patrocinadora oficial dos principais destinos no carnaval; Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. - Divulgação/Ambev

A economia brasileira já sente, desde o primeiro mês de 2024, o impacto positivo gerado pela maior manifestação da cultura popular brasileira, o Carnaval. Seja com os blocos de ruas ou as escolas nas avenidas do samba, o período marca uma alta estrondosa no faturamento e impacto sobre diversos setores.

Apesar de janeiro aquecer o comércio com o pré-carnaval, o maior montante a ser injetado na economia do País vem em apenas em 6 dias de folia. Entre os dias 9 e 14 de fevereiro, a festividade deve movimentar R$ 9 bilhões, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Somente no Rio de Janeiro (RJ), um dos principais centros da festa, a entidade estima que o período injete R$ 4,5 bilhões na economia local. 

Isso significa dizer que a região, a principal vitrine do Carnaval no Brasil, onde além de reunir grande volume de turistas, se destaca como o principal polo procurado por companhias para financiá-lo, mas também se promover.

Esse foi o caso da Ambev (ABEV3), que fechou o maior patrocínio privado da história do carnaval com a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa).

O valor do acordo não foi divulgado, mas, nos bastidores, especula-se que cada agremiação deve receber anualmente entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão

A companhia também patrocina o carnaval de rua, com investimento destinado a alguns dos mais de 450 blocos espalhados pela cidade maravilhosa.

Além da ABEV3, a Embelleze, um dos principais grupos do setor de beleza no Brasil, apostou no Sambódromo como espaço para ampliar o alcance de suas marcas e emplacou um super camarote na Sapucaí. Nessa esteira, até as casas de apostas esportivas “Bets”, entraram na corrida.

 

Qual o efeito dos patrocínios e o que motiva esse financiamento?

O potencial de exposição durante o período surge como o principal fator para marcas investirem cada vez mais em publicidade específica na festa popular.

A Brahma, marca da Ambev, por exemplo, neste Carnaval, está com suas latas de cerveja personalizadas nas cores dos pavilhões de cada escola de samba do grupo especial do Rio de Janeiro. 

As cervejas são comercializadas nas quadras das agremiações, no Sambódromo e em outros eventos carnavalescos. Além disso, desde janeiro, são realizadas campanhas de publicidade que promovem a parceria e os desfiles em diversos pontos da cidade carioca.

O mercado no carnaval é o ambiente ideal para a promoção da ABEV3. O período é capaz de impulsionar as vendas e gerar crescimento considerável no lucro da companhia.

Em 2024, a expectativa é de um retorno grandioso, já que a projeção é de que as vendas de bebidas no período cresçam 5%, apenas no Rio de Janeiro, segundo um levantamento da Kantar.

De olho nessa visibilidade, as casas de apostas esportivas também aumentaram a presença no carnaval deste ano por meio das escolas de samba do Rio e de São Paulo. 

As “bets” fecharam acordos milionários com as ligas que organizam os desfiles nas duas capitais e também estão patrocinando grandes escolas do grupo especial, como a Mocidade Independente de Padre Miguel e Beija Flor de Nilópolis.

A casa que mais pesou a mão nos investimentos foi a Pixbet, que tem ampla divulgação nas quadras, ensaios técnicos e desfiles. “Nosso objetivo principal é celebrar e apoiar eventos culturais significativos”, informou a Pixbet em comunicado, sem detalhar os acordos financeiros.

 

Embelleze e Rio Praia: o que está por trás desse gigante empreendimento na Sapucaí?

Ao mesmo tempo em que é certo o retorno bilionário que o carnaval traz para marcas e para a economia do Brasil, é fato que para colocar a folia na avenida não sai barato, inclusive para o camarote Rio Praia, um dos mais procurados na Sapucaí. O empreendimento é um sucesso! Por isso, costuma ter seus ingressos esgotados em pouco tempo, na pré-venda de 2024, o camarote deu sold out em apenas 48 horas, o que faz o espaço receber cerca de 1,200 pessoas em cada noite dos 5 dias de operação na folia.

No entanto, para acontecer, é exigido esforços milionários, como explica Bruno Português, empresário e sócio do Rio Praia: “Esse empreendimento demanda um investimento muito alto, um trabalho realizado o ano inteiro, com publicidade e enorme estrutura para manter alto o nível dos serviços e comodidade que o espaço oferece”.

Para atender essa demanda, Português ressalta que patrocinadores e parceiros são de suma importância, já que fornecem um suporte financeiro essencial, mas também uma troca de visibilidade e publicidade.

“Hoje, grandes marcas procuram o Rio Praia porque também entendem que o camarote, além de uma localização estratégica, reúne requisitos importantes para quem quer atrair clientes e negócios. É uma necessidade mútua na oferta de serviços, publicidade, uma infinidade de possibilidades”, destaca.

É o que acontece neste ano, na união de forças entre o Rio Praia e a maior multinacional de cuidados e transformação dos cabelos, 100% brasileira, a Embelleze. 

A empresa é a patrocinadora oficial do empreendimento e coloca sua marca Novex na assinatura do espaço, agora chamado de Novex Rio Praia Camarote.

Segundo Português, o saldo muito positivo do camarote em 2023, foi certamente o principal fator que atraiu o interesse da Embelleze pelo espaço na Sapucaí. 

“Tivemos um excelente resultado no ano passado, o camarote repercutiu muito em vários segmentos de mídia, com entregas maravilhosas no que se refere a público e serviço e, uma das empresas que trabalha conosco na captação, trouxe a proposta de um patrocinador master. Houve todo um processo de negociação até que conseguimos, junto à diretoria da Embelleze, trazer a Novex como nossa patrocinadora”, comenta o empresário.

Essa fusão entre Novex e Rio Praia, aumenta as expectativas de Português para o lucro do camarote, especialmente por conta do investimento, que não é pequeno. 

“Podemos dizer que esperamos um lucro proporcional ao investimento e às entregas que fazemos em termos de serviço e operação, o que pode chegar a um custo aproximado de R$ 6 milhões, disse o sócio do Novex Rio Praia, que, neste ano, conta com um time de atrações para complementar o grande espetáculo das escolas de samba. 

Além do cantor Belo, uma das atrações mais disputadas pelos camarotes da Sapucaí, o espaço terá shows de Xande de Pilares, Pixote, É o Tchan e outros.

 

Divinas Tretas e o desafio do carnaval de rua

Dissidentes do Toco-Xona, maior bloco LGBTQIAP+ do Rio de Janeiro, o Divinas Tretas é um ótimo exemplo para entender como é o processo de colocar um bloco na rua.

Este será o segundo ano que o bloco sai e corteja na principal zona de concentração de blocos da zona sul carioca, Aterro do Flamengo. E assim como no último carnaval, o Divinas Tretas encara o alto custo que desafia um bloco de carnaval. 

Segundo Luz de Lucena, cantora no Divinas Tretas, para o bloco sair na rua, é necessário grande investimento. Isso porque, o Divinas faz seu cortejo parado, com uma banda, o que demanda estruturas adicionais, como palco, PA (sistema que amplifica um sinal, por meio da famigerada "mesa" e caixas acústicas), retorno, cobertura contra chuvas e mais.

No carnaval de 2023, o bloco precisou levantar R$ 24 mil para sair na folia, o que é considerado baixo e básico para Lucena. “Um carnaval de qualidade, com boa distribuição de som, equipe de profissionais e boa estrutura; palco, banheiros e grades, demanda de R$ 40 mil a R$ 60 mil”, afirma a cantora.

Parte do montante do último carnaval foi patrocinado pela Ambev (ABEV3), que segue distribuindo recursos para o Divinas neste ano, mas não o suficiente para atingir o valor estipulado por Lucena.

“Em 2023, tivemos que tirar do nosso próprio bolso para completar. Somos 12 pessoas e é difícil captar outros patrocínios, muito pela exigência da Riotur de que, para investir no Carnaval, a marca precisa ter relação com a Secretaria de Cultura”, ressalta.

A Riotur é a empresa de turismo do Rio de Janeiro e, além da especificidade mencionada por Lucena, averigua a viabilidade da infraestrutura e elenca requisitos mínimos para a estrutura de um bloco.

Diante disso, o Divinas estabeleceu uma parceria com uma agência para captação de patrocínio. A partir disso, o bloco teve acesso à lei de incentivo aos blocos de rua, que já era de direito, mas que, por uma série de burocracias, só é acessível a quem tem CNPJ.

Além do incentivo municipal, Lucena destaca: “Tivemos acesso a outras marcas, que, com muito custo, estão tentando romper a barreira de monopólio e favorecimentos políticos praticados pelas instituições no Rio”. 

“Nesse segundo ano de parceria, conseguimos pagar nossa estrutura sem ter que depender unicamente das festas de arrecadação e de doação das próprias integrantes do bloco para conseguir pagar os custos da nossa estrutura. Já conseguimos melhorar um pouco, mas ainda há muito a conquistar”, acrescentou a cantora.

O formato de agenciamentos e livre negociação entre blocos e marcas já é uma realidade no carnaval de rua de São Paulo, o que mais se desenvolveu nos últimos cinco anos, pelo alinhamento da Secretaria de Cultura com patrocinadores e blocos de rua.

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