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Antecipação de vendas no cartão de crédito ajuda empresários a pagar as contas na pandemia

Operação cobra juros mais baixos que empréstimos bancários e acaba se tornando viável se bem planejada

- Kelly Sikkema/Unsplash
- Kelly Sikkema/Unsplash

Os últimos meses foram de extrema dificuldade para muitos donos de empresas por conta da pandemia de COVID-19. A crise sanitária que fez o mundo refém desde o começo do ano passado ainda continua trazendo consequências, principalmente para a economia. Isso porque a tão falada retomada econômica não parece acontecer com a rapidez que se imaginava, uma vez que diferentes países estão sofrendo com a alta da inflação. Diante desse cenário, muitos microempreendedores estão buscando soluções para preservar a saúde financeira de seus estabelecimentos, buscando fugir dos juros altos e evitando empréstimos bancários. Uma das alternativas encontradas é por meio da antecipação de recebíveis, uma espécie de linha de crédito que permite adiantar o recebimento do dinheiro das vendas em cartões de crédito, disponibilizando esse recurso para necessidades imediatas.

Como funciona a antecipação de recebíveis?

Quando um consumidor compra um produto e decide parcelar o pagamento em cinco vezes, por exemplo, o dono do estabelecimento pode levar até 150 dias para receber o valor total da venda. Ao se contratar uma antecipação, esse proprietário pode receber o dinheiro em poucos dias, sem precisar esperar tanto tempo.

Em contrapartida, as instituições financeiras que oferecem essa modalidade de crédito cobram taxas de juros, somadas ao IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), sobre o valor adiantado às empresas para assumirem o lugar pelo recebimento dos valores negociados.

No entanto, também há riscos. Um deles está relacionado à inadimplência. Por exemplo, se o consumidor que fez a compra não fizer o pagamento ou praticar algum tipo de fraude, algo que acabou se tornou muito comum, a responsabilidade de ressarcir a instituição financeira será totalmente da empresa que contratou o serviço. Nesses casos, o proprietário do negócio ainda poderá ter que pagar multas e juros.

Edson Silva, presidente do Grupo Nexxees – plataforma que oferece serviços de automação bancária –, explica que a “antecipação está associada a ajustes de fluxo de entrada e saída de caixa, lastreados em recebíveis com bom histórico que mitigam o risco do fundo ou banco e, com isto, tem um custo financeiro (juros) bem menor. Por isso, muitos empreendedores acabam optando por essa modalidade ao invés de empréstimos bancários”.

Essa modalidade de crédito poderá ser bastante vantajosa em 2022 diante da expectativa de aumento da utilização de cartões nas compras. “Considerando que parte dos recebíveis são antecipados e baseando-se na regra de proporcionalidade, quanto maior o volume originado em transações com cartão de crédito maior será o volume de antecipação com cartões”, explica Edson Silva.

De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), espera-se que a utilização de cartões de crédito, débito e pré-pagos tenham um aumento entre 18% e 20% em comparação com o ano passado, com o volume transacionado batendo a casa dos R$ 3 trilhões.

A empresária Laís Corrêa, dona de uma loja de roupas de pequeno porte no bairro da Água Branca, zona oeste de São Paulo, decidiu recorrer à antecipação no começo deste ano, após seu estabelecimento ficar fechado por algumas semanas devido à segunda onda da pandemia.

“No final do ano passado, mais especificamente na segunda metade de dezembro, as vendas tiveram um crescimento relativamente alto em comparação aos outros meses, com 80% delas sendo feitas via cartão de crédito e de forma parcelada. No entanto, a loja acabou ficando fechada por praticamente um mês em março, o que estava fora dos meus planos. Com isso, acabei ficando sem caixa para pagar meus fornecedores e funcionários e tive que arrumar alguma solução. Como eu ainda tinha uma grande parte para receber das vendas via crédito, optei por fazer a antecipação”, conta.

Laís explica que em troca da antecipação dos valores parcelados pelos clientes, a instituição financeira contratada cobrou uma taxa de 2,3% ao mês.

“Em parte do valor, essa taxa foi mais alta. Isso ocorre porque os juros variam dependendo do tempo da antecipação. Para até 30 dias é 2,3%, já para 60 é o dobro, 4,6%… E por aí vai. Vou te dar um exemplo prático aqui da loja, se eu tivesse R$ 15 mil para antecipar em um mês, receberia R$ 14.655. Esse mesmo valor para ser antecipado em dois meses seria de R$ 14.310”, detalha a empresária.

Em que situações é indicada?

Assim como outras linhas de créditos para empresas, como empréstimo bancário, por exemplo, a antecipação de recebíveis somente é indicada para atender necessidades e urgências.

“Antecipação de recebíveis é recomendável para ajuste de fluxo de caixa mensal e não para contrair outras dívidas de longo prazo. Normalmente, dívidas de longo prazo são linhas de crédito lastreadas em capacidade de pagamento com sobras de caixa. Antecipar está diretamente associado a um descasamento de datas no fluxo mensal e ao ajuste entre pagador e recebedor de melhores datas para que as partes possam cumprir suas obrigações minimizando impactos mensais com custo financeiro maior ou a aquisição de um bem possa se tornar mais vantajoso. O uso adequado de instrumentos de gestão de fluxo de caixa que orientam como tomar recursos através de antecipação ajudam a evitar o uso deste benefício sem que se torne um endividamento”, explica Edson Silva.

Na maioria dos casos, essa modalidade acaba sendo contratada pelos empreendedores para pagar compromissos com fornecedores, ter capital de giro para garantir o pleno funcionamento do negócio, cobrir operações com juros mais baixos e atender demandas casuais, como o quadro de funcionários.

“Na minha situação a escolha pela antecipação se tornou mais viável do que o empréstimo bancário por algumas razões. Além das taxas serem menores, a antecipação trará um dinheiro que já é meu e não de um terceiro que terei que devolver daqui um tempo. Isso sem dúvidas pesa muito para quem tem um pequeno comércio. Antes de fazer a escolha, esse foi um dos principais fatores que levei em consideração. Como vivemos em um momento de muita incerteza, nunca é bom ficar amarrado aos outros, ainda mais em instituições financeiras”, afirma Laís.

É preciso ter cuidado!

Nesse processo, um planejamento financeiro é fundamental. Diante da praticidade, muitos empreendedores passam a solicitar a antecipação com frequência, comprometendo a saúde financeira da empresa e trazendo problemas ainda maiores para o futuro.

“O uso da antecipação para cobrir furos de caixa onde, mesmo conseguindo cumprir uma obrigação abre um gap para não pagamento de outro compromisso, com isto começa a rolar e ampliar dívidas. Nestes casos, há necessidade de avaliar estes furos e os prazos e efetuar um planejamento de como pagar, garantias que pode oferecer e os prazos necessários buscando-se recursos normalmente mais caros que os da antecipação, mas quanto melhor for o planejamento e as garantias conseguirá custo ou juros menores e viáveis”, aconselha o diretor.

Esse “costume” foi evidenciado em números. Segundo a pesquisa ‘Uso da Maquininha 2021’, publicada pelo Sebrae em junho deste ano, 45% dos empresários de micro e pequenos negócios no Brasil recorrem à antecipação dos recebíveis das vendas no cartão frequentemente. Outros 18% utilizam o recurso de forma esporádica.

Além disso, outro ponto importante a se levar em consideração antes de contratar o serviço é pesquisar instituições financeiras que sejam confiáveis e reconhecidas pelo mercado, bem como suas condições.

Por fim, Edson Silva ressalta que “o uso adequado de instrumentos de gestão de fluxo de caixa que orientam como tomar recursos através de antecipação ajudam a evitar o uso deste benefício sem que se torne um endividamento”.

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