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Após fan tokens, NFTs chegam ao futebol brasileiro como nova alternativa de fonte de renda

Atlético-MG e Corinthians foram os primeiros clubes do país a entrarem nesse universo

NFTs - Sorare
NFTs - Sorare

Buscando seguir uma tendência global e do futebol mundial de cada vez mais ir atrás de fontes de renda alternativas, os clubes brasileiros decidiram entrar de fato no universo das NFTs (non-fungible tokens, ou tokens não fungíveis, em tradução livre) neste ano. Assim como ocorreu com os Fan Tokens, grande sucesso por aqui e no exterior, o Atlético-MG, em maio; e o Corinthians, em novembro, foram as primeiras equipes a lançarem suas plataformas.

“A pandemia impactou negativamente o mundo esportivo e foi bastante dura para os clubes de futebol, que já sofriam problemas financeiros em função de gestões desastrosas. As NFTs surgem, assim, como uma fonte nova de receitas, especialmente em um momento em que a venda de jogadores reduziu e os valores envolvidos nas transações também caiu consideravelmente”, afirma Rafael Marcondes, advogado especialista em direito tributário e MBA em Sport Management pelo ISDE e FC Barcelona.

Afinal, o que são as NFTs?

Na prática, trata-se de uma espécie de certificado de originalidade e exclusividade a bens digitais, tornando cada produto (físico ou digital) uma “obra única”. Isso apenas é possível graças à tecnologia blockchain (cadeia de blocos) – sistema usado para armazenar e validar informações que foi criado para eliminar a necessidade de um agente intermediário em transações financeiras e é a base de funcionamento das criptomoedas, como o Bitcoin.

Diante da globalização e da popularização das NFTs, grandes clubes do futebol mundial, como Real Madrid (Espanha), Boca Juniors (Argentina), Juventus (Itália), Bayern de Munique (Alemanha), PSG (França) e Liverpool (Inglaterra) decidiram explorar ainda mais a paixão de seus torcedores e passaram a atrelar suas imagens nesse produto.

NFTs dentro do ambiente futebolístico

No futebol, a maioria das NFTs estão ligadas a cards, que possuem imagens de jogadores. Esses cartões, que são colecionáveis e produzidos em quantidade limitada, podem ser utilizados em um fantasy game, como o popular Cartola FC — do Grupo Globo, aqui no Brasil —, ou simplesmente para coleção. No game da emissora, que é gratuito, o usuário escala 11 jogadores em cada rodada do Campeonato Brasileiro e cada um desses atletas depende das suas atuações em campo para pontuarem e, consequentemente, se valorizarem ou desvalorizarem o seu preço.

Esses cards podem sofrer variação de preço devido a diferentes fatores. Um deles é justamente por serem NFTs, ou seja, limitados e numerados. Nesse mercado, os clubes ganham em cima do valor de cada carta e também toda vez que ela se valorizar.

Segundo Bruna Botelho, CEO e fundadora do StadiumGO! Sports Invest, é difícil calcular exatamente quanto os clubes ganham com as NFTs.

“Depende dos acordos de distribuição dos lucros entre as partes, podendo contemplar o clube, atletas, software house de blockchain, marketplace blockchain e outras inúmeras partes que contribuíram para a concepção de produto NFT.  Até o momento, os clubes têm explorado mais os testes com os NFTs colecionáveis que os atos de venda. Olhando para o faturamento em 2021, de 133 milhões de dólares da Sorare — empresa focada em NFTs Colecionáveis de clubes de futebol para uso em seu fantasy-game —, percebe-se que não deve ser pouco o ganho dos clubes que aderem a essa tecnologia”, afirma.

Apesar da consolidação desse mercado no futebol europeu, muitos clubes brasileiros ainda não aderiram a esse mercado, cenário esse que deverá mudar em breve segundo Rafael Marcondes.

“Como toda novidade, especialmente tecnológica, leva tempo para que as pessoas compreendam e entendam seus prós e contras. Porém, os clubes de futebol brasileiros, que estão carentes de recursos, mais cedo ou mais tarde devem, na grande maioria, entrar nesse mercado”, analisa o advogado.

Para Bruna Botelho, a digitalização dos clubes é extremamente necessária e um caminho sem volta, uma evolução natural na maneira de se fazer negócios.

“Ao olhar os números de mercado de NFT global, [as negociações desse tipo de ativo] já atingiram o montante de 15 bilhões de dólares. Mesmo sendo um mercado recente, cresce exponencialmente. Então, creio que em pouco tempo o NFT dentro do esporte deixará de ser visto apenas como colecionável para ter uma usabilidade mais voltada à sua funcionalidade de smart contract (contratos digitais autoexecutáveis que usam a tecnologia blockchain para garantir que os acordos firmados serão cumpridos). No StadiumGO! já fazemos isso! Como FinSportech inovamos ao utilizá-lo nos setores esportivo e de entretenimento como um meio facilitador para inserir o público de varejo no ramo de investimentos rentáveis e seguros ao torná-lo o ativo que garante ao público participação nas receitas dos clubes e experiências exclusivas”, avalia.

Crescimento do mercado das NFTs no futebol

Preferida pelos clubes, a plataforma Sorare movimentou mais de US$ 150 milhões com as NFTs no futebol em 2021. Em fevereiro deste ano, a empresa registrou a venda mais alta de sua história, um cartão exclusivo de Cristiano Ronaldo, atacante do Manchester United e da seleção portuguesa, que foi negociado por nada mais nada menos que US$ 290 mil (R$ 1,5 milhão).

Há quatro categorias para os cards, que levam a imagem de um jogador: único (apenas uma unidade), super-raro (10 unidades), raro (100 unidades) e comum (ilimitado), que determinam o valor de venda de cada um deles. No Brasil, por exemplo, a carta de Guilherme Arana, lateral do Atlético-MG, é única, ou seja, existe apenas uma unidade dela em circulação. O card foi vendido por 8,7 mil euros em um leilão.

Outro exemplo de card único é o de Kylian Mbappé, jovem atacante do PSG e da seleção francesa na temporada 2020/21, arrematado por aproximadamente 55 mil euros; e o de Luis Suárez, que está em sua primeira temporada defendendo a camisa do Atlético de Madrid.

Até o momento, a Sorare já possui mais de 600 mil usuários registrados e mais de 180 organizações de futebol ao redor do mundo que já negociaram licenças com a plataforma, que agora tende a se expandir para mais países e também outros esportes.

Diferenças para os fan tokens

Apesar de muitas pessoas confundirem, é preciso ressaltar que as NFTs comercializadas pela Sorare não possuem relação com os fan tokens de plataformas como a Socios.com, ou seja, possuem finalidades diferentes. Enquanto o primeiro oferece um token colecionável que se assemelha ao tradicional álbum de figurinhas, porém digital, o segundo é uma espécie de criptomoeda, que permite a sua utilização como moeda de troca por votações e benefícios dentro dos clubes.

“São conceitos de produtos distintos. Assim como suco e chá tem a mesma base em água, mas são bebidas distintas. Explicando de uma forma mais aprofundada, NFT significa Token Não Fungível e é um criptoativo que não pode ser fracionado em diversas partes, como no caso das criptomoedas, que você pode trocá-las por outras. Então, o NFT é um tipo especial de token criptográfico que representa algo único e irrepetível. Seu código fica ligado à uma arte digital, identificando-a como a arte original e exclusiva, na qual, em seu descritivo consta a especificação e todos os direitos que o seu comprador venha a ter ao adquiri-lo, mas na máxima geral é um ativo para reserva de valor”, explica Bruna.

Em relação aos fan tokens, a especialista em criptoativos ressalta que por ser um token de utilidade, seu código não está ligado a uma arte digital, e como funcionalidade tende a ser um cripto de engajamento, que dá acesso a algumas experiências ou serviços.

NFTs são investimentos? 

Segundo Rafael Marcondes, apesar dos clubes não considerarem a venda desses tokens como investimentos, é possível ter lucro.

“Como qualquer ativo limitado, há chance de lucro. Para isso, basta que os tokens se valorizem em relação ao seu preço de venda inicial, assim como acontece com uma ação de empresa na bolsa de valores. A diferença é que em uma ação, a valorização depende do desempenho da empresa e de cenários econômicos, ao passo que com os tokens, a valorização depende de ações do clube que gerem engajamento dos torcedores. Quanto maiores os benefícios oferecidos pelos clubes, mais desejados os NFTs e os fan tokens se tornam e, por serem em um número finito, têm seu valor aumentado e podem ser comercializados em mercados secundários”, explica.

“A finalidade primária dos NFTs no futebol seria gerar utilidades aos seus detentores, e não a revenda. Esse posicionamento de clubes e parceiros evita que as NFTs sejam reguladas no Brasil pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). No entanto, em termos práticos, esses ativos têm assumido fins especulativos. Isto é, têm se mostrado investimentos decorrentes de transações com as quais se busca auferir rendimentos, demandando regulamentação pela CVM, ainda que esse não seja o interesse de clubes e parceiros emissores dos tokens”, finaliza.

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