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Economia Criativa é o segmento que enfrenta maiores dificuldades na retomada

O resultado das micro e pequenas empresas do segmento - que reúne atividades como artes visuais, artes cênicas, música, artesanato e games- está abaixo da perda média de faturamento de todas as atividades levantadas, diz Sebrae

- Marcelo Camargo/Agência Brasil
- Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Brasil ultrapassou 50% da população totalmente imunizada contra a covid-19 e o avanço da vacinação tem permitido uma retomada gradual das atividades econômicas. Apesar disso, as micro e pequenas empresas da economia criativa são as que têm tido mais dificuldades para recuperar o fôlego e as que apresentam a maior média de queda no faturamento. 

É isso o que aponta a 12ª Pesquisa de Impacto da Pandemia do Coronavírus nos Pequenos Negócios, realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada no último dia 18.

Conforme o levantamento, esse segmento registrou perdas de 64% no faturamento, uma recuperação de apenas quatro pontos percentuais se comparada com a penúltima pesquisa (maio), quando havia registrado perdas de 68%.

O resultado da economia criativa está bem abaixo da perda média de faturamento de todas as atividades levantadas, que ficou em 34%, apresentando um incremento de nove pontos percentuais em relação a maio, quando foi detectada perda de faturamento de 43%.

Mas o que é economia criativa?

De forma geral, a Economia Criativa engloba todos os negócios baseados no capital intelectual, cultural e na criatividade e que gera valor econômico. São segmentos como o audiovisual, artes visuais, animação, artes cênicas, música, artesanato, moda autoral, arquitetura e até mesmo o setor de games, por exemplo.

Jane Blandina, analista de competitividade do Sebrae, frisa que esse setor é um dos mais impactados por abarcar modelos de negócios que se sustentam em eventos com aglomeração social. Desta forma, a necessidade de vacinação de toda população é primordial para a retomada com segurança. 

Além disso, destaca ela, o fomento à cultura e apoio do governo também são fundamentais. Segundo Jane, esse setor já passava por maus bocados antes mesmo da covid-19, com a falta de incentivos públicos. 

"Havia uma queda de faturamento de 70% no setor. Na primeira edição da pesquisa, a queda de faturamento foi pior: 87%. Hoje, 1 ano e 7 meses depois, esse percentual diminuiu 20%", contabiliza.

Isso fez com que o setor voltasse para patamares anteriores à pandemia, impulsionado pelos eventos que estão retomando aos poucos com as medidas de segurança sanitária, avanço das vacinações e com aqueles que se reinventaram.

Reinventar

Com a pandemia, o verbo reinventar nunca foi tão utilizado. De certa forma, foi uma exigência para tudo e para todos. O que não significa, porém, que colocá-lo em prática seja uma tarefa fácil.  Ainda assim, continua sendo a melhor ferramenta.

"Os empreendedores do setor precisaram inovar e remodelar seus modelos de negócios. A estratégia agora é tentar fazer com que eles fiquem mais acessíveis, estruturando vendas de produtos ou serviços por meio digital", aconselha a analista. 

Para isso, é importante elaborar um bom plano de comunicação focado para as mídias sociais e estar atento aos fomentos que estão sendo publicados com as leis de incentivo, como a Lei Aldir Blanc, que foi criada especialmente para atender esta demanda na pandemia. 

A iniciativa busca apoiar profissionais da área que sofreram com impacto das medidas de distanciamento social. A verba é destinada à manutenção de espaços culturais, pagamento de três parcelas de uma renda emergencial a trabalhadores do setor que tiveram suas atividades interrompidas, e instrumentos como editais e chamadas públicas. 

"Ser empreendedor é estar sempre em busca de aprendizado e ter resiliência. A inovação vem geralmente por oportunidade ou necessidade. No caso do Brasil, a segunda opção é a mais usada, infelizmente. Mas o Sebrae pode ajudar. Temos editais de inovação para economia criativa em alguns estados do Brasil, programas de capacitação em Gestão e diversos cursos em EAD gratuitos no nosso site", indica Jane. 

Ela ainda afirma que é importante aproveitar o momento parado, ou com os negócios ainda caminhando a passos lentos, para reciclar os conhecimentos e se atualizar a respeito do mercado em que atua. E foi exatamente isso o que fez o empreendedor paulista Otávio Brandão.

Superação

Otávio é proprietário da Eshows, um marketplace para contratação de artistas e os principais clientes são bares e restaurantes. "A gente oferece, além da facilidade de encontrar o artista, também ações para facilitar todo o processo de contratação e gerenciamento das apresentações", explica.

Antes da pandemia, o negócio tinha um faturamento girando em torno de R$ 40 mil mensais, com investimentos recorrentes em tecnologia para agilizar cada vez mais os procedimentos. Porém, a pandemia silenciou os shows e apagou as luzes dos palcos, levando a Eshows a zerar o faturamento. 

"Tivemos que rever todos nossos conceitos. Ao invés de fazer as lives com os artistas, resolvemos focar no que a gente sabia fazer de melhor, que era resolver os problemas de bares e restaurantes. Nós tínhamos uma certeza: que em algum momento tudo iria voltar. Então, nosso foco foi se preparar para voltar mais forte", relembra Otávio.

A equipe passou, então, a revisar todos os procedimentos e custos. Focaram em se aproximar mais dos clientes e entender a necessidade de cada um deles. E, assim como em outros setores, a pandemia incentivou que eles expandissem geograficamente a própria atuação

"A pandemia foi fundamental para nossa estratégia de expansão. Fez com que a gente percebesse que podíamos ir além e criar novas estratégias. Por exemplo: quando São Paulo fechou, Fortaleza estava aberta para shows. Isso fez com que não dependêssemos de apenas uma região. E o principal: focamos naquilo que a gente sabia fazer".

As estratégias deram certo e agora, nessa retomada, a Eshows conseguiu elevar o faturamento mensal para mais de R$ 100 mil.

Outro lado da moeda: Turismo

O turismo, que era uma atividade que sempre apresentava uma queda média de faturamento semelhante ao da economia criativa, já demonstra sinais de recuperação. 

“Assim como a economia criativa, na pesquisa que realizamos em maio, o turismo apresentava uma queda média de faturamento de 68%. Já nessa 12ª edição, ele apresentou uma queda de 48%, uma diferença de 20 pontos percentuais”, revela o presidente do Sebrae, Carlos Melles.

Melles enfatiza que a recuperação do Turismo foi a maior detectada em pontos percentuais pela pesquisa quando comparada com as outras atividades e que isso pode ser reflexo de uma demanda que há muito tempo estava reprimida e de constantes processos de digitalização que as empresas desse segmento realizaram para se manter no mercado. 

“É provável que o turismo tenha desempenho ainda melhor nos próximos meses. Com a chegada de feriados prolongados, festas de fim de ano, verão e Carnaval, as pessoas já começam planejar suas viagens e a efetivar contratos e reservas”, salienta. 

Mais detalhes

Apesar da melhoria do turismo, ele continua sendo a segunda atividade mais afetada (depois da economia criativa), seguida pelo artesanato (-47%), beleza (-44%), e serviços de alimentação e logística e transporte, ambos com perdas de 41% do faturamento.

A 12ª Pesquisa de Impacto da Pandemia do Coronavírus nos Pequenos Negócios ainda revela que apenas a Indústria de Base Tecnológica e os pet shops e veterinárias representaram uma piora no quadro do faturamento de -29% para -36% e de -30% para -32%, respectivamente. As atividades menos afetadas são o agronegócio (-8%), energia (-9%), saúde (-15%), serviços empresariais (-23%) e serviços pessoais (-26%).
 

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