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Pandemia afeta a renda de jovens adultos: que alternativas seguir e o que evitar?

Segundo assessor de investimentos da Blue3, a falta de educação financeira agrava cenário para o rendimento das pessoas que têm entre 25 e 39 anos, mas há soluções que podem ser imediatamente tomadas

- Freepik
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As pessoas que têm entre 25 a 39 anos foram as mais afetadas pela pandemia de Covid-19 no Brasil. Os denominados “jovens adultos” viram seus rendimentos efetivos reais médios caírem 3,2% no segundo trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2020, de acordo com estudo divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) no mês passado, com base nos resultados da PNAD Contínua.

O desemprego e a escalada da inflação são alguns dos fatores que impulsionam esses resultados negativos, mas a deficiência da educação financeira no Brasil condiciona não apenas aos jovens, mas a pessoas de todas as faixas etárias a viverem com ainda mais dificuldade.

Eric Barros, assessor de investimentos da Blue3, afirma que o grande problema para as finanças pessoais dos brasileiros se encontra na falta de base de formação escolar. “O MEC (Ministério da Educação) até aprovou recentemente um programa de educação financeira para ensino fundamental e médio e eu espero que isso gere um reflexo positivo muito grande para quem for chegar aos 25 anos mais à frente”, diz. 

Na avaliação de Barros, as pessoas que estão nessa faixa etária, hoje, podem tomar algumas medidas para se prevenir de alguns prejuízos mais comuns e evitar, assim, a entrada em estatísticas negativas. 

“Quando você chega ali aos 25 anos, você geralmente já terminou sua faculdade. Daí a gente começa a ter renda própria, você começa a assumir suas contas, já saiu da casa dos pais. Mesmo que o salário e o rendimento mensal não sejam tão expressivos, antes mesmo de pensar em investir, comece a adequar os seus custos a sua renda”, recomenda.

Negocie suas contas fixas

Para isso, o primeiro passo, segundo Barros, se trata da negociação de todas as suas contas fixas. “Nesse momento de crise, até meus clientes que têm um bom patrimônio fazem isso”, diz. “Se você renegocia todos esses custos que precisam ser honrados, se eles já couberem no seu orçamento, já sobra uma parte para poupar ou investir”, acrescenta.

Forme uma reserva de emergência

Nós não podemos falar de segurança financeira sem mencionar a reserva de emergência. Muitas pessoas têm dificuldade de fazê-la. Barros acredita que, para se garantir caso haja um imprevisto, o ideal seja garantir uma reserva entre seis e doze meses de ganhos mensais porque “elas são muito importantes para proteger um indivíduo em momentos de instabilidade”.

Ou seja, se você gasta em torno de R$ 1.000 por mês com despesas obrigatórias, sua reserva deve ser em torno de R$ 6 a R$ 12 mil. Isso significa que, caso você perca o seu rendimento, com esse valor você conseguiria se manter de seis até doze meses seguintes. Para que a reserva esteja bem montada, Barros recomenda que os gastos desnecessários sejam reduzidos.

Saiba bem onde e em que você investe

Com a negociação das suas contas fixas e a reserva de emergência elaborada, para te dar um conforto em momentos difíceis, você pode planejar os seus investimentos. Mas com atenção, estudo e muita paciência.

Barros afirma que ainda vê muitas pessoas investirem seus recursos em muitos ativos que sequer conhecem. “E investem sem saber o que se passa pelo mercado do investimento, o que eles têm de liquidez, quanto tempo eles demoram para serem disponibilizados. ‘Se resgatar antes, posso ter prejuízo ou não?’ São algumas das perguntas que devem ser feitas”, diz.

“Por exemplo, imagine que você esteja desempregado ou num emprego que não lhe paga bem e ainda se expõe ao risco dessa maneira e decide investir alguma parte do seu dinheiro em um ativo cuja liquidez ocorre daqui a 30 dias. As chances são muito maiores de perder uma parte do dinheiro e ele vai demorar a ficar disponibilizado”.

Quanto a investimentos, não existe solução mágica. “Você precisa entender o seu perfil de investidor” – se conservador, moderado ou agressivo, para diversificar a sua carteira conforme a sua tolerância ao risco. “Num momento de necessidade de resgate de algum investimento, você pode ter o produto certo que forneça a liquidez rápida e que preferencialmente não te dê um prejuízo no momento difícil que você passa”, conclui.

Não consigo mais manter todos os ativos da minha carteira. O que fazer?

Imprevistos como a perda de rendimento mensal podem acontecer com qualquer jovem investidor. A diferença, entretanto, está na resposta que ele procura para assegurar os recursos que já conquistou.

Barros avalia que existe uma ordem possível de investimentos a serem descontinuados em favor de outros, num momento de eventual crise que o investidor passe.

“Caso você esteja neste momento, fuja – ou abra mão – de produtos que têm um prazo muito longo. Normalmente, quando você resgata o valor, você tem um deságio muito grande, ou seja, você vai receber bem menos do que investiu”, alerta.

Outros são interessantes de serem mantidos na sua carteira de ativos. “Vamos supor que a reserva de emergência acabou. O que eu vou acessar? Minha carteira diversificada. Vou atrás dos meus investimentos que têm liquidez mais rápida e o que não tiver prejuízo e um pouco de lucro, obviamente, para não perder o volume do seu dinheiro”.

“Há os fundos de investimento, o Tesouro Direto têm liquidez super rápida também. Alguns D+0 (quando a aplicação pode ser resgatada no mesmo dia) ou D+1 (quando o resgate pode ser efetuado em um dia útil após a solicitação). Produtos de renda fixa como CDBs, LCIs e LCAs, desde que tenham liquidez – os mais longos não têm – e produtos de renda variável”, elenca Barros.

Barros ressalta que os produtos de renda variável, geralmente negociados na Bolsa, têm liquidez dois dias após a aplicação, desde que não haja um prejuízo muito expressivo no ativo. “Vamos supor que você tem uma ação que tenha lucro e você está em uma situação emergencial, aquele dinheiro vai cair rápido na sua conta. E pode ser uma boa opção para você resgatar”, conclui.

Como não deixar o hoje afetar meus investimentos de longo prazo

Poupar recursos para a aposentadoria precisa estar entre os seus objetivos. Com a previdência social do governo federal cada vez mais deficitária, você precisa garantir a sua renda para poder parar de trabalhar em algum momento de forma que o seu padrão de vida não seja prejudicado.

Entretanto, em momentos de perda de rendimento, as opções para a manutenção desse objetivo tendem a ser limitadas, mas Barros acredita que um certo rigor do investidor, na hora de reavaliar seu orçamento, pode evitar dor de cabeça lá na frente. “Os produtos de longo prazo que o meu planejamento decidir que estão para a aposentadoria não devem ser mexidos agora e são, com certeza, as últimas opções”.

Não existe milagre quando se fala de investimentos

Quando tão jovens as pessoas já passaram a encarar dificuldades como a perda de rendimento mensal, elas tendem a ser seduzidas por promessas de ganhos extraordinários. 

Barros alerta: “Não existe milagre quando se fala de investimentos. Existe muito trabalho, muita pesquisa e não existe rentabilidade absurda. Aliás, não existe a possibilidade de prometer rentabilidade. Não há como alguém prometer pagar valor X durante determinado tempo. Isso não existe. Não há como prometer algo assim quando se fala de investimentos”.

De acordo com o assessor, nem com a adesão a produtos com risco mais baixo isso pode ser prometido. “Nem na renda fixa, com exceção de títulos pré-fixados, a gente consegue prometer rentabilidade em 100%.” Ele alerta para o perigo das fraudes que envolvem as criptomoedas e outras atividades que prometem lucros expressivos por meio de transações digitais:

“Quando falamos de criptoativos – ainda que pareça super promissor, já que alguns ativos como o Bitcoin são famosos -, falamos de um mercado ainda pouco regulado, que oscila demais. As movimentações são muito bruscas. Então, se alguém promete rentabilidade atrelada a criptoativos, fuja. Isso fica mais impossível ainda. Qualquer promessa de rentabilidade, pode ter certeza de que há alguma coisa errada”, conclui.

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