Após os primeiros ataques da Rússia à Ucrânia, lideranças mundiais, como os presidentes dos EUA e da França, Joe Biden e Emmanuel Macron, os primeiros-ministros do Reino Unido e da Alemanha, Boris Johnson e Olaf Scholz, e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, a todo o momento atualizam ao mundo informações sobre a guerra, tentam negociar e anunciam novas medidas para tentar desmobilizar a ação autorizada pelo presidente russo Vladimir Putin.
Porém, ainda não há perspectiva para o final do conflito, que pode trazer novas consequências para o mercado e, eventualmente, desempenhos negativos para as bolsas ao redor do mundo.
Para quem tem ações na B3, a bolsa de valores brasileira, o planejador financeiro Fabio Murad, Co-CEO da SpaceMoney, indica algumas estratégias que podem ser usadas para defender a carteira de renda variável diante do cenário de incertezas trazido pelo possível conflito. “A primeira estratégia, mais simples, seria diminuir posição em bolsa, vendendo algumas ações do portfólio. Mas, caso o investidor decida manter, ele pode trocar papéis mais voláteis que ele têm pelo de empresas de setores resilientes, como de energia, saneamento básico ou bancos, que não costumam sofrer grandes impactos por conta do cenário externo”, destaca.
Já para quem tem mais experiência com renda variável, Murad cita o mercado futuro como um caminho possível de estratégias defensivas para os investidores.”Um mecanismo interessante de proteção é a utilização de derivativos, como opções de compra e de venda, que podem tanto servir para diminuir o custo de aquisição dos papéis quanto para criar um ‘seguro’ contra a desvalorização”, explica.
Contudo, lembra Fabio, o importante é contar com o apoio de um profissional experiente para se obter os melhores resultados. “Um assessor financeiro poderá desmistificar as opções e trazer os caminhos mais interessantes de acordo com a composição da carteira do cliente”.
Vozes do mercado comentam
Na última semana, SpaceMoney também foi ouvir especialistas do mercado para entender como essa situação pode afetar os investimentos. Confira:
“Temos visto um comportamento mais desafiador nos últimos dias entre Rússia e Ucrânia e, também, em relação a Estados Unidos e à União Europeia”, pontua Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos.
Agora, o mundo inteiro está de olho no desenrolar desta situação. Porém, em uma eventual invasão, o principal risco para investidor brasileiro fica muito associado à alta do petróleo, afirma o analista da Terra.
“Os russos são grandes exportadores de petróleo e poderiam fazer o preço subir e isso para o Brasil poderia complicar ainda mais a pressão em relação aos combustíveis, inflação e à questão fiscal”, explica.
Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, concorda. Segundo ele, um possível conflito abriria caminho para sanções à Russia que, como retaliação, poderia bloquear as ofertas de petróleo.
“Isso catapultaria os preços do petróleo, além do que já estamos vendo e, claro, teria impacto também sobre os preços de energia, de forma geral, e sobre a inflação que está bastante alta e teve como vilões os próprios custos de petróleo e gás”, detalha.
Beyruti também avalia um possível impacto sobre o crescimento global, motivado por um natural protecionismo adotado pelas nações diante de embargos, sanções e posicionamentos políticos.
“Tudo isso acaba afetando negativamente o crescimento global. E esse movimento que incentiva alta de juros e inflação elevada tende a prejudicar ativos de risco de forma generalizada”.
Investimentos
Diante de tanta tensão e dúvidas, pensar em estratégias para proteger o patrimônio é a principal preocupação entre os investidores.
Para Chinchila, essas proteções podem ser feitas através do dólar e do ouro. Isso porque como parte do movimento de busca por segurança está o fortalecimento da moeda americana. Assim como os títulos soberanos, o dólar é visto como um porto seguro de investidores ao redor do mundo. Em partes, o mesmo acontece com o ouro.
Buscar empresas exportadoras que tenham comportamento muito atrelado ao dólar também é uma alternativa. “Empresas de papel e celulose, normalmente, servem de proteção”, afirma.
Outras opções
Dentro desta perspectiva de buscar a proteção no dólar, Beyruti avalia que títulos denominados na moeda, como os próprios títulos do governo americano, também podem ajudar.
Fora isso, voltar-se à renda fixa é uma das principais dicas. “Aqui no Brasil poderíamos arriscar alguns títulos pós-fixados, na expectativa de que uma inflação mais forte poderia impulsionar os juros. Até porque temos uma situação fiscal bastante delicada com um o ano eleitoral”, considera.
Outra alternativa podem ser os títulos indexados à inflação como o Tesouro IPCA+, debêntures de empresas sólidas com vencimento a médio prazo e fundos de indexados à inflação.
“Mas essa situação entre Rússia e Ucrânia é, de uma forma geral, uma situação negativa para todos os ativos por afetar a economia global”, finaliza o economista da Guide.
Impacto nas criptos
Leonardo Jaguaribe, MBA em Ações & Stock Picking (IBMEC) e fundador da Cripto Holder, escola de educação financeira, acredita que a tensão entre Rússia e Ucrânia e um possível aumento de juros serão um teste para que bitcoin continue provando força.
"Enquanto a situação do conflito estiver quente, a oscilação das bolsas é inevitável. Mas o bitcoin ainda continua sendo uma opção de reserva de valor, mesmo com as quedas. Lembrando que, no início da pandemia, também existiu uma forte correção que foi recuperada. Saber gerenciar os riscos é fundamental", afirma.
Ainda com a volatilidade presente e possibilidade de conflito, Tasso Lago, gestor de fundos privados em criptomoedas e fundador da Financial Move, acredita que o bitcoin deve chegar a US$ 100 mil dólares ainda em 2022 e alerta também para cuidados que o investidor deve ter.
"Muitos investidores, em uma queda, ficam assustados e paralisados. Quando se está com medo, é que é a hora de comprar. Não adianta esperar o bitcoin bater os US$ 80 mil para resolver comprar porque a euforia é grande e se entra mal posicionado quando o foguete está subindo. Quando existe uma queda apocalíptica e pessoas desesperadas, é momento de comprar, mas o mercado é muito emocional".
Entenda o conflito
Nas últimas semanas, o mundo tem acompanhado uma escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia. Atualmente, cerca de 100 mil soldados russos estão posicionados na fronteira entre os dois países e, segundo órgãos de inteligência dos EUA, uma invasão ao território ucraniano deve acontecer "a qualquer momento", fato que a Rússia nega.
Neste domingo (20), em carta enviada à alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, os Estados Unidos (EUA) dizem ter informações de que Moscou está criando listas de ucranianos “a serem mortos ou enviados para campos” após ocupação militar. O Kremlin rejeita a acusação e afirma que é “mentira absoluta”.
Por ora, o mundo segue tentando saídas diplomáticas que evitem o conflito. Moscou, porém, dá sinais de que só recuará se tiver sua principal demanda atendida: a garantia de que a Ucrânia não passará a integrar a União Europeia ou a OTAN, o que daria à aliança militar composta por diversos países ocidentais (inclusive os EUA) um acesso direto ao território russo.