Moedas lastreadas são aquelas cujo valor é garantido por um ativo físico ou tangível, como ouro, prata ou outras commodities. Elas emergiram em um contexto histórico em que as nações buscavam formas de assegurar o valor de seu câmbio. A prática não apenas oferecia segurança aos detentores, mas também estabelecia padrões monetários reconhecidos internacionalmente.
Com o passar do tempo, o sistema monetário global evoluiu, abandonando gradualmente o lastro. O dólar norte-americano, lastreado em ouro durante grande parte do século XX, desempenhou um papel crucial nessa transição. Essa maneira permitia a conversão de outras moedas em dólares e, subsequentemente, a conversão de dólares em ouro, estabelecendo o dólar como um ativo de reserva internacional e proporcionando estabilidade aos mercados globais.
Em 1971, o fim do lastro em ouro marcou uma mudança significativa para o dólar, que se tornou uma moeda fiduciária. Seu valor passou a basear-se na confiança no governo dos Estados Unidos e em sua capacidade econômica, em vez de estar atrelado a um ativo físico. Essa transformação trouxe maior flexibilidade monetária, permitindo que o governo dos EUA implementasse políticas mais adaptáveis às necessidades econômicas. No entanto, também introduziu novos desafios e responsabilidades na gestão monetária.
Processo e particularidades das moedas lastreadas
O processo de lastreamento envolve a manutenção de um estoque do ativo em questão, que serve de garantia para a emissão da moeda. Isso significa que, teoricamente, cada unidade em circulação pode ser convertida no lastro correspondente.
Um benefício adicional é a redução do risco de inflação, já que a emissão de moeda está limitada à disponibilidade do ativo de lastro. Isso pode prevenir a superprodução de capital e a consequente desvalorização.
Além disso, a confiança no valor estável pode facilitar o comércio internacional e atrair investidores que buscam segurança em economias voláteis.
A transparência no processo de emissão e a necessidade de manutenção de reservas significativas são pontos de destaque. Fábio Murad, sócio-diretor da Ipê Investimentos explica: “A autoridade monetária deve ser capaz de demonstrar que possui os ativos necessários para sustentar a quantidade de moeda em circulação. Isso requer uma gestão cuidadosa das reservas e pode envolver custos adicionais para a aquisição e armazenamento dos ativos de lastro”.
Por outro lado, as moedas lastreadas também apresentam desvantagens significativas. Primeiramente, a rigidez do sistema pode restringir a capacidade do governo de responder a crises econômicas.
Em segundo lugar, os custos de manutenção das reservas podem ser substanciais, envolvendo despesas com armazenamento, segurança e gestão dos ativos. Por fim, a dependência de um único ou conjunto limitado de ativos pode tornar a economia vulnerável a flutuações no valor desses ativos, potencialmente desestabilizando todo o sistema monetário.
Stablecoins
Atualmente, as stablecoins são um exemplo moderno de ativos lastreados, embora operem em um cenário digital. Essas criptomoedas são projetadas para manter um valor estável, geralmente vinculado a uma moeda fiduciária, como o dólar americano, ou a um ativo físico. “O lastro proporciona segurança e estabilidade, características desejáveis em um mercado de criptomoedas conhecido por sua volatilidade”, explica o especialista.
O funcionamento delas baseia-se na manutenção de reservas que correspondem ao valor da cripto em circulação. Por exemplo, para cada unidade de stablecoin emitida, a entidade emissora mantém um valor equivalente em um ativo de reserva. Isso assegura que os detentores possam, teoricamente, resgatar seus investimentos a qualquer momento, oferecendo uma camada de confiança similar às moedas lastreadas tradicionais.
As stablecoins têm ganhado popularidade devido à sua capacidade de combinar a estabilidade das moedas tradicionais com a eficiência e inovação das criptomoedas. Elas são particularmente atraentes para transações internacionais e para o uso em plataformas de finanças descentralizadas (DeFi), onde a estabilidade do valor é crucial. No entanto, o sucesso das stablecoins depende da transparência e da confiança nas entidades que mantêm as reservas, o que continua sendo um desafio em um setor ainda em desenvolvimento.
Próximos passos
As implicações futuras estão profundamente ligadas ao avanço das tecnologias de blockchain, criptomoedas e à crescente digitalização do dinheiro. A ascensão das criptomoedas e das stablecoins, em particular, desafia o domínio das fiduciárias ao oferecer alternativas descentralizadas, que prometem maior transparência, segurança e controle pessoal sobre os ativos.
Nesse contexto, a demanda por moedas lastreadas pode crescer, à medida que investidores e consumidores buscam ativos que ofereçam segurança tangível em um mundo financeiro cada vez mais digital e volátil. “As futuras decisões regulatórias e a evolução tecnológica determinarão se veremos um retorno ao lastro em algum formato ou se as moedas fiduciárias continuarão a dominar, adaptando-se às novas realidades econômicas”, finaliza Murad.