O CEO do Carrefour (CRFB3), Alexandre Bompard, anunciou que a varejista se comprometerá a não comercializar carnes provenientes dos países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), independentemente dos preços e das quantidades oferecidas por esses países.
A decisão foi tomada após intensos protestos de agricultores franceses contra o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, que geraram bloqueios de rodovias e atos de protesto organizados pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas (FNSEA) e pelos Jovens Agricultores (JA).
A carta, endereçada a Arnaud Rousseau, presidente da FNSEA, destaca o desânimo e a indignação dos agricultores franceses, que temem a concorrência com carne proveniente de países que, segundo eles, não atendem aos rigorosos padrões de produção exigidos pela França.
Bompard ressaltou que o acordo representaria um “risco de a produção de carne que não cumpre com seus requisitos e padrões se espalhar pelo mercado francês”.
O CEO do Carrefour também afirmou esperar que sua decisão influencie outras empresas do setor agroalimentar, especialmente aquelas atuantes no mercado de catering, que representa mais de 30% do consumo de carne na França.
Embora a decisão tenha gerado forte repercussão, o Grupo Carrefour Brasil esclareceu que a medida não afetará suas operações no país. A empresa de varejo de origem francesa reafirmou seu compromisso com o mercado brasileiro, mantendo suas práticas comerciais.
Governo brasileiro critica postura do Carrefour
O anúncio do Carrefour foi prontamente criticado pelo ministro da Agricultura do Brasil, Carlos Fávaro, que chamou a decisão de “ação orquestrada” contra o Brasil por parte de empresas francesas.
Fávaro expressou indignação com a postura do Carrefour, acusando a companhia de apresentar uma visão distorcida da produção brasileira.
“Não faz sentido achar que é coincidência”, afirmou o ministro, citando um episódio recente envolvendo a Danone, que deixou de comprar soja do Brasil em antecipação à lei antidesmatamento da União Europeia. Para Fávaro, a decisão do Carrefour visa minar o acordo Mercosul-União Europeia, manipulando a narrativa em torno da produção de carne brasileira, que, segundo ele, é “sustentável e exemplar.”
Fávaro também lamentou o tratamento da França em relação à produção brasileira, ressaltando que seria “o último a apontar defeitos na produção francesa”, mas não poderia aceitar o que considerou um desrespeito à soberania do Brasil.