Criptomoeda

Bitcoin: o que vem depois do rali de 2020?

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Por Ana Julia Mezzadri, da Investing.com – O Bitcoin passa por um forte rali iniciado em setembro, batendo máximas históricas em sua cotação em reais e em dólar, ultrapassando a barreira psicológica dos R$ 100 mil e dos US$ 20 mil em sua cotação. Diante desse cenário, o mercado começou a se questionar sobre o que vem pela frente: uma grande queda, como depois do rali de 2017, consolidação ou continuação das altas.

O rali de 2020 tem uma particularidade: ele foi impulsionado por investidores institucionais, e não pelo varejo, como anteriormente. “Em 2017 foram vários os sinais de que havíamos chegado em um momento de varejo, de todo mundo comprando, uma coisa meio irracional”, explica Rudá Pellini, chefe de business development da Wise&Trust.

Agora, um movimento inédito de entrada de grandes investidores institucionais está tomando conta do mercado de criptomoedas. Há poucos meses a MicroStrategy (NASDAQ:MSTR) foi a primeira empresa listada em bolsa a fazer uma grande compra declarada de Bitcoins.

“Acho que chegamos em um momento de alguma maturidade do Bitcoin, de modo que grandes investidores, grandes fundos e empresas listadas em bolsa tiveram a coragem de fazer grandes movimentos no sentido de alocar seus recursos em Bitcoin”, explica Fabrício Tota, diretor do Mercado Bitcoin.

As medidas de injeção de liquidez dos bancos centrais ao redor do mundo parecem ter colaborado com esse movimento. “As pessoas estão entendendo que comprar Bitcoin pode ser um jeito de se proteger”, afirma Pellini, que complementa com a hipótese de que a percepção de risco em torno do criptoativo mudou muito de uns anos para cá: “Não comprar parece mais arriscado do que comprar e ter um prejuízo por conta da volatilidade.”

“Foi uma tempestade perfeita”, diz Tota. “O Bitcoin sempre teve essa característica de escassez digital, e a reação dos bancos centrais à pandemia, injetando liquidez na economia, fortaleceu muito a posição desse ativo enquanto proteção para uma inflação e para uma desvalorização das moedas”, explica.

Há ainda dois outros motivos, apontados por Daniel Coquieri, COO do Bitcoin Trade: o halving, ajuste na rede do Bitcoin e que reduz pela metade a recompensa dos mineradores, reduzindo a oferta e empurrando o preço para cima; e a regulamentação, que tem avançado e permitido que os grandes players institucionais entrem no jogo cripto.

“Em 2017, tivemos uma alta absurda de alguns dias ou semanas em que o Bitcoin foi de US$ 2 mil para US$ 20 mil. Agora não, ele vem tendo uma alta muito mais consistente. Dá para compreender que são momentos diferentes”, resume Coquieri.

Bitcoin: o “ouro millennial”?

Assim como o Bitcoin, também os movimentos do ouro neste ano foram influenciados pela crise e pela injeção de liquidez por parte dos bancos centrais. O metal amarelo ultrapassou a barreira psicológica de US$ 2.000 a onça-troy pela primeira vez em agosto.

“Quando chegou a pandemia, o que vimos foi uma realização muito forte no ouro. Mas não ocorreu uma mudança de fundamentos. O que aconteceu foi que todos os ativos caíram, e os investidores acabaram realizando os ganhos que tinham no ouro para fazer liquidez frente às perdas em outras classes de ativos. Foi um movimento puramente técnico”, diz Mauro Orefice, diretor executivo do banco digital BS2. Depois disso, com a injeção de liquidez maciça pelos bancos centrais, o ouro superou rapidamente para os patamares de preço em que estava, chegando perto de US$ 2.100.

“Em janeiro, com o vírus na China, a bolsa caiu 1,6%. O ouro subiu 7%. Em fevereiro as coisas ficaram piores e a bolsa caiu 8%. O ouro subiu 5,5%. Em março foi decretada a pandemia pela OMS. Catástrofe mundial, no Brasil mais ainda. A bolsa caiu 29,9% e o ouro subiu 15%. Aí começamos a ver a fuga para o ouro, o porto seguro”, explica Carlos Heitor Campani, professor do Coppead e colunista do Investing.com Brasil.

“O Bitcoin e o ouro têm essa função de diversificação e andam meio juntos”, diz Orefice. “Eu acho que os dois vão continuar tendo essa função de diversificação nas carteiras.” Coquieri concorda: “Em momentos de crise ou de muita liquidez de dinheiro, os investidores vão para ativos com correlação de escassez, como ouro e Bitcoin, e fazem um hedge.”

“O Bitcoin continua sendo uma opção do que eu chamo de verdadeira diversificação. Se você investir em diversas ações você está diversificando, mas continua restrito ao universo de ações. O Bitcoin está completamente descorrelacionado. É diferente de um hedge cambial, por exemplo. É um hedge contra a desvalorização de moedas como um todo, e não contra um ativo específico”, explica Tota.

Outra característica que conta a favor do Bitcoin como ativo de proteção é a escassez, criada digitalmente. “Você se protege justamente porque ele replica essa ideia da escassez, de forma digital, que o ouro implementa de forma natural”, explica Tota.

Por ser produzida digitalmente, a escassez do Bitcoin é previsível, o que também conta a favor da moeda. “No Bitcoin, sabe-se claramente quantidade de emissão dia após dia, e isso te permite planejar. Quando falamos de moedas fiduciárias, não dá para planejar nada”, explica Coquieri.

A visão do Bitcoin como ferramenta de proteção de carteiras é amplamente defendida pelos investidores mais assíduos das criptomoedas. Mas não é unanimidade.

“As criptomoedas em geral têm um comportamento diferente do ouro. O ouro é um ativo bem compreendido, muito estabilizado. Já as criptomoedas não, elas têm um risco muito alto. As pessoas buscam o ouro como reserva de valor. E ainda não é natural que as pessoas busquem as criptomoedas como porto seguro. Os investidores veem as criptomoedas como uma grande aposta”, relata Campani.

Para Pellini, a maior barreira para uma maior popularização das criptomoedas é a tecnologia, “conseguir evoluir do ponto de vista de tecnologia para ser uma coisa fácil de ser transacionada, fácil de ser armazenada e fácil de ser negociada”.

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