Oferta pública inicial

Investir em IPO é como "minerar embaixo da terra", dizem gestores; conheça riscos

O assunto foi pauta de um painel organizado pela Genial Investimentos nesta quinta-feira (22)

- Jcomp/Freepik
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Por Ana Julia Mezzadri, da Investing.com – O recente boom de IPOs na bolsa de valores brasileira trouxe consigo um forte debate sobre esse tipo de investimento, sempre carregado de dúvidas. O assunto foi pauta de um painel organizado pela Genial Investimentos nesta quinta-feira (22), que contou com Carlos Eduardo Rocha, CEO da Occam, Leonardo Linhares, CIO da SPX, e Marcelo Magalhães, da Tork Capital.

Uma coisa parece ser consenso entre os especialistas: investir em IPOs é mais arriscado do que investir em empresas já listadas. Rocha classifica o investimento nessas ofertas como “minerar embaixo da terra”, visto que os fundamentos e o histórico da empresa não estão expostos.

É nesse conceito que se concentram as principais dificuldades desse tipo de investimento. Apesar de disponibilizar balanços auditados, as empresas que passam por ofertas iniciais não têm um histórico público como as listadas.

Além disso, a gestão da companhia não é tão conhecida. Linhares aponta que, entre os pontos estudados por ele antes de um IPO, “olhamos quem são as pessoas por trás, porque, no final das contas, vamos ficar sócios dessa pessoa”.

Um ponto muito importante para decisões de investimento, que também é difícil de identificar em IPOs, é o comportamento da empresa ao longo dos diferentes ciclos econômicos.

Também é fundamental, de acordo com os especialistas, ir além das informações da própria empresa. Uma das maneiras de fazer isso é conversando com os concorrentes. Isso porque, ao longo das apresentações, os vendedores e a própria empresa tendem a pintar uma imagem positiva. “É preciso ter capacidade crítica muito boa para que suas convicções estejam corretas”, diz Rocha.

Assim, nas palavras de Magalhães, “você tem que tentar validar o que você escutou e os pontos que você levantou com concorrentes, clientes, fornecedores e pessoas que já trabalharam na empresa.”

Por ser difícil de monitorar um histórico, uma estratégia, apontada por Magalhães, é procurar empresas com vantagens competitivas, que podem vir de inúmeros fatores, como escala, distribuição etc. Outro ponto importante é buscar por empresas que demonstrem resiliência.

Em termos práticos, Rocha compartilha que, na Occam, alguns critérios de escolha são crescimento de geração de caixa de pelo menos 10%, retorno sobre investimento de pelo menos 15%, gestão superior e qualidade superior em pelo menos nove aspectos considerados.

Considerando todos esses aspectos, todos os gestores concordam que, antes de entrar em um IPO, é necessário muito estudo e muito cuidado. “O que procuramos fazer é tentar, sempre que possível, estar em contato com as empresas candidatas muito antes do processo iniciar de fato”, explica Magalhães.

“A possibilidade de erro, para cima ou para baixo, tende a ser maior, então o prêmio que você deve pedir deve ser um pouco maior também”, diz Linhares.

Para pessoas físicas, investir em IPOs pode ser ainda mais difícil, considerando a menor experiência e menos recursos disponíveis. “A dificuldade maior vai ser avaliar se o ativo está caro ou barato, principalmente negócios digitais, que muitas vezes pedem formas de olhar que não são pelas métricas tradicionais”, diz Magalhães.

No entanto, uma das coisas que podem ajudar os investidores interessados nessas operações é observar a demanda, segundo Rocha. Porém, é preciso ter cautela: “Como os preços são uma função de oferta e demanda, você fica mais protegido. Mas não totalmente, porque muitas vezes o preço é ajustado antes do IPO, o que pode enganar”, explica.

Outro ponto importante, levantado por Magalhães, é limitar a participação desse tipo de investimento no portfólio, visto que as chances de errar são maiores.

Apesar de apresentar maiores riscos, “a decisão final é como qualquer decisão de investimento: comparar o preço com o valor estimado da empresa”, finaliza Linhares. Rocha concorda: “A gente olha um IPO como olha para qualquer empresa.”

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