Commodities

Petróleo afunda pelo 2º dia consecutivo com desunião da Opep+

WTI e Brent, referências de preços para a commodity, fecharam em queda de mais de 1,6%

Por Barani Krishnan, do Investing.com – A desunião da Opep pode desfazer o rali quase perfeito do petróleo.

Os preços do petróleo bruto registaram um segundo dia de queda consecutiva, com recuos de até 2% sobre os quase 4% do pregão anterior, na esteira de temores que mais países membros ou aliados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo aumentarão suas produções acima dos limites da organização depois que a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos — que dominam o cartel — não conseguirem chegar a um acordo sobre as cotas de exportação de agosto.

O petróleo WTI, negociado em Nova York, fechou em baixa de US$ 1,17 ou 1,6% a US$ 72,20 por barril. O WTI perdeu 3,8% na terça-feira, sua maior queda num único dia em três semanas.

O Brent, cotado em Londres e referência mundial de preço, caía US$ 1,28 ou 1,7%, para US$ 73,25 às 16h45 (horário de Brasília). O Brent recuou 3,4% no pregão anterior.

Até a reunião da semana passada da Opep, organização de 13 membros liderados pela Arábia Saudita, e seus 10 aliados capitaneados pela Rússia — conhecidos conjuntamente como Opep+ —, o petróleo apresentava um rali quase perfeito, com o WTI subindo 57% no ano e o Brent tendo valorização de quase 50%.

Mas as desavenças entre os sauditas e os Emirados Árabes, antes membros convictos da Opep, ameaçam desfazer a disciplina e a coesão da Opep+, aliança estendida de 23 membros que havia conseguido elevar os preços do petróleo dos patamares de baixa durante a pandemia, a US$ 40 negativos por barril para o WTI, às atuais máximas em sete anos por meio de de cortes na produção.

"Não é realista pensar que não conseguir chegar a um acordo quanto aos níveis de produção a partir de agosto significaria que a produção vai permanecer inalterada, especialmente quando se considera que a razão pela qual existe uma discordância é que os EAU querem subir a sua linha de base se o acordo for estendido para além de abril de 2022", afirmaram os analistas da ING em um relatório.

"Ainda é provável que haja muito barulho em torno do que a Opep+ pode fazer nas próximas semanas, e isso significa que a volatilidade provavelmente vai continuar".

A Opep+ deveria ter concordado em um aumento de pelo menos 400.000 barris por dia para agosto. 

Os sauditas propuseram que a Opep+ aumentasse a produção em etapas, até um aumento líquido de 2 milhões de barris diários entre agosto e dezembro. Eles também sugeriram a retenção da capacidade de produção total de todos os membros da Opep+ até o final do próximo ano, em vez de abril de 2022, sem um ajuste nos níveis de base da produção.

Os Emirados Árabes Unidos, no entanto, ficaram descontentes com a linha de base a partir da qual foram calculados os seus cortes na produção, argumentando que o nível, definido no auge da pandemia do ano passado, era muito baixo. Abu Dhabi investiu bilhões de dólares desde então para aumentar a sua capacidade de produção e quer extrair mais para fazer jus a esse dinheiro. 

A produção de petróleo dos EAU atingiu um recorde de mais de 4 milhões de barris por dia em abril do ano passado, durante uma breve guerra de oferta entre a Arábia Saudita e a Rússia. Antes disso, o país só havia extraído mais de 3,2 milhões de barris por dia durante um mês inteiro duas vezes — em novembro e dezembro de 2018.

Os preços do petróleo a princípio subiram na segunda-feira quando vazaram as notícias de que não haveria nenhum aumento de produção para agosto, já que qualquer aperto adicional no fornecimento de petróleo numa economia global em recuperação da pandemia do coronavírus era visto como bullish. 

E embora a ausência de um acordo da Opep+ parecesse a princípio boa para o mercado, os investidores acabaram percebendo que não havia nada obrigando os membros da aliança a manterem limites de produção justos.

"O risco de uma falta de acordo aumentar a não conformidade, a Casa Branca insistindo num compromisso, uma variante do vírus de propagação rápida, além de um mercado muito comprado, ajudaram a desencadear a correção que, em seguida, recebeu um combustível a mais com um dólar mais forte", afirmou o Saxo Bank, referindo-se às preocupações do governo Biden sobre o comportamento da Opep, que alimenta uma enorme inflação nos EUA por conta do petróleo.

"Embora as perspectivas de longo prazo sejam mais bullish, as incertezas a curto prazo podem levar a um aumento da volatilidade, sobretudo tendo em conta a época do ano, em que as férias de verão do hemisfério norte se encontram em plena marcha, removendo, assim, a liquidez dos investidores ausentes", afirmou a equipe de estratégia do Saxo Bank.

Os investidores também estarão atentos aos dados sobre os estoques semanais de petróleo dos EUA, previsto para ser divulgado na quarta-feira depois do fechamento do mercado do WTI e do Brent.

Os dados, programados para divulgação pelo American Petroleum Institute às 17h30, serão apresentados antes da atualização oficial dos estoques de quinta-feira para a semana encerrada em 2 de julho, pela Administração de Informações de Energia (Energy Information Administration).

Segundo um consenso entre os analistas monitorados pelo Investing.com, as reservas brutas dos Estados Unidos provavelmente apresentaram queda de 4,03 milhões de barris na semana passada, depois de uma redução de 6,72 milhões na semana anterior.

Os estoques de gasolina provavelmente caíram 2,2 milhões barris, contra o aumento de 1,52 milhão na semana anterior, indica o consenso.

E os estoques de destilados, compostos de diesel e óleo para aquecimento, provavelmente apresentaram aumento de 171.000 barris na semana passada, depois de caírem em 869.000 milhões na semana anterior.

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