Sob desconfiança mútua

Acordo de cessar-fogo entre Israel e Hezbollah vale por dois meses

Após meses de deslocamento forçado devido ao conflito entre Israel e o grupo xiita Hezbollah, milhares de habitantes do sul do Líbano retornam às suas casas

Acordo de cessar-fogo entre Israel e Hezbollah vale por dois meses
Reprodução

Após meses de deslocamento forçado devido ao conflito entre Israel e o grupo xiita Hezbollah, milhares de habitantes do sul do Líbano retornam às suas casas.

Desde a entrada em vigor do cessar-fogo, na manhã desta quarta-feira (27), cenas de celebração marcaram a volta à normalidade em algumas regiões.


População retorna, mesmo com advertências

Apesar das recomendações das Forças de Defesa de Israel (IDF) para que os cidadãos libaneses evitem áreas previamente evacuadas, longos congestionamentos se formaram nas principais rodovias que levam ao sul do país.

O Exército Libanês também pediu cautela à população e solicitou que evitem localidades próximas à linha de combate e à fronteira, até que as tropas israelenses tenham completado sua retirada.

Em comunicado publicado nas redes sociais, o Exército libanês declarou adotar medidas necessárias para implementar o cessar-fogo e colaboram com a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) para garantir a segurança na região.

Desde o início do conflito, a postura oficial dos militares libaneses tem sido de neutralidade.


Impacto do conflito no Líbano

O cenário de destruição no Líbano reflete a gravidade do conflito iniciado em 8 de outubro de 2023, um dia após os ataques do Hamas contra Israel.

Segundo autoridades libanesas, os bombardeios israelenses resultaram em mais de 3.800 mortos e 15,8 mil feridos.

A maioria das vítimas se concentra no sul e leste do país, além do subúrbio de Dahieh, no sul de Beirute.

Além disso, mais de 1,2 milhão de pessoas foram forçadas a deixar suas casas – mais da metade buscaram abrigo na Síria, o que agravou ainda mais a crise humanitária na região.


Cessar-fogo e reações internacionais

O cessar-fogo, mediado por Estados Unidos e França, entrou em vigor às 4:00 desta quarta-feira (23h00 de terça-feira no horário de Brasília) e prevê uma trégua inicial de 60 dias.

O acordo inclui três fases:

  1. Cessação das hostilidades imediatas;
  2. Retirada do Hezbollah ao norte do rio Litani e, simultaneamente, a saída das forças israelenses do sul do Líbano no prazo de 60 dias;
  3. Negociações bilaterais para delimitar a fronteira, atualmente definida pela ONU após a guerra de 2006.

Os presidentes Joe Biden e Emmanuel Macron se comprometeram a garantir o cumprimento do acordo.

O primeiro-ministro libanês, Nayib Mikati, se pronunciou, e descreveu a trégua como um passo essencial para a estabilidade regional.


Desafios à manutenção da paz

Apesar do otimismo inicial, analistas alertam para os desafios na manutenção do cessar-fogo.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que Israel possui liberdade de ação garantida por Washington, caso o Hezbollah viole os termos.

As tropas israelenses permanecem estacionadas no sul do Líbano, e sistemas de defesa antiaérea estão em alerta máximo, segundo o governo de Israel.

A persistência de tensões entre os dois lados, bem como o histórico de desentendimentos, tornam incerta a durabilidade da trégua.


Últimos confrontos antes da trégua

Na véspera do cessar-fogo, Israel realizou ataques aéreos que deixaram, pelo menos, 42 mortos no Líbano, de acordo com autoridades locais.

As IDF admitiram ter disparado contra veículos que entraram em áreas restritas.

Por sua vez, o Hezbollah retaliou com mísseis contra Israel, acionando sirenes antiaéreas no norte do país.

Em Israel, o saldo das hostilidades nos últimos 14 meses inclui 78 mortos e destes quarenta e sete são civis.

O conflito também deslocou 60 mil israelenses de suas residências.


Um alívio para a região, mas com restrições

Enquanto milhares celebram o retorno às suas casas, as advertências dos militares libaneses e israelenses reforçam a cautela necessária na região. O cessar-fogo foi um avanço significativo, mas sua implementação total depende da cooperação entre as partes envolvidas e da supervisão das potências internacionais.

A questão agora: se este acordo pode de fato abrir caminho para uma solução duradoura ou vai ser apenas uma pausa temporária em um conflito que, por décadas, marca a geopolítica do Oriente Médio.

Sair da versão mobile