A tão aguardada Cúpula de Líderes do G20 se inicia nesta segunda-feira, 18 de novembro, no Rio de Janeiro. No entanto, um impasse sobre a viabilidade de uma declaração final consensual ameaça dominar as discussões do evento.
Diversos pontos de discordância entre os países participantes têm gerado dificuldades nas negociações e a diplomacia mantém a expectativa de que as negociações continuem tensas até o último minuto.
O Brasil, que exerce a presidência do bloco até o final de novembro, se vê em uma posição delicada, uma vez que o fracasso diplomático de não conseguir uma declaração final pode ser visto como uma derrota significativa para a diplomacia local e para o próprio G20.
Posição da Argentina coloca consenso na declaração final em risco
De acordo com informações do site Poder360, o maior obstáculo para a aprovação de uma declaração final consensual viria da Argentina, que se opôs a vários temas discutidos nas reuniões preparatórias.
Se o país não ceder, isso pode resultar no bloqueio do documento, o que comprometeria a eficácia do encontro e das negociações globais.
O impasse ocorre em um contexto de crescente polarização entre os países do G7 — as maiores economias do mundo — e os países emergentes, como o Brasil e outras nações do BRICS.
A oposição da Argentina se centraliza principalmente em questões como financiamento climático, taxação de grandes fortunas, reformas nos sistemas multilaterais globais e temas relacionados a desenvolvimento sustentável e meio ambiente.
Essas áreas têm sido foco de forte disputa de narrativas, especialmente entre as nações em desenvolvimento, que buscam avanços nessas frentes, e os países desenvolvidos, que têm demonstrado resistência.
Esse conflito de interesses reflete as diferentes prioridades de países do Norte Global e do Sul Global no cenário diplomático contemporâneo.
Resistência internacional e tensão sobre a pauta climática e de finanças
Além da postura argentina, países desenvolvidos também demonstraram forte contrariedade à pauta de financiamento climático, defendida pelas nações em desenvolvimento, como o Brasil.
Essa disputa entre o G7 (grupo das maiores economias do mundo) e o BRICS (bloco de países emergentes) ressalta as profundas divisões globais sobre como lidar com questões climáticas e de desigualdade econômica.
O financiamento climático, que visa garantir a transição para energias mais limpas, tornou-se um dos temas mais polêmicos e sensíveis da agenda do G20.
Tensão sobre os conflitos em Gaza e na Ucrânia
Outro ponto controverso nas discussões do G20 tem sido a inclusão de menções aos conflitos em Gaza e na Ucrânia.
Enquanto alguns países defendem uma abordagem mais suave, sem mencionar diretamente os conflitos, a escalada da guerra no Leste Europeu, com intensos ataques russos à infraestrutura da Ucrânia, gerou um aumento de pressão, especialmente por parte dos países europeus, para que o documento final inclua uma declaração mais dura contra a Rússia.
Esta mudança de posição seria um reflexo da mudança no cenário geopolítico, onde a Rússia tem sido cada vez mais acusada de violar as normas internacionais de guerra.
Secretário-geral da ONU apela por consenso para evitar divisões no G20
Em meio a esse cenário de tensões diplomáticas e divergências profundas, o secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um apelo aos países do G20 para que evitem divisões durante a cúpula.
Em uma entrevista realizada no centro de mídia do evento, no Museu de Arte Moderna (MAM), no Aterro do Flamengo, no Rio, Guterres ressaltou a importância de uma atitude conciliatória.
Ele afirmou: “Faço um apelo a todos os países para que tragam um espírito de consenso para transformar esta reunião do G20 em um êxito”.
Guterres também alertou que, caso o G20 se divida, o bloco perderia a sua relevância global.
“Se o G20 se divide, o G20 perde a relevância”, declarou o secretário-geral, que enfatizou o papel da unidade internacional para o fortalecimento das negociações e da governança global.
Expectativas pela declaração final após seis dias de negociações intensivas
As discussões sobre o conteúdo da declaração final da cúpula chegaram ao seu estágio mais crítico.
Durante os últimos dias, os “sherpas“, os negociadores de cada país, se reuniram até altas horas da madrugada de domingo, 17 de novembro, no Rio de Janeiro, para tentar chegar a um consenso sobre os pontos mais polêmicos.
Esses encontros marcam o fim de seis dias de negociações intensivas.
Agora, o rascunho final se submete à aprovação dos chefes de Estado e primeiros-ministros, que podem fazer ajustes antes de sua divulgação oficial.
Existe a expectativa de de que o texto final seja aprovado durante a cúpula, mas mudanças de última hora ainda são possíveis.
Agenda oficial de Lula como presidente anfitrião: iniciativas de combate à fome e reforma da governança global
O primeiro dia da Cúpula de Líderes do G20 vai ser marcado por eventos importantes e pela agenda diplomática do Brasil.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebe os líderes no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro a partir das 8:40.
Às 10:00, Lula lança oficialmente a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, sua principal iniciativa durante a presidência do Brasil no G20.
O projeto visa alcançar 500 milhões de pessoas em todo o mundo, por meio de programas de transferência de renda e sistemas de proteção social até 2030, e foca em países de renda baixa e média.
Até o momento, ao menos quarenta e um países aderiram à iniciativa.
Às 14:30, vai ser realizada uma reunião de líderes do G20, com destaque para o debate sobre a reforma das instituições de governança global, um tema caro ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Durante sua presidência, o Brasil tem pressionado por mudanças significativas em organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de aumentar a representatividade do Sul Global nas decisões globais.
Às 18h, o presidente Lula, acompanhado da primeira-dama Janja Lula da Silva, recebe os chefes de Estado no MAM, no inícioinício a uma série de eventos sociais e culturais.
A cerimônia vai ser uma oportunidade para fortalecer a diplomacia do Brasil e para promover a diversidade cultural brasileira, um dos pilares da atual presidência do G20.
As informações são do site Poder360.