Por Gabriel Codas, da Investing.com – Na parte da manhã desta quinta-feira, as ações da Ambev (SA:ABEV3) lideraram os ganhos do Ibovespa após a companhia informar, hoje antes da abertura do mercado, que seu lucro líquido caiu pela metade no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, com as vendas e volumes afetados pela pandemia do coronavírus e despesas financeiras maiores.
Às 16h00, as ações tinham queda de 1,98% a R$ 14,85. Na máxima, os papéis chegaram a R$ 15,92. O Ibovespa recuava 0,73%, a 104.832 pontos.
A subsidiária brasileira da Anheuser Busch InBev lucrou R$ 1,27 bilhão entre abril e junho, de acordo com o balanço, queda de 51,4% na comparação anual, conforme medidas de isolamento social alteraram as dinâmicas de consumo de bebidas. A mediana do consenso do mercado previa um lucro líquido de R$ 1,42 bilhão, de acordo com dados da Refinitiv.
O que puxa o otimismo pelas ações da cervejeira são a receita e o Ebtida acima do consenso. O desempenho operacional medido pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado recuou 28,6% para 3,35 bilhões de reais, com a margem Ebitda ajustada caindo para 28,8% ante 38,6% no segundo trimestre de 2019. A previsão era um Ebtida de R$ 3,01 bilhões.
Já a receita líquida encolheu 4,4% ano a ano, para 11,6 bilhões de reais, enquanto os volumes caíram 9,2% para 33,5 milhões de hectolitros. Mas o faturamento também veio acima da previsão, cuja mediana era de R$ 9,74 bilhões.
Visão dos analistas
Na avaliação da XP Investimentos, a principal surpresa positiva veio do volume de cerveja no Brasil, que caiu apenas -1,6% a/a, significativamente abaixo da estimativa de -14,4% e das expectativas do mercado, que variaram entre -15% e -25% a/a.
A equipe manteve a recomendação de Neutra, pois espera que as margens permaneçam pressionadas, juntamente com um ambiente econômico e competitivo ainda desafiador. De acordo as estimativas, as ações da Ambev atualmente são negociadas em 20x P/L 2021, o que parece justo.
O BTG Pactual (SA:BPAC11) destaca que Ambev, historicamente, passou por crises muito bem. E isso aconteceu novamente no 2T20. A forte execução comercial e uma plataforma digital avançada provavelmente ajudam a explicar uma recuperação tão impressionante.
Apesar disso, os analistas ainda enxergam o caso de investimento com muita dose de cautela. A Ambev não apenas permanece dependente do sucesso de suas principais marcas no canal de comércio ainda em recuperação, mas sua nova mentalidade centrada no consumidor está claramente exigindo margens mais baixas antes da estabilização total da participação.
Apesar do resultado trimestral melhor que o esperado, grande parte foi de natureza temporária. A equipe vê poucas razões para alterar as estimativas normalizadas para 2021 e além. Negociada com um prêmio aos pares globais e históricos, a Ambev permanece Neutra
Balanço
A fabricante de bebidas citou expectativa de recuperação operacional mais lenta em função de mudanças no mix de embalagens e canais de vendas, além de contínuas pressões de custo atreladas à desvalorização cambial e o impacto da crise na renda das famílias. “O impacto total da pandemia do Covid-19 em nossos resultados futuros permanece incerto”, disse a Ambev no comunicado.
O custo total de produtos vendidos atingiu 5,8 bilhões de reais, alta de 16,9% sobre um ano antes, puxado pela inflação na Argentina, oscilações cambiais desfavoráveis e mudanças no mix de embalagens.
A linha de despesas financeiras subiu quase 40% no período, enquanto os gastos gerais, com vendas e administrativos subiram apenas 1%.
A AmBev, na qual a AB InBev detém 61,9% de participação, está presente em 16 países nas Américas, incluindo Canadá e Argentina.