Por Ana Julia Mezzadri, da Investing.com – A JSL (SA:JSLG3) reportou, na noite desta segunda-feira (8), resultados recordes para o terceiro trimestre.
O lucro líquido, de R$ 83 milhões, superou em cinco vezes o reportado nos mesmos três meses de 2020. A receita, por sua vez, fechou o trimestre em R$ 1,4 bilhão.
Além de ter superado os números anteriores, o lucro da JSL também ficou acima das expectativas do mercado. A XP Investimentos, por exemplo, antecipava R$ 66 milhões. A receita e o Ebitda, de R$ 198 milhões, vieram em linha com as projeções da casa de investimentos.
Esse resultado, segundo Ramon Alcaraz, CEO da JSL, é consequência da combinação de expansão do crescimento orgânico, com assinatura de novos contratos em segmentos estratégicos, e inorgânico, com a aquisição de cinco empresas nos últimos 12 meses.
A estratégia para os próximos trimestres, segundo o executivo, deve seguir a mesma.
Além disso, a assinatura de R$ 3,7 bilhões em novos contratos desde janeiro é indicativo de receita futura, diz Alcaraz, que se mantém otimista apesar da inflação dos insumos e de ameaças de greve por parte dos caminhoneiros.
Leia a entrevista completa a seguir:
Investing.com – Quais foram os principais fatores por trás do resultado recorde?
Ramon Alcaraz – É muito agradável poder falar de notícia boa. Tivemos resultados muito bacanas não só em receita, mas também em resultado.
Sobre a receita: esse resultado vem das duas linhas que temos divulgado como estratégias de crescimento, orgânico e inorgânico. Falando de orgânico: quando consideramos a JSL, sem as empresas adquiridas, e comparamos o 3T20 com o 3T21, temos um crescimento de 15%.
Alguns perguntam se o 3T20, por causa da pandemia, seria uma base deteriorada. Eu tenho dito que não, porque a pandemia nos afetou no segundo trimestre de 2020. No terceiro trimestre já estava normal, então é 15% real.
Sobre as empresas adquiridas. Relembrando, adquirimos cinco empresas nos últimos 12 meses, que foram entrando ao longo dos trimestres desde o final do ano passado. Quando comparamos essas empresas, de forma independente à JSL, no mesmo período, vemos crescimento orgânico de 23%.
Isso mostra que a JSL cresce organicamente de forma sólida, e que a nossa política de aquisição tem sido em empresas com crescimento, bem administradas, em segmentos complementares ao nosso. Quando pegamos essa receita das empresas adquiridas e somamos ao nosso, temos esse crescimento de 75% que estamos divulgando nos destaques.
Outro ponto importante é para frente: será que vamos continuar crescendo? Embora eu não tenha uma bola de cristal, eu tenho alguns fatos.
Fechamos de janeiro a setembro deste ano R$ 3,7 bilhões em novos contratos, com duração média de 46 meses, o que dá uma receita adicional de R$ 80 milhões. 15% da nossa receita atual, já considerando as adquiridas. Ou seja, tivemos um crescimento bacana, e para frente temos novos contratos com crescimento bastante interessante.
Continuamos com a nossa política paralela de crescimento inorgânico. Temos no nosso pipeline várias aquisições sendo negociadas, sempre focando em empresas bem administradas e que tragam resultado para o nosso negócio.
Melhoramos o nosso Ebitda em 68%, e o nosso lucro líquido em cinco vezes, em meio a um cenário extremamente complexo e atípico de inflação muito alta dos nossos principais insumos.
Tivemos quase 50% de aumento no combustível nesse ano, 30% em peças e acessórios, 23% de pneus, IPCA em mais de 10% e assim por diante. Lógico que isso tem impacto muito forte no nosso negócio.
Usamos duas estratégias: uma política de redução de custo bastante austera, tentando fazer mais com menos. Associada a isso, uma estratégia de renegociação com os clientes, de reajuste de preços.
Nunca é uma estratégia agradável, mas faz parte desse momento. Temos uma relevância considerável nos nossos clientes, e isso facilita para que, no mínimo, as portas sejam abertas para entrar em uma linha de negociação.
Inv.com – Sobre as últimas aquisições: como está indo o processo de incorporação dessas empresas? Mais sinergias são esperadas?
RA – Temos buscado sinergias, lógico, mas com muita parcimônia e muito cuidado. Não queremos que a pressa de buscar sinergias deteriore aquilo que compramos de bom, que é a expertise o know-how de cada empresa.
Mas buscamos algumas sinergias, como troca de financiamento e compra de insumos de forma centralizada. Isso faz com que tenhamos alguns ganhos.
Divulgamos R$ 7 milhões na última linha. Pode parecer que R$ 7 milhões em uma receita de R$ 1,2 bilhão é muito pouco, mas quando pensamos no lucro na casa de R$ 70 – R$ 80 milhões, estamos falando de quase 10%. É muito significativo.
Entendemos que há um caminho enorme de sinergias, e temos vários projetos em andamento para buscá-las. Mas, de novo, a pressa pela busca das sinergias não é maior do que a preocupação de estragar o que é bom.
Inv.com – Outro ponto mencionado foi a alta dos combustíveis e de outros insumos. Vocês têm conseguido negociar, mas isso tem impactado também os negócios? Como vocês estão sentindo essa alta?
RA – Temos sofrido como todo mundo. Não só no nosso segmento: praticamente todos os setores têm sofrido com o aumento de insumos. É o aço, o cimento, o dólar… Cada um vem tendo seu próprio problema, e conosco não é diferente.
Seria uma infantilidade achar que iríamos simplesmente pegar nosso aumento de insumos e repassar diretamente para o cliente. Entendemos que tem que haver duas políticas: redução de custos e abrir uma linha de negociação com cada cliente.
Cada contrato tem uma realidade. Alguns já têm uma métrica combinada no contrato, que é disparada automaticamente a partir de um gatilho, principalmente do diesel. Isso facilita o repasse do aumento de custos. É importante dizer que quase 50% dos R$ 3,7 bilhões de novos contratos têm esse formato.
A conclusão é que nossos números mostram que a temos tido muito sucesso nisso porque, mesmo em um cenário bastante complexo, temos mostrado resultados muito positivos trimestre a trimestre. As dificuldades estão aí. Nós não vamos mudá-las. Vamos mudar a forma de nos comportar com elas.
Inv.com – Nesse mesmo tema, como vocês estão enxergando a questão de uma possível greve dos caminhoneiros? É uma ameaça?
RA – Ameaça sempre é. Qualquer greve ou paralisação sempre pode atrapalhar. Mas o dia 1º de novembro, para mim, foi uma data bastante expressiva.
Talvez, de todas as ameaças que tivemos esse ano, a de 1º de novembro tenha sido a que criou mais expectativa. Realmente chegamos a nos preocupar. E talvez tenha sido a mais insossa, sem movimento nenhum praticamente. Tivemos apenas problemas pontuais.
Eu vejo isso como uma boa notícia porque mostra que os caminhoneiros autônomos têm conseguido, de alguma forma, negociar com os seus clientes. O desespero, para mim, é a maior liderança em qualquer categoria.
Então a baixíssima aderência mostra que tem-se conseguido achar um equilíbrio. E para mim é a melhor alternativa, não tem outra. Todo mundo gostaria de uma solução fácil, mas não existe solução fácil nesse caso.
É impossível tabelar ou negociar em segmentos tão diversos. Há 1,8 milhão de caminhoneiros autônomos. Não tem outra solução.
Inv.com – O que vocês esperam para os próximos trimestres? Mais recordes?
RA – É difícil fazer futurologia, mas podemos falar daquilo que já estamos divulgando. Os R$ 3,7 bilhões de novos contratos estão indicando um crescimento futuro “contratado” na média de 15%, o que já é uma excelente notícia.
Número dois: eu acho que sempre temos que tentar estar no lugar certo, na hora certa. Estamos presente em segmentos que têm tido um crescimento bastante acelerado. Principalmente na indústria primária, de mineração e papel e celulose, e, em uma outra ponta, na indústria de consumo rápido. No varejo, na bebida, no alimento etc. Também é um segmento que cresce muito. Isso me faz ter uma perspectiva bastante otimista.
Inv.com – Quais são as principais avenidas de crescimento? No que vocês estão apostando?
RA – Em uma combinação de tudo. Primeiro: abraçar o que está dando certo. Fechar novos contratos com clientes com quem já temos uma relação forte e que estão crescendo, apostando sempre em segmentos que têm tendência de crescer, em que temos expertise e podemos fechar contratos de longo prazo, diversificando inclusive em países.
Já estamos presentes em vários países da América do Sul, estamos em vias de fechar contrato em países até fora dessa geografia mais próxima. São movimentos que fazem com que seja possível diversificar o nosso negócio não só em segmentos, como em geografia.