Trump

Artigo: acordo comercial, bom para Trump, mas incerteza continua

Por André Sacconato

A primeira “onda” do acordo comercial entre China e Estados Unidos foi uma vitória no curto prazo para o
governo Trump. Poderíamos chamá-la de um “acordo reeleição” para o governo dos Estados Unidos, mas não necessariamente uma vitória para os Estados Unidos em si.

Basicamente, o acordo fala sobre os itens menos polêmicos de toda essa guerra estabelecida nos últimos anos e trata principalmente de assuntos comerciais, porque, apesar do nome, esse conflito tem na faceta do comércio o seu lado menos polêmico. Se escondem atrás das discussões de tarifas e quantidades de importações ou exportações temas mais polêmicos como a guerra tecnológica e o padrão de financiamento das empresas chinesas pelo seu governo.

Esses dois temas se resumem a algumas polêmicas longe de serem resolvidas. Primeiro, quem dominará a tecnologia de 5G no mundo e segundo como que o governo chinês financia as chamadas SOES (State-Owned Entreprises) que são empresas que tem sua maior fatia dominada pelo governo, mas funcionam como empresas privadas, o que torna possível várias praticas suspeitas, como financiamentos que as deixam em posição melhor do que concorrentes, e praticas de dumping nos preços.

Mesmo em outros temas mais polêmicos como a manipulação ou não da moeda chinesa e assuntos ligados à
propriedade intelectual no país do oriente, as conclusões do acordo são muito vagas, sem disposições diretas de como essas serão resolvidas.

Assim o acordo tem um timing perfeito para o governo de Donald Trump: ao mesmo tempo que empurra questões
polemicas para o próximo acordo que tem como data mínima novembro deste ano (estrategicamente depois da eleição), garante um incremento considerável de compras de produtos americanos pelos chineses, justamente em produtos mais sensíveis aos eleitores do atual governo americano, o que pode assegurar apoio politico e economia aquecida para que o mandatário consiga sua reeleição no final deste ano.

Para se ter uma ideia o acordo prevê aumentos de compras de aproximadamente US$ 200 bi em dois anos
(2020-2021) de produtos americanos pelos chineses, em áreas como agricultura, manufatura, energia e serviços.

Em resumo, se não houver alguma ruptura séria na economia americana em 2020 esse acordo é mais uma fonte de
manutenção do dinamismo da economia daquele país até a próxima eleição e aumenta muito as chances de reeleição do atual presidente, Donald Trump. Mas para o futuro das incertezas do cenário econômico e mesmo para o futuro da
influência dos EUA no mundo via tecnologia não ajuda muito, talvez até atrapalhe pois posterga decisões importantes em um setor que a China cresce em uma velocidade inigualável no mundo. O noticiário recente sobre o coronavirus
pode, em alguma medida, afetar esse cenário no curto prazo. Mas não deve ter grande impactos no cenário estratégico de longo prazo.

André Luiz Sacconato, doutor em economia pela USP, é socio da Integrare Brasil e professor de MBA na FIA-USP. Foi coordenador de projetos e responsável por setor externo e fiscal na Tendências Consultoria, economista sênior na área de modelagem de mercados na LCA consultores e diretor de pesquisas da BRAiN- Brasil Investimentos e negócios. As opiniões e informações são de responsabilidade do autor. O portal Arena do Pavini não se responsabiliza por decisões de investimento tomadas com base nessas informações.

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