Após 70 anos de reinado

ARTIGO: O protocolo que envolve o adeus à rainha e os impactos previstos para o mercado

A Rainha Elizabeth II morreu na quinta-feira (8), aos 96 anos de idade

- Foto: Suzy Hazelwood / Pexels
- Foto: Suzy Hazelwood / Pexels

Por Frederico Nobre*

A Rainha Elizabeth II morreu na quinta-feira (8), aos 96 anos de idade. Enquanto o mundo presta suas homenagens à Elizabeth, cujo reinado durou mais de 70 anos, o seu filho Charles se prepara para assumir o trono.

Neste artigo, vou trazer um resumo da vida da Rainha Elizabeth, e também explicar o protocolo que envolve a ascensão de um novo monarca no Reino Unido.

A vida e o reinado de Elizabeth II

Elizabeth, que assumiu o posto de rainha em fevereiro de 1952, quando tinha 25 anos, era a monarca mais longeva do Reino Unido e a mais velha do mundo.

Ela morreu no Castelo de Balmoral, na Escócia, ao lado de familiares. A rainha teve quatro filhos, oito netos e doze bisnetos. Seu reinado de 70 anos, sete meses e dois dias foi o mais longo da história do país que veio a se tornar o Reino Unido.

Durante esse tempo, apenas para efeito comparativo, houve 14 presidentes dos EUA e sete papas.

Elizabeth II deu seu parecer favorável a mais de 4 mil Atos do Parlamento e passou por 15 primeiros-ministros, começando com Winston Churchill até Liz Truss.

A rainha vinha sofrendo desde o final do ano passado com episódios classificados por porta-vozes da britânicos como problemas episódicos de mobilidade, de acordo com relatos à imprensa.

Ela também vinha reduzindo suas aparições públicas e, em alguns casos, foi representada em eventos por Charles e pelo filho mais velho dele, o príncipe William, que torna-se agora o primeiro na linha de sucessão ao trono britânico.

A primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, que assumiu o cargo no dia 6 de setembro, dois dias antes da morte da rainha, foi a primeira a ficar sabendo do falecimento.

Existe um código chamado “London Bridge is down”, que consiste justamente nessa notificação extraoficial. Na sequência, começaram as ligações entre altos funcionários e ministros.

Os cidadãos britânicos, por sua vez, tomaram conhecimento da notícia por meio de uma nota oficial emitida pela Casa Real.

Como funciona o processo de sucessão?

Imediatamente após a morte de um rei ou rainha, seu sucessor assume o trono e um Conselho de Ascensão é convocado o mais rápido possível, geralmente dentro de 24 horas.

Esse conselho se reúne no Palácio de St James, a residência oficial da família real, para proclamar o sucessor, e é composto por cerca de 670 políticos de alto escalão, incluindo a primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, e o prefeito de Londres.

Além disso, líderes religiosos, altos funcionários e altos comissários dos outros 14 reinos que têm o monarca britânico como seu chefe de Estado também têm assento no Conselho, cujo presidente é atualmente a parlamentar Penny Mordaunt.

Considerando a questão temporal como grande empecilho, é possível que muitos destes conselheiros não estejam presentes durante o rito de passagem do trono.

Em 1952, após a morte de George VI, apenas 191 membros participaram do Conselho de Ascensão de Elizabeth. O Conselho de Ascensão está dividido em duas partes:

A primeira parte do Conselho de Ascensão

Na primeira parte, o Lorde Presidente anuncia a morte da monarca e o escrivão do conselho, Richard Tilbrook, lê em voz alta o texto da Proclamação de Ascensão.

O chamado “partido plataforma”, que inclui membros da família real presentes, a primeira-ministra e outros membros da nobreza, assinam a proclamação.

Após a Parte 1 do Conselho, a proclamação é lida da Galeria da Proclamação, uma varanda no Palácio de St James, pelo Rei da Jarreteira de Armas, atualmente David White.

Ele é acompanhado pelo Conde Marechal e outros oficiais vestindo trajes tradicionais.

A proclamação é lida no Royal Exchange, na cidade de Londres, e também publicamente nas outras capitais do Reino Unido — Edimburgo, Belfast e Cardiff — e em outros locais.

A segunda parte do Conselho de Ascensão

segunda parte do Conselho de Ascensão é realizada pelo novo soberano.

Apenas os Conselheiros Privados participam, e ela começa com uma declaração pessoal de Charles relacionada à morte da rainha, além de um juramento relativo à segurança da Igreja da Escócia, que se uniu à Inglaterra e ao País de Gales para formar o Reino Unido em 1707.

Esse procedimento é feito por todos os novos soberanos desde 1714.

O novo monarca do Reino Unido será conhecido como Rei Charles III e deve proferir o seguinte juramento:

“Eu, Charles III, pela graça de Deus do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e de meus outros Reinos e Territórios Rei, Defensor da Fé, prometo e juro fielmente que manterei e preservarei inviolavelmente o acordo da verdadeira religião protestante, como estabelecido pelas leis feitas na Escócia em prossecução da Reivindicação de Direito e particularmente por uma lei intitulada ‘Ato para Assegurar a Religião Protestante e o Governo da Igreja Presbiteriana’ e pelas leis aprovadas no Parlamento de ambos os Reinos para a união dos dois Reinos, juntamente com o Governo, Adoração, Disciplina, Direitos e Privilégios da Igreja da Escócia. E que Deus me ajude”.

Como a sucessão impacta a economia britânica?

Acredito que o impacto seja muito mais emocional do que financeiro, e esperamos uma (mais do que justa) comoção global, afinal, trata-se do adeus a uma rainha que está no trono há 70 anos.

Os países governados por Elizabeth II provavelmente ficarão de luto e não funcionarão normalmente até o funeral. Além disso, algumas outras mudanças práticas são esperadas:

  • Alteração no hino inglês: todas as palavras “rainha” serão alteradas para “rei”, em referência ao novo soberano, o Rei Charles III
  • A moeda britânica terá de ser impressa com o retrato do atual monarca: o dinheiro com a face de Elizabeth sairá de circulação. O mesmo acontecerá com selos, passaportes e uniformes de militares
  • O Ministério das Relações Exteriores limitará a entrada de um número significativo de turistas no Reino Unido: o objetivo é garantir a segurança contra potenciais alertas de terrorismo e a superlotação de Londres.

Apesar disso, acredito que o impacto das cerimônias na economia britânica não seja material a ponto de influenciar expectativas de crescimento ou de inflação, por exemplo.

Nesse sentido, o momento atual da Europa como todo já é bastante delicado, com uma recessão iminente e a inflação batendo na porta, puxada principalmente pelo aumento dos custos de energia, diante da restrição da oferta de gás por parte da Rússia.

“Winter is coming” e para os europeus isso não é nada bom.

O euro atingiu a menor paridade em relação ao dólar dos últimos 20 anos e a indústria está sufocada com altos custos de energia, enquanto a população sofre no bolso com uma inflação que não dá sinais de arrefecimento.

Enquanto isso, a libra esterlina atingiu o menor patamar em relação ao dólar desde 1985, e a inflação britânica pode chegar a dois dígitos em breve.
Por fim, apesar de não trazer impacto econômico relevante, o falecimento da rainha é mais um elemento que contribui moralmente para o estado de crise em que se encontra a Europa.

*Frederico Nobre, head de Análise da Warren Investimentos.

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