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ARTIGO - Saúde financeira e o desempenho profissional

É preciso dialogar sobre saúde mental e financeira de maneira transparente, aberta e colaborativa. Só dessa forma teremos ambientes, pessoas e, consequentemente, organizações mais saudáveis

- Foto: Marcos Santos/USP Imagens
- Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Por Bia Santos e Bruno Sousa*
 
Muito se fala sobre as vitórias, no entanto, pouco sobre angústias, medos e dificuldades. Para alguém dedicado, não obter os resultados que deseja ou embarcar em um mar de problemas pode trazer sentimentos que vão além da frustração. Neste artigo, queremos trazer outra faceta deste assunto: a saúde financeira.

O adoecimento psicológico causado pelas dívidas é capaz de afetar o desempenho no trabalho e, até mesmo, relações interpessoais e afetivas, abalando nossa saúde mental.
 
De acordo com pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Administração (2021), as dívidas podem fazer com que funcionários tenham problemas de concentração no ambiente de trabalho, diminuindo a produtividade e a motivação.

Com a alta dos preços, pouco dinheiro disponível no orçamento e, muitas vezes, sem perspectivas de conseguir sair dessa situação, falta tempo e equilíbrio emocional para o colaborador se dedicar ao trabalho de forma adequada.

Além do planejamento sobre quais contas são prioritárias na fila de pagamentos.
 
Na mesma pesquisa, mais de 5% dos trabalhadores entrevistados estão lidando com dívidas consideradas fora do controle e mais de 57% deles possuem dívidas que afetam o orçamento financeiro, sejam elas em maior ou menor grau.

Os colaboradores nessa situação também dividem seu tempo com renegociações das dívidas, constantes ligações e emails com cobranças, inclusive durante o horário de trabalho.
 
Um outro estudo realizado pelo Serasa (2021), aponta que 76% dos brasileiros já tiveram problemas de concentração no trabalho por conta das dívidas. Além disso, 85% afirmaram que já tiveram insônia/dificuldade para dormir, devido ao endividamento. Essas situações estressantes podem gerar, inclusive, impacto na saúde física, como problemas cardiovasculares.
 
E a instabilidade financeira não gera só problemas no ambiente organizacional. Cerca de 57% dos divórcios no Brasil são motivados por problemas financeiros, aponta o IBGE.

Com isso, é possível enxergar como a ausência do acesso à educação financeira contribui para o adoecimento psicológico, atrapalhando, ainda, as relações interpessoais e afetivas.

Assim como a instabilidade financeira pode afetar diretamente a saúde mental, questões psicológicas também podem prejudicar a saúde financeira. As emoções afetam diretamente nas tomadas de decisões, podendo influenciar no comportamento financeiro.

Afinal, é comum encontrar pessoas que veem o consumo como uma forma de alívio momentâneo para os sentimentos, seja pedindo um simples delivery em um momento de ansiedade, ou até mesmo se arriscando em um investimento que promete maior rentabilidade.

Desta forma, um ciclo vicioso pode ser criado, que leva ao estresse, sentimento de culpa, arrependimento e até depressão.
 
É emocionalmente desgastante lidar com as entregas cotidianas, passando pelo cuidado da casa, carreira, família, autocuidado, saúde física e cobranças pessoais, ao mesmo tempo em que se faz necessário lidar com os sofridos boletos.

Com tantos problemas envolvendo a questão financeira, não podemos deixar de falar sobre a democratização do acesso a este tema, visando uma melhor qualidade de vida. Esta deve ser uma preocupação de todos.
 
Por isso, é importante que as organizações públicas e privadas proporcionem alternativas para a população de forma simples e adaptada à realidade dos beneficiários, como palestras sobre saúde financeira, plataformas e estratégias para evitar o endividamento.

Mas, sobretudo, começar um debate que potencialize o diagnóstico precoce e o apoio aos funcionários.

Afinal, como melhorar algo que não acreditamos ser um problema? É preciso dialogar sobre saúde mental e financeira de maneira transparente, aberta e colaborativa. Só dessa forma teremos ambientes, pessoas e, consequentemente, organizações mais saudáveis.

*Bia Santos, CEO da Barkus e Bruno Sousa, coordenador de conteúdo da Barkus
 

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