O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cortou a taxa básica de juros Selic na reunião dos dias 1 e 2 de agosto deste ano pela primeira vez desde 2020. Tal movimento era amplamente esperado.
Havia ainda uma dúvida sobre a magnitude do corte, mas que o ciclo se iniciaria era unanimidade entre economistas. Agora restam dúvidas sobre onde esse ciclo pode se estender e o quão rápido ele pode chegar ao seu fim.
Fernando Siqueira, Rafael Pacheco e Victor Beyruti Guglielmi, analistas da Guide Investimentos, elaboraram um material em que buscam entender quais as trajetórias possíveis da Selic e utilizaram como principal condicional a dinâmica das expectativas de inflação.
Variáveis fiscais pesam sobre projeções
O desvio da expectativa de doze meses com relação à meta do ano seguinte desponta como a variável de maior peso dentro do modelo do BC.
“Quando olhamos para o nível desta variável em comparação a momentos de cortes anteriores, há um sinal de alerta para o Copom. Hoje, as previsões medidas pelo Focus para o IPCA 12 meses a frente mostram uma diferença de mais de um ponto com relação à meta”, comentaram.
Se usada essa diferença como uma proxy de credibilidade na condução da política monetária, podemos observar que, em nenhum outro momento desde 2003, o BC havia iniciado o ciclo de corte com uma perda tão grande de credibilidade.
A Guide Investimentos aponta a evolução deste índice de credibilidade, cuja metodologia foi baseada no estudo de Mendonça (2004), em que o autor normaliza o desvio da inflação esperada pela meta em uma escala de 0 a 1.
Após a manutenção da meta em 3% na reunião de junho do Conselho Monetário Nacional (CMN) houve um ganho de credibilidade, mas, desde então, as expectativas seguiram desancoradas.
Uma possível explicação para isso seria que o mercado tem colocado um maior prêmio de risco nas suas projeções de inflação, devido à incerteza acerca da dinâmica da inflação global e com relação à postura dos novos diretores do BC.
Para os analistas, parece mais provável que essa diferença reflete à projeção pior para as variáveis fiscais.
Na avaliação deles, as projeções de mercado (Focus) para o resultado primário distam de maneira relevante do centro da meta do governo, e essa diferença aumentou com o tempo.
“Portanto, não necessariamente o desvio das projeções de inflação com relação à meta refletem uma perda de credibilidade da política monetária em si, mas uma maior incerteza com relação ao ativismo fiscal do governo e ao cenário externo”, completaram.
Prováveis cenários
O cenário-base que a casa possui, com um ciclo de corte de 0,5 p.p. por reunião levaria a taxa para 8,75% ao final de 2024 e para 7,50% em junho de 2025.
Neste cenário, as expectativas de inflação em doze meses convergiriam para a meta gradualmente ao longo do próximo ano. Nos outros dois cenários, consideramos uma convergência plena das expectativas ao final de 2023 e 2025.
No primeiro, que os analistas preferiram chamar de “cenário otimista”, o BC conseguiria levar a Selic para 7,0% na última decisão de 2024, e manteria-a estacionada neste nível por período prolongado.
Já no cenário pessimista, o ciclo seria menos constante, com a promoção de cortes a Selic para 9,0% em novembro de 2024, mas obrigado a interromper o ciclo de corte para então conseguir retomá-lo apenas ao final de 2025.
Neste estudo, analistas consideram um juro real neutro de 4,0% ano a ano nos três casos.
Eles ressaltam que, entre os cenários traçados, acham o que mostra uma convergência ainda em 2023 o menos provável.
Siqueira, Pacheco e Guglielmi aguardam uma inflação de 4,10% ao fim de 2024, o que está acima do nível projetado pelo Boletim Focus na última edição.
Tampouco analistas acreditam que as expectativas ficarão desancoradas por tanto tempo quanto até o final de 2025, mas entendem que
esse cenário desponta como menos improvável que o “otimista”.