O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros de 3,5% para 4,25% ao ano, no dia 16 de junho. Uma decisão que confirmou a política de aumentos sucessivos da Selic definida pelo Banco Central.
Antes disso, a taxa ficou seis anos sem ser elevada. De julho de 2015 a outubro de 2016 permaneceu em 14,25% e depois começou a cair de forma constante até chegar aos 2% em julho de 2019, menor patamar da série histórica iniciada em 1986. E permaneceu assim até março deste ano, quando finalmente foi elevada para 2,75%. O Banco Central já avisou que até o final do ano a Selic deve subir um pouco mais.
Essas sucessivas elevações da taxa Selic têm como finalidade conter a alta inflacionária, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que em abril já se encontrava em seu maior nível desde novembro de 2016. Para se ter ideia, no quarto mês de 2021, a inflação acumulada em 12 meses já era de 6,76%. Os economistas apontam como maiores vilões a valorização do dólar, que impacta nos preços de praticamente tudo o que consumimos, e os reajustes nos preços dos combustíveis e do gás de cozinha.
O índice inflacionário de 6,76% é bem maior do que os 3,75% projetados para 2021 com tolerância de 1,5 ponto percentual, o que permitiria uma inflação anual de, no máximo, 5,25%, ao final deste ano. Naquele momento, o mercado ainda mantinha esperanças de que o índice não ultrapassasse o teto, mas os números de abril e a nova decisão do Copom indicam que será muito difícil se manter dentro da meta.
A questão é que a Selic baixa serve para estimular a economia que, convenhamos, está capenga por causa da crise sanitária gerada pela pandemia. Sempre vale a pena lembrar, juros baixos estimulam o crédito aumentando o consumo de bens e serviços. Consumo em alta significa mais produção e mais vagas de emprego. Pessoas empregadas e com renda costumam desengavetar seus projetos aquecendo ainda mais a economia. Economia aquecida leva o empresariado a investir em produção para atender a demanda. É assim, basicamente, que gira a roda de uma economia saudável.
Transparência e concorrência
Aí está o lado negativo do aumento da taxa básica de juros. Sua elevação contribui para tornar o crédito mais caro para pessoas físicas e jurídicas. Quem ainda pode, evita tomar dinheiro emprestado. Mas quem está em uma situação crítica acaba por aceitar condições menos favoráveis, assumindo um risco maior de não conseguir pagar as parcelas em dia. Com a economia quase parando e, mesmo assim, os preços subindo, fica difícil sair do atoleiro das dívidas.
Nesse contexto, o que deve ajudar a amenizar esse cenário sombrio é a chegada do Open Banking, pelo fato de gerar mais concorrência entre as instituições financeiras. Informações importantes para definir os custos para concessão de crédito, que hoje se encontram sob o controle dos cinco maiores bancos brasileiros, vão ficar à disposição – com autorização do cliente, claro – de fintechs, cooperativas de crédito e de outras empresas autorizadas a atuar no setor pelo Banco Central.
Hoje as fintechs já oferecem crédito com juros menores. Mas com o histórico das pessoas nas mãos, o que significa mais transparência, será possível reduzir ainda mais esses juros.
Obviamente, o aumento da Selic também impacta no custo do crédito oferecido pelas startups do segmento financeiro. Mas como já foi explicado, a concorrência proporcionada pelo Open Banking talvez tenha a força necessária para frear as consequências que a luta contra a inflação traz para as tomadas de empréstimos.
Até o final do ano saberemos o resultado. Quem sabe com o Open Banking fique provado, na prática, que a livre concorrência é o melhor remédio para resolver certas distorções causadas pela interferência do Estado nas engrenagens que movem o mercado.
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