De olho nas tendências

BTG (BPAC11), Itaú (ITUB4), XP (XPBR31): por que players gigantes compram casas menores?

Do outro lado da mesa, os profissionais são atraídos pela oferta de autonomia e valorização profissional

- Divulgação
- Divulgação

Por Ana Beatriz Bartolo, da Investing.com – As gestoras independentes são personagens importantes no processo de democratização que o mercado de investimentos vem passando nos últimos anos. Desconectadas dos grandes e tradicionais bancos, essas empresas conquistam os investidores pelo discurso “sem conflito de interesses” e pelo foco na performance dos ativos. Do outro lado da mesa, os profissionais são atraídos pela oferta de autonomia e valorização profissional.

Reportagem de Investing.com Brasil conversou com players do setor para entender melhor essa movimentação no mercado de investimentos.

Em 2020, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tinha o registro de mais de 600 gestoras independentes e a tendência era de crescimento. Os volumes administrados por esses grupos também sobem ao longo dos anos. Em pesquisa da XP (XPBR31) com dados da Economatica, as gestoras independentes tinham em 2015 uma participação de 31% no patrimônio do setor. Já em 2019, antes da pandemia, essa fatia era de 34%.

Com o mercado ainda em desenvolvimento, o crescimento dessas gestoras chama a atenção de bancos tradicionais, que buscam por maneiras de abocanhar um pouco desse sucesso.

Então os “bancões” fazem aportes nessas casas independentes, buscando por participações minoritárias em troca de expertise do mercado. Conseguem assim capitalizar a expansão dessas gestoras, sem correr o risco de serem acusadas de práticas anticompetitivas no mercado.

Na linha de frente desse movimento de consolidação das gestoras independentes, estão o BTG Pactual (BPAC11) e a XP.

Desde 2020, o BTG já fez sete aquisições minoritárias em empresas desse estilo, enquanto a XP fez oito.

O Itaú (ITUB4) também participa dessa tendência, mas em menor escala, tendo comprado apenas quatro gestoras nos últimos anos.

“A XP e o BTG são instituições menos 'burocráticas' em comparação aos bancos tradicionais e quase sempre tem mais agilidade e apetite para novas aquisições e testar novas plataformas financeiras”, explica David Denton, diretor da empresa Okto Finance.

Para ele, as gestoras independentes costumam ser mais “amigáveis” para os clientes, o que atrai “um novo segmento de investidores que antes não estava atuando nos mercados”. 

Assim, essas aquisições minoritárias fazem com que a XP e o BTG consigam ter acesso a um público que antes não se sentiam acolhidos por instituições mais robustas.

A estratégia por trás da consolidação

Denis Morante, sócio-diretor da Fortezza Partners – empresa especializada em assessoramento de M&As – , avalia que esse movimento por parte da XP e do BTG é uma forma dessa empresa manterem contato com profissionais que não têm o interesse de estarem “dentro da casa.”

“As gestoras independentes existem porque alguém muito talentoso está trabalhando dentro de um banco ou empresa semelhante, até ele ficar insatisfeito. Então, decide sair e criar a sua própria empresa”, explica Morante. 

Dessa forma, ter uma participação minoritária nessas gestoras independentes garante que esses grandes sócios consigam se aproximar desses “talentos” sem podar autonomia que foi alcançada por eles. “Por serem sociedades minoritárias, a participação desses grandes bancos acaba sendo restrita no dia a dia desses escritórios”, diz o diretor da Fortezza Partners. 

Do lado das gestoras independentes, essas sociedades garantem um “selo de qualidade” para quando elas passam a buscar uma questão mais institucional. “Esse ‘selo’ faz os investidores olharem para as gestoras com mais confiança. Então, se a XP ou BTG confia neles, porque eu não confiaria?”, aponta Morante. 

O diretor da Fortezza explica que a própria XP é um exemplo dos benefícios que esse “selo de qualidade" traz para nomes ainda em crescimento no mercado.

“Quando a XP recebeu o Itaú como sócio minoritário, ela começou a ‘voar’ no mercado”. 

Além disso, como a XP e o BTG não têm participação suficiente para interferir diretamente nos ativos geridos, sendo que normalmente o seu apoio é focado na governança das empresas menores.

Para Morante, é isso que faz a estratégia de sociedades minoritárias ser bem sucedida, pois se esses bancos maiores quisessem entrar no dia a dia das gestoras, com uma eventual fusão, o gestor perderia a autonomia que ele tinha antes. 

“Se caminhar para fusões, então todos perdem valor. Essa é uma concentração financeira do mercado, porque esses bancos estão participando do capital dessas gestoras, mas não é uma concentração de poder, para fechar o mercado, porque esses gestores independentes ainda competem entre si”, explica Morante.

“Eu sou um parceiro”

Leon Goldberg, sócio da XP e responsável pela área de parceria também vê na associação entre gestoras e instituições maiores como uma forma de impulsionar as casas independentes.

Sobre a estratégia da XP na aquisição de sociedades minoritárias em gestoras independentes, ele afirma que, com a maturidade do banco digital, a empresa observou que poderiam contribuir com o crescimento de “parceiros autônomos”.

“Acreditamos que podemos complementar o conhecimento de algumas gestoras parceiras, com um pouco de visão de mercado. A gente entra como um sócio estratégico, que consegue agregar em alguns pontos para crescimento do negócio do gestor. Mas não vamos interferir no dia a dia, para que aquilo não perca o seu valor. Então, é muito importante deixar a independência deles”, afirma Goldberg.

O sócio da XP explica que essa participação no capital das gestoras independentes funciona como uma parceria, pois se o escritório crescer, todos ganham. Mas, se o negócio não der certo, a XP também perde com isso.

“É por isso que a escala dessa estratégia é limitada, pois, se você ajuda muita gente, você perde o foco na hora de agregar valor”, exemplifica. 

Goldberg diz que é fundamental conhecer a cultura dessas gestoras antes de realizar essas parcerias, pois as ideias precisam estar alinhadas para que o trabalho seja colaborativo. Também destaca que a avaliação da gestpra precisa ser associada à confiança no gestor, pois não é do interesse da XP fazer das aquisições minoritárias um negócio.

Procurado pela reportagem, o BTG Pactual decidiu não se manifestar sobre o assunto.

Sair da versão mobile