O governo brasileiro negocia atualmente pelo menos quatro importantes acordos de livre comércio, entre eles entre o Mercosul e a União Europeia, considerado o mais aguardado. Levantamento inédito da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que mais produtos brasileiros poderiam ser beneficiados se o país tivesse acordos com economias onde ainda não há nenhuma negociação em andamento. É o caso, por exemplo, dos Estados Unidos (EUA). Segundo a entidade, há oportunidades em grupos de produtos de setores como alimentos, químicos, veículos automotores, madeira, couro e calçados. Há vantagens em potencial também com a África do Sul e com países da América Central que fazem parte bloco regional Sistema de Integração Centro-Americana (Sica), formado por Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá e República Dominicana. Ao todo, 134 grupos de produtos poderiam ser beneficiados.
Nas economias com as quais o Brasil negocia diretamente, como Canadá, Coreia do Sul e a Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA) – formada por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein -, há oportunidades, mas elas são bem menores. Para chegar a esse resultado, a CNI cruzou os dados de sete estudos que tratam das oportunidades para as exportações brasileiras, com as tarifas cobradas dos produtos nacionais que poderiam ser reduzidas ou zeradas em um acordo comercial.
“Não é que deve haver uma reorientação das atuações negociações, mas é preciso abrir novas negociações de acordos comerciais, porque o estudo mostra que temos mais oportunidades com países com os quais ainda não estamos negociando”, explica Diego Bonomo, gerente executivo de Assuntos Internacionais da CNI. Para se ter uma ideia, dos 134 grupos de produtos brasileiros exportados para os EUA, 70 enfrentam altas tarifas de importação, como o imposto cobrado sobre fumo (77,8%), veículos (25%), carne bovina (10,9%), partes de calçados (9,%) e polietileno (6,5%). No caso EFTA, bloco com o qual o Brasil já negocia um acordo, o número de produtos que enfrentam tarifas de importação é menor, cerca de 39.
“Mais negociações em andamento fazem com que os países queiram competir entre si pelo acesso preferencial ao mercado brasileiro. Você não cria nenhum estímulo para o europeu fechar uma negociação, por exemplo, se ele não se sente ameaçado por outro país, como os EUA e o Japão, que também poderiam estar negociando com o Brasil. É o que as grandes potências fazem, elas estabelecem essa dinâmica de negociar vários acordos ao mesmo tempo”, argumenta Bonomo, da CNI.
Prioridade
A principal região do mundo a ser explorada pelo país, defende Diego Bonomo, são as Américas, onde o Brasil mantém acordos apenas com os vizinhos mais próximos. “Praticamente existe uma área de livre comércio na América do Sul, onde o Brasil tem acordos com praticamente todos os países, mas não há nenhum acordo com a América Central nem com os três da América do Norte (México, EUA e Canadá). É a região onde a indústria brasileira tem mais oportunidades no momento”, afirma.
No caso da América Central, um acordo do Brasil com o Sica poderia reduzir ou eliminar barreiras tarifárias para 80 produtos brasileiros, que enfrentam altos impostos, como móveis de madeira (15%), açúcar de cana (144%), couros (15%), ladrilhos de cerâmica (10%) e papel (7,3%). Trata-se de uma região com oportunidades maiores do que a Coreia do Sul, país que atualmente negocia um acordo com o Brasil, mas onde um número menor de 26 grupos de produtos enfrentam tarifas de importação.
Alternativas
Fora das Américas, um país com grande potencial para a indústria brasileira seria a África do Sul, maior economia do Continente Africano. “Nosso acordo com eles é muito pequeno. Sabemos que eles têm receio de negociar com o Brasil por causa da competitividade na nossa agricultura e da indústria, mas um acordo seria a primeira âncora mais forte no continente, onde o Brasil só tem acordo com o Egito”. Para contornar a resistência de países emergentes, como a África do Sul e o México, Diego Bonomo sugere a possibilidade de acordos que englobem uma gama maior de produtos. “Não precisa ser necessariamente um acordo de livre comércio, podendo deixar setores mais sensíveis de fora, mas é possível ampliar bastante as oportunidades”, ressalta.
No caso do Japão, de 50 grupos de produtos brasileiros, em 21 deles o exportador enfrenta tarifas de importação. Exemplos de produtos e o percentual do imposto de importação cobrado são: carne suína (48,3%), couros (14%), álcool etílico (8%), ácido glutâmico e seus sais (5,2%) e ferroligas (2,5%). Bonomo acredita que o país asiático, um das economias mais desenvolvidas do mundo, estaria mais aberta a negociar com o novo governo brasileiro. “O Japão é muito defensivo na questão agrícola, nem tanto com o Brasil, mas com outros países sul-americanos, principalmente por causa da exportação do arroz, produto que tem valor cultural forte para eles e por isso sofre barreiras de importação. Mas o governo brasileiro já sinalizou que quer e o Japão está interessado em se aproximar do governo”, avalia.
Canadá e União Europeia
O acordo com a União Europeia já está concluído em 95%, mas ainda depende de um movimento do bloco europeu em torno de uma oferta agrícola mais favorável para os países do Mercosul, afirma Diego Bonomo. “Se o acordo com a União Europeia avançar, com o EFTA também avança”.
Em curto prazo, no entanto, o acordo que tem mais chance de sair seria com o Canadá. Ao menos 17 grupos poderiam ser beneficiados com esse acordo, como trigo, produtos de carne, calçados, lápis e automóveis. “Eu acho que o Canadá seria um bom acordo para fechar este ano, porque seria o primeiro acordo com uma economia desenvolvida e uma sinalização para a União Europeia, para deslanchar de vez”, conclui.