Crédito open banking

Com open banking, dados para o crédito podem pular da escassez para o excesso

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Uma das grandes chagas que foram expostas com cores e luzes pela pandemia do Covid 19 é a concessão de crédito para empresas e pessoas físicas. Apoiadas no argumento da escassez de dados para desenvolver políticas mais abrangentes e flexíveis, as instituições financeiras se acostumaram, ao longo dos anos, a oferecer burocracia e altas taxas em produtos e serviços que elitizam o financiamento, criando um círculo vicioso na economia.

O Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) divulgou um levantamento realizado com dados do Banco Central ilustrando que, apesar de um aumento de 15% no volume de crédito concedido nos dois primeiros trimestres de 2020 em relação a 2019, grande parte desse dinheiro foi direcionado a médias e grandes empresas. E que não chegou até as pequenas empresas.

Ou seja, certamente, essas companhias menores não passaram no estreito funil das instituições financeiras devido à percepção de risco de inadimplência, e à falta de comprovação de como poderão honrar seus compromissos futuros.

Com a chegada do Open Banking, assim como do PIX e da consolidação o Cadastro Positivo, o país pode estar prestes a sofrer uma reviravolta histórica neste cenário. A expectativa é de que essa narrativa da falta de informações caia rapidamente em desuso e possamos assistir ao nascimento de uma nova era para o sistema de crédito nacional. Mas, para que o entusiasmo não se transforme em frustração, é preciso que sejam tomadas medidas para evitar uma mudança completa de argumento, sem que nenhuma alteração relevante aconteça na estrutura do sistema.

Afinal, com essas novas ferramentas e uma boa estratégia de convencimento do proponente ao crédito a conceder acesso a essas informações, ninguém poderá dizer que sente falta de dados. Apesar disso, se a indústria financeira não se estruturar para analisar corretamente esses insights, é possível que o excesso de dados impeça um melhor uso da informação. O famoso “se afogar nos dados”

Se até aqui os bancos ficavam restritos às informações fornecidas pelos bureaus negativos de crédito, o novo ambiente produzirá a proliferação de fontes.

Por um lado, o Open Banking inverterá a lógica da posse dos dados. Hoje eles são considerados de propriedade das instituições. Cada companhia tem seu banco de dados e o mantém em segredo. Com o novo sistema, os dados são efetivamente tratados como de propriedade do próprio consumidor. Assim, eles deverão ser compartilhados de forma padronizada sem travas, desde que autorizada pelo proprietário. Isso vai “mexer” com a concentração dos dados de correntistas brasileiros e ampliar a oferta de produtos e serviços, aumentando também a concorrência.  Resultado: os dados de qualquer correntista estarão acessíveis, em primeira mão, sem os temidos entraves e intermináveis processos burocráticos inerentes às instituições tradicionais locais.

Por outro lado, o PIX com seu conjunto de benefícios, facilidades e redução de custos promete incluir no sistema financeiro um contingente de milhões de brasileiros que hoje estão à margem da economia formal.

Enquanto isso, o Cadastro Positivo estará crescendo em volume de dados e oferecendo informações mais completas e complexas do que se alguém deixou de pagar alguma parcela de um financiamento em algum momento da vida.

Com essa profusão de informações vindas de todos os lados, será possível conhecer mais profundamente o perfil de cada cliente e, assim, desenvolver produtos com exigências diferenciadas para acesso, taxas adaptadas a cada condição e necessidade, formas de parcelamento e pagamento e muitos outros detalhes. Isso certamente terá um potencial de expandir significativamente o volume de crédito concedido no Brasil financiando o consumo, fortalecendo a produção na indústria, gerando empregos e completando o círculo virtuoso que todos esperam.

Mas isso só será possível se as instituições se prepararem adequadamente. Essa preparação já está em curso para o incumbentes, mas também vemos os insurgentes se proliferarem e prometerem uma arena competitiva onde se torna bem crível a perspectiva de mudança no cenário de taxa, prazos, tickets e etc.

Um volume tão grande de dados vindos de todos os lados exige estrutura tecnológica robusta e desenvolvida estrategicamente para captar, peneirar e analisar essa massa crítica de informações e gerar inteligência de negócios.

Caso contrário, a abundância de dados terá tanto efeito quanto a escassez, e o resultado será mais do mesmo.

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