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Como o ouro funciona no mercado - e por que ele está valorizando

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Nem renda fixa nem variável: o ouro é um hedge, estratégia para reduzir ou eliminar futuras perdas com a variação de preços. Conhecido como ativo “porto seguro”, assim como o dólar, o metal tem se valorizado significativamente nos últimos anos, e especialistas identificam o motivo em uma palavra principal: crise. 

O ouro é velho conhecido de investidores em momentos de instabilidade financeira. As aplicações fecharam o ano passado com retornos de 28,1%, e a tendência é que os preços continuem aumentando neste ano, ou enquanto durar o cenário crítico de pandemia.

Na noite de terça-feira (6), o ativo alcançou sua maior máxima intradiária desde 2012, quando o preço do ouro negociado em Nova York tocou US$ 1.742,2 a onça troy (31g). Apesar de fechar o dia seguinte (7) em baixa, a commodity valorizou 9,12% nos últimos seis meses, de acordo com o site de monitoramento Gold Price.

Aversão a riscos alavanca metal dourado

A crise do coronavírus deixou o mercado financeiro ainda mais tenso sobre os rumos da economia. Em cenários de crise, o clima é de aversão a riscos, ou seja, a corrida por ativos mais seguros.

Como o dólar, o metal é considerado um porto seguro, que se torna ainda mais atraente com os juros baixos oferecidos em títulos públicos de governos, rendimentos de renda fixa. 

“O ouro tem uma peculiaridade, porque não perde o valor intrínseco mesmo quando desvaloriza”, explica Mauriciano Cavalcante, gerente de câmbio da empresa especializada em mercado de ouro ativo, Ourominas. O movimento também acompanha a moeda americana. “Com o dólar disparando, o ouro acompanhará essa alta”, diz. O metal também apresenta alta liquidez e os preços são definidos diariamente. 

Por isso, o ouro valoriza em momentos de crise. Cavalcante destaca que o crescimento não é de agora, já que a década passada foi marcada por instabilidades: “em todos os anos, temos enfrentado crise, seja política, interna”. O ano de 2019, por exemplo, foi marcado pela “guerra” comercial entre China e Estados Unidos – e o ouro registrou retorno de 28%. 

Guilherme Lisbão, estrategista da EOS Investimentos, destaca que “o ouro é uma reserva de valor, e quando você começa a perder a confiança na capacidade das moedas nacionais reterem valor ao longo do tempo, foge pro ouro.”

O papel é considerado um ativo real, e se difere de outras commodities porque é menos usado na indústria e tem um caráter ainda mais especulativo. “Não quer estar exposto à inflação: compra ouro”, diz Lisbão.

Ele funciona como uma proteção do patrimônio, que “segura” a desvalorização de outros investimentos na carteira, por sua estabilidade e menor oferta.

Mas é um ativo sem rendimentos, dividendos ou aluguel. Nem juros, como títulos do governo. Por isso, é considerando um “investimento melhor quando as taxas de juros globais estão baixas”, finaliza.

Por enquanto, a tendência é que o preço cresça ainda mais enquanto houver crise, diz Cavalcante, da Ourominas. “Previsão é de que vá buscar patamares mais altos, tanto por proteção quanto aversão a riscos.” Pode cair se a pandemia se estabilizar até o fim do ano e com acordos sobre o preço do petróleo, destaca ele.

Isso significa que é o momento errado para comprar o metal? Não necessariamente, dizem especialistas, já que o preço da onça ainda pode aumentar. Mas lembram que, apesar do grau de segurança, o ouro é recomendado para acionistas de perfil mais agressivo. 

Como a variação de seu preço é alta, é possível perder ou ganhar muito em curto espaço de tempo, explica o gerente da Ourominas. Por isso, ele indica que o ouro seja considerado um investimento de médio e longo prazos. 

“Se os juros em países desenvolvido subirem, o preço [do ouro] cai. Pode ocorrer a superoferta de ouro no mercado se algum Banco Central resolve vender estoques. Além disso, ele só vale porque as pessoas acreditam que é boa reserva de valor. Não é livre de riscos”, afirma Lisbão, da EOS.

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