Economia sustentável

COP26 chega ao fim e exige mudanças nas economias

No mercado financeiro, evento pode até não trazer impacto imediato, mas ajuda a consolidar um movimento que vem favorecendo empresas que têm práticas sustentáveis

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Oficialmente, a COP26 termina nesta sexta-feira (12), em Glasgow, na Escócia. Mas os ecos da conferência do clima das Nações Unidas vão reverberar pelos próximos anos. O encontro debateu medidas mais sustentáveis e metas para que o mundo consiga frear as mudanças climáticas. 

Embora a discussão possa parecer distante, ela afeta diretamente a economia dos países e empresas que integram seus setores produtivos, impactando, consequentemente,  o estilo de vida e o dia a dia das pessoas.

“A COP26 constituiu um marco já em sua abertura, quando o Príncipe Charles chamou à responsabilidade também o setor privado, considerando-o fator crítico para o sucesso de qualquer conjunto de ações que favoreça à agenda climática”, avalia Alaercio Nicoletti Junior, coordenador do curso de pós-graduação de Engenharia de Sustentabilidade da Universidade Presbiteriana Mackenzie e gerente de Sustentabilidade do Grupo Petrópolis.

Um dos principais pontos é o comprometimento com metas para o cumprimento do Acordo de Paris, que pretende limitar o aquecimento global. Segundo Nicoletti Júnior, esse ponto afeta diretamente o setor industrial, exigindo mudanças importantes.

 “Afeta não só pelos compromissos assumidos, mas também pela mudança de comportamento global, que já vem alterando os padrões de consumo para produtos e serviços aderentes ao ASG (Ambiental, Social e Governança) e tende a ser intensificado por um evento com a repercussão da COP26”, diz.

Agro será impactado

Mundialmente, outro setor que deverá ser impactado com as repercussões de metas assumidas, como a de redução de 30% na emissão de metano, é o agropecuário, afirma Nicoletti Júnior. 

“Agora é uma questão de levar em frente o que se colocou no papel e protagonizar as mudanças necessárias para a concretização dos planos. As empresas terão que, em alguns casos, reinventar suas práticas, reduzindo desperdícios, circulando resíduos e desenvolvendo produtos mais favoráveis ao meio ambiente. Certamente os consumidores cobrarão essa postura”.

Financiamento

Sergio Gusmão Suchodolski, presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), esteve em Glasgow durante a primeira semana da COP26 e considera que uma parte crucial das discussões realizadas diz respeito ao financiamento necessário para que se atinja as metas impostas.

“Isso exige que países redirecionem recursos domésticos e impulsionem suas agendas de cooperação internacional. A necessidade cada vez maior de uma recuperação econômica em bases sustentáveis, em especial depois da crise causada pela pandemia da Covid-19, trouxe o financiamento sustentável para o centro do debate global”, explica.
 
É nesse cenário que Suchodolski destaca o papel das Instituições Financeiras de Desenvolvimento (IFDs). As IFDs são instituições capitalizadas via fundos de desenvolvimento ou se beneficiam de garantias governamentais e incluem bancos internacionais, nacionais e regionais de desenvolvimento, além de agências de fomento.

Ele considera que as IFDs podem desempenhar um papel fundamental conectando oferta e demanda, ou seja, “instituições multilaterais/internacionais e financeiras a atores nacionais e subnacionais que já perceberam a urgência de alavancar recursos próprios para tornar realidade a agenda de sustentabilidade''. 

Nessa linha, o presidente da Abed diz que a captação de recursos internacionais e o desenvolvimento de instrumentos financeiros inovadores, a exemplo de títulos verdes, entre outros, são alternativas valiosas para potencializar a atuação das instituições financeiras de desenvolvimento.

Suchodolski destaca que o Sistema Nacional de Fomento (SNF) tem conseguido identificar e apoiar projetos em nível local, regional e nacional e, por isso, deve ser um ator importante para a definição de estratégias que viabilizem a realização dos investimentos necessários ao cumprimento das prioridades estabelecidas para uma transição sustentável. 

“ABDE segue comprometida com a agenda 2030 e parte desse esforço está concentrado na geração de conhecimento sobre a atuação do IFDs brasileiras, para o cumprimento dos ODS e no estabelecimento de parcerias estratégicas, a fim de mobilizar e engajar os atores do SNF em prol dessa agenda”, detalha.

Como parte desses esforços, a ABDE lançará um documento em março de 2022 composto por ações e propostas concretas que visam contribuir com o país no cumprimento das metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Mercado de investimentos

Na opinião de Guilherme Lisbão, analista na EOS Investimentos, os debates da COP26 não terão impacto imediato no mercado de investimentos, mas ajudam a consolidar um movimento que já vem acontecendo, que liga o desempenho à credibilidade das empresas que têm práticas sustentáveis. “Até porque os investidores estão cada vez mais receosos em investir em quem não tem nenhum compromisso com a sustentabilidade”, diz.

Apesar disso, Lisbão fala em cautela. Mesmo que a pauta ESG (da sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) esteja em alta, a precificação de papéis ligados a ela não seguem tanta euforia.

“Tem muita empresa boa, mas muito frisson. O investidor tem que olhar com cuidado para tudo isso”, aconselha. Olhando com cuidado e entendendo que o assunto envolve diretamente algumas setores como o de energia e combustíveis, mas também permeia de certa forma a atuação de todas as empresas, alerta o analista.

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