O Cordão da Bola Preta, como faz há 101 anos, deu o tom da festa de Momo deste ano ao abrir oficialmente o carnaval de rua do Rio de Janeiro, neste sábado (2). Tendo a atriz Paolla Oliveira como rainha do bloco e sob uma chuva intermitente, o Bola Preta levou para o centro do Rio centenas de milhares de foliões. Nos microfones do carro da agremiação, o presidente do bloco, Pedro Ernesto Marinho, ressaltou a emoção e alegria de estar mais uma vez à frente do Bola.
“A energia é a mesma do início da criação da agremiação, lá atrás”. Diante de milhares de foliões, aguardando o início do desfile, Marinho conclamou a multidão a cair na folia. “Brinquem, brinquem muito. Pulem, se divirtam, beijem na boca, façam amor, mas não esqueçam de usar camisinha. Sejam felizes, mas acima de tudo respeitem as mulheres. E lembrem-se sempre: não é não!”, disse para delírio da multidão.
Um das mais tradicionais blocos de rua da cidade, o Bola Preta desfilou repleto de celebridades em cima do carro de som. Ao ritmo da Marcha do Cordão da Bola Preta, lá estavam, além de Paolla, a também atriz Leandra Leal, porta-estandarte do bloco, e a madrinha, a cantora Maria Rita.
Mas o direito de entoar a marcha e seguir atrás do bloco cantando (Quem não chora não mama/Segura, meu bem, a chupeta/Lugar quente é na cama/Ou então no Bola Preta) era de todos os foliões.
Quem não parava de cantar, por exemplo, era Adriano Pereira Pinto, de 7 anos, morador de Niterói. “Carnaval é alegria, felicidade. Eu gosto do carnaval, das cores, fantasia! Eu amo fantasia, principalmente as de [super] heróis. O carnaval é bom, é só felicidade com as pessoas brincando, dançando, disse sob o olhar curioso do irmão Daniel, de 5 anos, e ao lado dos pais.
Em outro ponto do bloco, a dona de casa Rosângela Pereira, de 69 anos, ainda que timidamente, falava da importância do Bola Preta para ela nestes dias de folia. “Todo ano eu estou aqui! Este é o único bloco que eu participo, e já o faço há mais de dez anos. Mas eu espero que o carnaval melhore; hoje o bloco está mais restrito, e o cordão [de isolamento] deixa a gente mais longe do som”, lamentou, mas com esperança de dias melhores. No entanto, admitiu que talvez não volte a desfilar, diante do gigantismo que o carnaval de rua s transformou em todo o país.
Vem pro Bola, meu bem/Com alegria infernal/Todos são de coração/Todos são de coração(Foliões do carnaval/Sensacional!. Como que atendendo o chamado da marchinha, Paolla Oliveira não resistiu e desceu do carro de som, passando a cantar e sambar no meio dos muitos foliões separados da multidão pelo cordão de isolamento de que tanto dona Rosângela reclamava.
Diversificação e pluralidade
O Bola Preta é isto: diversificação, mistura, pluralidade (de raça, sexo e opinião), mas é, acima de tudo, povo. Lá estava, não por acaso, Jadiel Lima dos Santos, de 26 anos. Morador de Indaiatuba, cidade do interior de São paulo, Jadiel aproveitava para conciliar diversão e trabalho.
“Enquanto a maioria apenas brinca, a gente se diverte; mas também aproveita para ganhar uns trocados e levar algum para casa. Nós viemos em três, e catamos lata durante os cinco dias de carnaval no Rio. Aa gente veio para curtir, mas também pra trabalhar. Se juntarmos três sacos com latinhas, dá uns 100 quilos e aí a gente consegue faturar R$ 70 a R$ 80 por dia cada um”, disse.
Propósito diferente tinha Marcelo Marinho, de 38 anos, morador de Anchieta, na Baixada Fluminense. Ele e um grupo de amigos, todos faixa preta e professor de luta, tinham como único objetivo a diversão. Há 14 anos frequentando os desfiles do Bola Preta.
“Viemos, a maioria que está por aqui, para curtir o carnaval do Bola Preta e, por extensão, do Rio de Janeiro, que é um dos melhores do Brasil. Queremos que este carnaval transcorra em clima de muita paz e muito amor, descontração e alegria no coração. Porque, embora eu viva da luta, hoje é um dia de paz”, disse.
Propósito idêntico ao da estudante de psicologia Mariana de Oliveira, de 22 anos. “O carnaval é maravilhoso moço. Eu fico esperando o ano inteiro pela festa, e venho todos os anos, principalmente no Bola Preta. Vinha quando ainda pequenininha com a minha mãe e a minha avô, mas hoje já posso vir sozinha, mas estou com meu namorado”.
Mas nem tudo estava perfeito, a falta de banheiros químicos foi de reclamação de alguns foliões, entre eles, o técnico em enfermagem Jéferson da Silva Barros, de 37 anos, também de Anchieta, integrante do Bonde da Mamarete.
“Da Central até aqui não tem um banheiro químico. Eles só botam [os banheiros] nas imediações dos blocos, mas a gente vem bebendo de longe, e caminhando até aqui, sem encontrar um banheiro químico pelo caminho. Um amigo já tomou uma multa [por urinar em via pública]”, denunciou.