De olho no momento

Dólar abaixo de R$ 5,00 traz oportunidades, mas investidor precisa medir riscos

A queda da moeda acontece em meio à escalada dos preços das commodities no mercado internacional e a uma inflação persistente no país

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Por Ana Beatriz Bartolo, da Investing.com – O dólar rompeu essa semana a barreira psicológica dos R$ 5,00 pela primeira vez desde junho do ano passado, o que pegou alguns investidores de surpresa. A queda na moeda acontece em meio à escalada dos preços das commodities no mercado internacional e a uma inflação persistente no país. Assim, um cenário que poderia ser positivo com a valorização do real e do Ibovespa acaba esbarrando em alguma dificuldades e se afogando na praia.

A desvalorização do dólar acontece porque há muito capital estrangeiro entrando no país, segundo Pedro Serra, head de Research da Ativa Investimentos, e isso fará com que a bolsa de valores suba. Porém, Serra explica que isso não significa necessariamente que o investidor internacional está apostando nas empresas brasileiras.

“Boa parte desse fluxo de capital estrangeiro que entrou no país é algo mais tático. O gringo não comprou a ideia do Brasil, ele procurou a exposição à commodities, então em algum momento esse investidor vai acabar indo embora”, explica o analista da Ativa.

Isso quer dizer que o mercado tende a ficar volátil no curto prazo. Os investidores vieram ao Brasil procurando por ativos que irão se valorizar com a alta do preço das commodities no mercado internacional. Mas eles podem ir embora quando essas oportunidades deixarem de ser interessantes.

Gustavo Gomes, sócio e assessor de renda variável da Acqua Vero Investimentos, concorda que essa combinação de dólar mais barato e commodities mais caras é o que está acontecendo neste momento e traz benefícios e malefícios que praticamente se anulam. Um bom exemplo para esse contexto ambíguo são as empresas de aviação, como Embraer (SA:EMBR3), CVC (SA:CVCB3), Gol (SA:GOLL4) e Azul (SA:AZUL4).

“As pessoas viajam mais quando o dólar está mais baixo e as companhias de aviação, que têm como principal custo o combustível, se beneficiam porque o querosene dos aviões será cobrado em um real mais valorizado. Porém as commodities estão subindo, como o preço do petróleo que já chega aos US$ 100 o barril, então isso acaba deixando no ‘zero a zero’ essa vantagem do dólar mais baixo”, explica Gomes.

Ainda assim, o sócio da Acqua Vero aponta que algumas companhias do setor de alimentos, como a M. Dias Branco (SA:MDIA3) e importadoras de amêndoas, por exemplo, podem se beneficiar desse momento, porque elas estarão trazendo para o Brasil produtos que não são cultivados aqui a um custo mais barato. Laboratórios de remédio ou o setor de saúde, que importa insumos e equipamentos, também serão afetados positivamente pela desvalorização do dólar, complementa Serra, porém isso deve acontecer em menor escala.

Por outro lado, “empresas que possuem muitos negócios lá fora, como a Ambipar (SA:AMBP3) e a Gerdau (SA:GGBR4), devem sofrer um efeito negativo nas receitas”, afirma Serra. Gomes ainda complementa: “As exportadoras, como CSN (SA:CSNA3) Mineração (SA:CMIN3), Vale (SA:VALE3), JBS (SA:JBSS3), Marfrig (SA:MRFG3) e BRF (SA:BRFS3), também saem prejudicadas. Porque boa parte das suas receitas vêm de negócios estrangeiros e, com o dólar mais baixo, a receita convertida para o real acaba diminuindo, enquanto as despesas em moeda nacional permanecem”.

“Porém, a alta da inflação mais do que compensa a alta do dólar para as exportadoras de commodities. Não é uma conta tão simples, mas acaba que os setores não sofrem tanto assim”, argumenta o especialista da Ativa.

Apesar dos investimentos no Brasil se equilibrarem entre ganhos e perdas com a queda do dólar, Gomes explica que isso pode trazer uma oportunidade para quem busca dolarizar a carteira. “ O cenário já era favorável quando o dólar estava a R$ 5,50, porque os ativos internacionais também estavam depreciados, assim como os brasileiros, então agora com o dólar a R$ 4,70 isso é ainda melhor, porque você consegue gastar menos e ter um maior poder de compra. Só é preciso pensar quais ativos comprar lá fora”, comenta o sócio da Acqua Vero.

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