Dólar cai 5,6% em janeiro e fecha em R$ 3,66; analistas veem juro em queda e dólar incerto

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O dólar comercial, das grandes operações de exportação e importação e investimentos, fechou em queda na quinta-feira, último dia de janeiro, de 1%, para R$ 3,6580, a menor cotação do ano. A moeda refletiu as declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Jerome Powell, que no dia anterior indicou que os juros americanos não devem subir tão depressa. O presidente americano Donald Trump também adiou o aumento de tarifas de produtos importados da China, reforçando a expectativa de um acordo para parar com a guerra comercial entre os dois países. Além disso, no mercado local, declarações do governo de que espera aprovar a reforma da Previdência ainda no primeiro semestre e dados mais positivos das contas públicas no ano passado ajudaram a derrubar a moeda ontem.

Queda de 5,60% em janeiro

Com isso, o dólar comercial fechou janeiro com uma queda de 5,60% no mês e uma valorização de 14,63% em 12 meses. O recuo da moeda em janeiro refletiu o otimismo com o novo governo de Jair Bolsonaro, que promete uma reforma da Previdência mais ampla até do que o esperado, com um novo regime de capitalização e a inclusão dos militares. No exterior, os sinais de que o Fed e outros bancos centrais serão mais comedidos na alta dos juros e no aperto de liquidez também ajudaram a reduzir a busca por proteção em títulos americanos e enfraqueceram o dólar diante das moedas de emergentes. Isso derrubou também o risco medido pelo CDS Brasil de 5 anos, que encerrou o mês em 1,66 ponto percentual acima dos juros americanos.

O dólar turismo fechou o mês em R$ 3,86, ante R$ 4,08 no fim de dezembro, uma queda de 5,40% no mês e uma boa notícia para quem vai viajar ao exterior ou fez compras com cartão lá fora. 

Os juros também recuaram, com as projeções para 2020 passando de 6,557% ao ano para 6,38% e o de 2021 caindo de 7,31% em dezembro para 7,01% no dia 31 de janeiro. Para 2025, a taxa caiu de 9,10% para 8,64%. Isso trará ganhos para investidores que aplicaram em papéis prefixados no Tesouro Direto, como as LTNs, e para quem investiu em fundos renda fixa.

Queda do juro e incerteza com futuro do dólar

Há um certo consenso entre os analistas sobre o espaço e até a necessidade de queda dos juros básicos, hoje em 6,50% ao ano, caso se confirme o cenário de aprovação da reforma da Previdência. Pedro Jobim, economista-chefe da gestora Legacy Capital, acha que há um ambiente doméstico, de fraqueza da economia e capacidade ociosa, e um ambiente externo, com os bancos centrais dos EUA, Europa e Ásia preocupados em estimular a atividade econômica, que favorece uma queda dos juros reais. “Há um entorno externo que permite um juro real de equilíbrio, que não afete a inflação, mais baixo no Brasil”, afirmou, durante evento do Credit Suisse esta semana. Jobim diz que a gestora já baixou sua estimativa de inflação de 4,1% neste ano para 3,6% e acredita que o juro real ideal para o Brasil estaria agora em torno de 2% ao ano. “Isso permitiria ao Banco Central manter uma taxa estimulativa para a economia, e a Selic deveria estar entre 5,5% e 5% ao ano”, diz. Para ele, assim que a aprovação da reforma da Previdência for confirmada, o BC pode reduzir os juros.

Já Daniel Leichsenring, economista-chefe da Verde Asset, trabalha com um crescimento do PIB este ano de 3%. Segundo ele, o país está hoje com um nível de risco internacional proporcional ao de países com grau de investimento, o que pode ajudar o Brasil a baixar seus juros. E há eventos desde a eleição que devem levar a uma aceleração da economia. Mas a reforma da Previdência e os ajustes nas folhas de pagamento dos Estados, imprescindíveis para o ajuste fiscal do país, deverá afetar a renda de parte da população e alterar hábitos de consumo. E a alternativa para estimular a economia será via redução da taxa de juros. “Podemos ter uma taxa real de 2 pontos percentuais e um juro nominal abaixo de 6,5%, o que terá vários impactos importantes na economia e nos mercados”, diz. Ele espera que isso aconteça após a aprovação da reforma da Previdência na Câmara, até o início de julho. “Depois de passar na Câmara, vai ser só festa”, diz.

Dólar perto de R$ 3 ou acima de R$ 4

Um dos impactos da redução dos juros deverá ser na taxa de câmbio. Apesar da melhora das condições da economia brasileira após a aprovação das reformas, que deveria baixar o dólar, a taxa real de juros brasileira em 2% vai ficar muito próxima ou até abaixo da dos títulos americanos. “Aí muita gente vai preferir investir lá fora em dólar em vez de aplicar em reais e isso pode puxar o dólar para cima, para R$ 4,00, R$ 4,50”, diz. Há ainda a possibilidade de investidores pegarem empréstimos em reais com essa taxa de juros mais baixa para aplicar no exterior, com taxas mais altas, como acontecia no Japão e na Europa quando os juros estavam perto de zero. Seria um “carry trade” ao contrário, que puxaria o valor do real. “Por isso, não dá para dizer com segurança qual a tendência do dólar”, afirma, acrescentando que a moeda pode ir a R$ 3,20 ou a R$ 4,50 por esses fatores.

Tendência de valorização

Já Jobim aposta em um movimento de valorização do real de longo prazo, com as contas externas equilibradas e o ajuste fiscal do governo Bolsonaro e as privatizações atraindo investidores estrangeiros para o mercado brasileiro. “Teremos uma entrada forte de investimentos estrangeiros, de US$ 30 bilhões, US$ 40 bilhões, em investimentos diretos em empresas ou em ativos financeiros, e isso vai pressionar o dólar para baixo aqui”, diz.

Além disso, a posição do Banco Central deve ser diferente na gestão Bolsonaro. “Em outras situações semelhantes, o BC atuou para segurar o dólar, vendendo contratos de swap ou comprando moeda, mas desta vez a visão do BC vai ser mais liberal, interferindo menos no mercado”, diz. Há também a visão de que o Brasil hoje tem reservas internacionais em excesso e, com um ajuste fiscal, poderia reduzir essa poupança externa. “O BC pode substituir parte dos swaps cambiais (contratos de dólar futuro) por dólar spot (moeda física) e assim reduzir um pouco o volume de reservas”, explica. Depois, a tendência de queda do dólar pode se acentuar. Ele diz que a Legacy está apostando na valorização do real em relação ao dólar.

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