À luz do segundo turno das eleições argentinas, após os resultados do último domingo (22), muito tem se dito sobre o candidato à presidência de extrema-direita Javier Milei, que tem como uma de suas propostas a preocupante dolarização da economia do país.
“Estávamos avançando nas negociações e já conseguimos os dólares para dolarizar a economia ao valor do dólar de mercado. Continuamos trabalhando para resolver um grande problema da Argentina, que é a inflação”, escreveu Milei nas redes sociais, sem explicar como conseguiria os recursos.
No cenário latino-americano, já há três países que tiveram suas economias dolarizadas: Equador, El Salvador e Panamá.
Equador
Em janeiro de 2000, Jamil Mahuad, então presidente equatoriano, começou a dolarização do país. Na época, o Equador passava por uma grave crise econômica, resultante da hiperinflação, instabilidade bancária e desvalorização constante do sucre, moeda local.
Feito em etapas, o processo de substituição da moeda local pelo dólar trouxe múltiplos desafios, como a dependência do dólar norte-americano, que faria com que o país ficasse vulnerável a mudanças na política estadunidense, e a perda da capacidade de usar a política monetária para ajustar a economia em momentos de crise.
Apesar dos benefícios imediatos, como estabilidade nos preços, redução da inflação e maior confiança nas transações comerciais, o país atualmente enfrenta uma séria crise econômica, com um déficit fiscal de quase R$ 50 bilhões, conforme apontado pela CNN Brasil.
Milei, no entanto, já teria utilizado a dolarização da economia do Equador como um exemplo durante a sua campanha para a presidência argentina. Elogiando o processo, ele colocou que os equatorianos estão “muito melhor” do que os argentinos.
El Salvador
No ano seguinte à dolarização do Equador, em 2001, Francisco Flores, o então presidente de El Salvador, anunciaria que o país passaria a utilizar duas moedas oficiais, o cólon local e o dólar. Com o passar do tempo, o cólon perdeu o seu espaço, e o país adotou apenas o dólar.
A medida foi parte de uma condição imposta no Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos, e também acabou gerando dependência do país norte-americano.
Em 2021, além do uso do dólar, o país foi o primeiro a adotar bitcoin como moeda legal, após o Congresso aceitar uma proposta do presidente Nayib Bukele. A adoção da criptomoeda foi um desastre, com baixa taxa de adoção e perdas vindas da oscilação da moeda – só 1,3% das pessoas que enviam dinheiro para fora o fazem por meio de cripto, segundo dados do banco central do país.
Panamá
No Panamá, a moeda oficial é o balboa, mas, o dólar norte-americano é amplamente utilizado e aceito. A moeda local tem paridade fixa com o dólar americano, o que significa que 1 balboa é equivalente a US$ 1.
Isso se deve, mais uma vez, devido a uma relação de dependência. O Panamá possui uma relação econômica e comercial estreita com os Estados Unidos.
Conforme apurado pela CNN Brasil, o balboa, moeda local, já não é mais impresso e quase não é utilizado no país. Cabe notar, também, que o Panamá é um paraíso fiscal, utilizado por figuras como políticos e personalidades que tenham offshores.