Economia brasileira

Economia brasileira segue em recuperação e choque de preços deve se dissipar

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A atividade econômica brasileira continua em plena recuperação. A recuperação da produção levou a confiança da indústria para o maior patamar desde abril de 2011, o que incentiva a recontratação de parte dos trabalhadores dispensados pelo setor no início da crise.

Assim, o mercado de trabalho vem se recuperando desde junho. No auge da crise, foram destruídas 1,5 milhão de vagas de emprego formal, com ajuste sazonal. Entre junho e setembro, geramos 480 mil vagas de emprego com carteira assinada. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas não menospreze que conseguimos recuperar 31% da queda de emprego formal ocorrida no início da crise.

A concessão de crédito para pessoa física já voltou para o patamar anterior à crise, a despeito de toda a desconfiança com a perspectiva de aumento da inadimplência no início do próximo ano. O destaque positivo tem sido o financiamento imobiliário, que é beneficiado pelo aumento da captação da caderneta de poupança e pela baixa taxa de juros.

Dessa forma, esses indicadores sustentarão o nível do consumo das famílias nos próximos trimestres. Mesmo com a redução do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300, em setembro, a atividade econômica continuou em recuperação.

Reiteramos nossa projeção de retração do PIB real de 4,5% em 2020 e expansão de 4,0% em 2021.

Não temos Orçamento

As eleições municipais e a disputa pela presidência do Câmara do próximo biênio interromperam discussões e votações importantes, especialmente as relacionadas ao Orçamento e à PEC Emergencial.

A indefinição está consumindo tempo precioso, pois, após as eleições municipais, o Congresso terá um mês e meio para aprovar pautas essenciais para o próximo ano.

Esperamos que os recursos para o Bolsa Família sejam aumentados para R$ 50 bilhões, por meio de redução de outras despesas. Mas a incerteza sobre o respeito ao teto de gastos permanece elevada e prejudica a perspectiva da sustentabilidade fiscal.

Taxa de câmbio precisa desvalorizar ainda mais?

A baixa taxa de juros, a incerteza fiscal e os riscos do cenário internacional geraram uma forte saída de capitais no 1S20, o que gerou a necessidade de forte desvalorização cambial para a geração de superávit na conta corrente.

Nos últimos meses, a saída de capitais tem diminuído e o superávit da conta corrente aumentou substancialmente para 2% do PIB. Se o regime fiscal for mantido, estimamos ingresso líquido de dólares em 2021. Ou seja, não precisamos de maior desvalorização cambial se respeitarmos o teto de gastos.

IPCA acelerará de 3,1% em 2020 para 3,3% em 2021

A forte desvalorização cambial e o aumento do preço de commodities internacionais estão pressionando fortemente a inflação de curto prazo, o que levou o IPCA-15 de outubro para 3,5% acumulado doze meses. Isso mesmo, esses choques ainda deixaram a inflação abaixo da meta desse ano de 4,0%.

Não vislumbramos desvalorização cambial adicional de 40% no próximo ano, como descrito anteriormente. Tampouco esperamos nova pressão de commodities agrícolas, pois as condições climáticas devem melhorar e a produção de proteína animal está voltando a subir na China. Assim, esses choques de preços devem se dissipar ao longo dos próximos trimestres
Por outro lado, a recuperação da atividade deverá acelerar a inflação de serviços para 3,2% em 2021, patamar compatível com período anterior da crise.

Portanto, a atividade econômica continua em recuperação, mesmo com a redução do valor do auxílio emergencial em setembro. A pressão inflacionária de curto prazo será dissipada nos próximos trimestres e a inflação deverá ficar ligeiramente abaixo da meta no próximo ano. Naturalmente, a manutenção desse cenário depende da consolidação do ajuste fiscal.

Recuperação consistente nos EUA e ameaçada na Europa

Nos EUA, a baixa taxa de juros continuou impulsionando o mercado de crédito, especialmente o financiamento imobiliário.

A recuperação do emprego também está beneficiando a massa salarial e o consumo das famílias, sendo que a maior demanda implicará novo aumento da produção e emprego. Enfim, a atividade está ganhando vida própria e projetamos PIB real 2020 em -3,5%, e +4,6% em 2021.
Na Europa, a atividade deverá sentir o impacto negativo das novas restrições de deslocamento.

No início do mês passado, apesar do crescimento de casos de Covid-19, os governos evitaram adotar medidas mais duras de isolamento, pois os dados de hospitalizações e mortes continuavam em patamares muito abaixo da primeira onda. Com isso, as medidas restritivas foram localizadas em regiões com forte crescimento da pandemia e buscavam o menor impacto econômico possível.

Essas medidas não se mostraram suficientes para controlar o crescimento de novos casos e, consequentemente, o sistema hospitalar está ficando mais pressionado. Assim, Alemanha e França adotaram medidas mais restritivas, que incluem fechamento de bares e restaurantes e, no caso francês, comércio não essencial. Apesar de menos duras do que as medidas anunciadas na primeira onda, o aumento do isolamento afetará a economia local.

Acreditamos que outros países europeus também adotarão medidas mais restritivas, o que deverá retrair a atividade da região neste trimestre. Assim, projetamos PIB real 2020 em torno de -7,5%.
Acreditamos que o arrefecimento das restrições ao longo do primeiro trimestre (fim do inverno) beneficiará a atividade econômica nos trimestres subsequentes. Com isso, esperamos que a economia da região cresça 5,0% em 2021.

Portanto, enquanto a recuperação americana continua intacta, as novas medidas de restrição devem levar a zona do Euro para retração neste trimestre.

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