Assim como ocorreu na década passada, empresas brasileiras com foco em exportação podem ser beneficiadas, neste e nos próximos anos, por um novo “superciclo” (ou boom) das commodities.
Para quem não sabe, o que o mercado chama de “superciclo das commodities" é um movimento prolongado de valorização, no mercado global, dos preços de matérias-primas ou produtos básicos, como petróleo, minério de ferro, celulose, grãos e carnes. Esse novo boom de preços seria, desta vez, impulsionado pela recuperação econômica mundial após a grande recessão econômica causada pela pandemia.
E há sinais de que isso já começou. Em 2021, o preço de diversas commodities teve altas expressivas. O minério de ferro com pureza 62% negociado na Bolsa de Dalian, por exemplo, subiu aproximadamente 23,6% neste ano, passando de US$ 154,31 dólares no dia 4 de janeiro para US$ 190,77 no dia 30 de abril.
De acordo com relatório do Goldman Sachs divulgado no dia 28 de abril, os preços das matérias-primas devem subir 13,5% nos próximos seis meses. Já o banco UBS tem estimativa de aumento de mais de 10%.
As perspectivas animam os especialistas. A XP, por exemplo, revisou para cima o preço-alvo do Ibovespa, o principal índice acionário da B3, a bolsa de valores brasileira, para o final de 2021, de 135 mil pontos para 145 mil pontos. Segundo a corretora, o prospecto positivo também acontece por causa da “manutenção dos estímulos, beneficiando as empresas exportadoras e atreladas às commodities”.
De acordo com o analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, nesse contexto, é necessário cautela na hora de analisar as commodities como um todo, destacando caso a caso. Contudo, ele afirma que empresas brasileiras, como Vale e Suzano podem apresentar bons resultados, apoiados nesse movimento de alta.
Confira, nesta Spacedica, as perspectivas de alguns setores, e de algumas empresas em particular, em relação ao superciclo das commodities.
Vale e minério de ferro
Arbetman explica que o aumento recente dos preços do minério de ferro se deve, principalmente, à alta demanda de consumo da China, país que, apesar de ter sido o primeiro epicentro de covid-19 no mundo, acabou se tornando um dos primeiros a apresentar recuperação de sua economia. Para o analista, a oferta dessa commodity só deve ser recuperada em 2022.
“Nossa expectativa é que esse preço atual, em torno de US$ 200, arrefeça. E aí a gente vai ter uma cotação mais perto do preço de equilíbrio”, diz o especialista.
Ele ressalta que a Vale ainda tem espaço “de sobra” para continuar apresentando bons resultados, mesmo lidando com preços possivelmente abaixo dos atuais.
A mineradora apresentou, no primeiro trimestre de 2021, um lucro líquido de US$ 5,5 bilhões, um crescimento de 2.220% quando comparado com o mesmo período de 2020. Desde o começo de 2021, as ações VALE3 já tiveram alta de 21,8%, passando de R$ 91,46, no primeiro pregão do ano da B3, para R$ 111,46 no fechamento do dia 28.
Com preço-alvo de R$ 120, a Ativa tem recomendação de compra para a Vale (VALE3), cuja ação lidera o Ranking SpaceMoney de ações recomendadas para o mês de maio.
Siderúrgicas
Quanto às siderúrgicas, Ilan afirma que o momento de recuperação da indústria, depois de um ano de 2020 “lento”, cria um ambiente favorável para o setor.
"A gente vê um bom avanço do setor industrial. Eu somo esse fato a um mercado de varejo ampliado forte, tanto na construção civil quanto no mercado automobilístico. O mercado auto foi mais devagar ao longo de 2020, mostrando uma tendência de recuperação maior no final do ano, mas já vimos essa tendência de recuperação no preço que foi negociado nas montadoras com as siderúrgicas”, explica.
“Você soma isso com o câmbio e com a existência de uma defasagem do preço nacional do aço frente ao preço internacional e, quando você tem junto o fato de importante dos contratos das siderúrgicas com as montadoras já refletirem as novas condições de mercado, você cria, sim, um ambiente muito bacana para as siderúrgicas”.
A Ativa tem recomendações de compra para a Usiminas (USIM5) e Gerdau (GGBR4), com preço-alvo de R$ 25,70 e R$ 25,60, respectivamente.
“Temos uma visão bem construtiva para o mercado de siderurgia e construção. Mesmo com o preço alto do minério sendo um custo para as siderúrgicas, os motivos que eu elenquei fazem o atual momento bom.”
Suzano e celulose
O analista da Ativa também afirma que, assim como no segmento de minério, o setor de celulose sofre com falta de nova oferta. Segundo ele, os eventos ocorridos em 2020 afetaram os preços tanto da fibra longa quanto da fibra curta, o que influencia diretamente os negócios de uma das maiores empresas do ramo no Brasil, a Suzano.
“A gente lembra que para a Suzano é mais relevante a fibra curta, derivada do Eucalipto. E a gente vê que no sistema global só devem entrar novas capacidades ao fim de 2021”, explica.
Ilan afirma que esse fator pode ajudar a empresa a performar bem e ajudar positivamente nos seus resultados: “esse também é um business que vai possivelmente potencializar os resultados de Suzano e não há dúvidas que o momento positivo dessa indústria é um dos catalisadores da nossa tese de investimentos”.
“Talvez a Suzano, hoje, seja uma das companhias que têm uma agenda sustentável mais forte”, diz. “Quando você junta essa tendência de crescimento grande de um mercado extremamente relevante como o chinês, as paradas que a gente teve até metade de 2020 e a oportunidade que a gente tem via preço, a gente acredita que tenha condições muito boas para a Suzano”.
A recomendação da Ativa para a Suzano (SUZB3) é de compra, com preço-alvo de R$ 97.
Proteínas
No caso do setor de proteínas, Arbetman tem uma visão mais cautelosa e alerta que necessita de um pouco mais de “cuidado”. Isso porque os preços de alimentos como açúcar e soja estão em preços muito elevados devido ao clima no Brasil. O analista explica que esse é um dos “piores abris em anos”, com reservatórios de água em níveis muito baixos, o que aumentou o preço de muitas dessas commodities.
Porém, ele também afirma que esse é outro setor que pode surfar na onda de preços altos. “Esse mercado ainda sente os efeitos da gripe suína africana e esse é mais um ponto para que o preço das proteínas esteja forte”, explica.
É o momento para investir?
Apesar do momento apresentar boas expectativas para as empresas ligadas ao setor de commodities, o analista da Ativa diz que o melhor para o investidor é diversificar a sua carteira, sem alocar todos os seus recursos exclusivamente nas companhias desse mercado.
“Sempre variar entre empresas que dependem ou não de commodities, como ter uma diversificação intersetorial, para que você não fique dependente de um produto cíclico que venha a tomar um choque forte e comprometer seu portfólio”, afirma.