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ENTREVISTA: Sem intermediários e com alta gestão, Pi quer ser o 'Spotify' dos investimentos

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Com apenas dois meses no mercado, a Pi iniciou na última semana uma forte campanha de marketing para acelerar a captação de clientes para cumprir uma meta ousada: ter um milhão de clientes em 2023.

A fintech é a plataforma de investimentos criada pelo Santander para alcançar novos públicos e entrar de vez na competição com as corretoras digitais. O banco foi o último dos gigantes privados a buscar esse mercado, chegando depois da aquisição da XP pelo Itaú e da renovação da Ágora pelo Bradesco.

Em conversa com o Investing.com Brasil, o CEO da Pi, Felipe Bottino, descarta que tenha chegado atrasado neste mercado cada vez mais competitivo. “Estamos muito à frente com um modelo totalmente inovador”.

A estratégia da PI tem dois pontos fortes: eliminar os intermediários – gerentes e os agentes autônomos –, e dar acesso a partir de R$ 30 a carteiras lideradas por renomados gestores como Santander Private Banking, TAG, Vitreo e o CA Indosuez, que atendem aos grandes milionários. Na Pi, todos os investidores têm acesso aos mesmos produtos, sem itens exclusivos para aqueles de alta renda.

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Estar conectado a um ‘bancão’ não é uma vergonha para Bottino, mas um trunfo. “Somos um filho rebelde, mas com muito orgulho do Santander. Esse é um dos grandes diferenciais da nossa fintech: temos credibilidade, funding e solidez”. Segundo ele, isso garante consistência no longo prazo. “Quando bate desespero nas fintechs, elas fazem promessas que não conseguem cumprir. Os anúncios são um show de horrores”.

Bottino conta ainda que sua principal referência para a Pi é o Spotify: “quando você acessa o seu Spotify, ele completamente diferente do meu e é isso que queremos para a Pi. Cada cliente terá a sua Pi”.

Veja a entrevista completa com Felipe Bottino, CEO da Pi.

Investing.com – Vimos um grande crescimento no número de investidores no último ano e grandes bancos e corretoras abraçando esses novos clientes. A Pi chegou tarde nesse mercado?

Felipe Bottino – Nós temos a visão que estamos muito à frente em termos de posicionamento, pois somos a primeira empresa que investe de fato na desintermediação do mercado financeiro.

Antes, o dinheiro ficava concentrado nos bancos, depois nessas corretoras digitais e agora chega a Pi com um modelo inovador. Trazemos a desintermediação do mercado e a democratização da gestão de excelência.

Inv.com – Como funciona a essa desintermediação?

FB – O investidor pode comprar um produto na Pi sem a ajuda de intermediários. Isso é sempre melhor, pois ele não tem que pagar a comissão para os intermediários. Nós devolvemos a parcela que iria para o gerente ou agente autônomo para o cliente em pontos Pi, que são conversíveis em dinheiro.

Inv.com – Temos visto uma disputa grande por agentes de investimento, especialmente a briga entre a XP e o BTG Pactual. A Pi não terá agentes de investimento?

FB – Nós não descartamos nenhum mercado. É preciso deixar claro que não temos nada contra os agentes de investimentos ou outros intermediários. Mas nós temos um posicionamento diferente: oferecemos uma oportunidade para o cliente que quer se autogerir e não quer falar com ninguém.

Inv.com – A Pi vê o futuro do mercado sem esses intermediários? Um mercado sem agentes de investimento?

FB – Não achamos que esse modelo irá acabar, pois cada um se adapta a uma alternativa e todas vão coexistir. O investidor pode optar pelo banco, pela corretora com agentes ou pelo nosso modelo. A Pi chegou na frente para ser a figura da desintermediação e acredito que temos os melhores produtos para os clientes, com preços mais barato e uma gestão de excelência.

Inv.com – Como conciliar gestão de qualidade com preços mais baixos?

FB – A tecnologia permite isso. Fizemos parceria com grandes gestores de recursos e fortunas como Renato Sananiello, do Santander Private Banking; Dan Kawa, da TAG; Jojo [George Wachsmann], da Vitreo; e o CA Indosuez. São eles que fazem aquele trabalho artesanal dos grandes milionários e essa gestão estará disponível para o cliente da Pi a partir de R$ 30.

As corretoras tradicionais ampliaram acesso aos produtos financeiros, no entanto não houve a democratização do acesso a gestão de carteiras. Você pode entrar no supermercado e comprar o que quiser, mas é diferente de ter o grande chef que seleciona os ingredientes e montar o melhor prato.

Nós temos esse chef: um grande gestor que toma conta do seu dinheiro como ele toma conta dos grandes milionários. Eles investem em fundos que não estão disponíveis no mercado e devolvem 100% dos rebates para esse fundo. É uma gestão super ativa, com uma taxa de até 1%, a mesma cobrada investidores exclusivos. Estamos replicando para todos o mesmo modelo que os milionários já têm acesso.

Inv.com – Como o investidor terá acesso a esses gestores?

FB – Cada um montou uma carteira montou uma carteira com objetivos tangíveis para os clientes como poupar para uma viagem, aposentadoria, comprar uma casa ou estudar fora. É uma pegada que combina com o varejo por ter objetivos bem claros. Cada carteira tem um mix de ativos que consideramos suficiente e estão disponíveis na plataforma da Pi.

Inv.com – Esses produtos estão disponíveis para todos os clientes ou só para os de maior renda?

FB – A renda não quer dizer nada. Nós separamos os clientes pelo grau de conhecimento sobre investimentos e a vontade de terceirizar a gestão de sua carteira. A gestão de excelência está disponível para todos e nós defendemos muito que o cliente delegue para quem sabe. Mas cada cliente terá a sua própria Pi.

Nós avaliamos os melhores sistemas de CRM [gerenciamento de relacionamento com o cliente, na sigla em inglês] para criar uma abordagem diferente para cada cliente. Nosso espelho é o Spotify. Quando você acessa o seu Spotify, ele completamente diferente do meu e é isso que queremos para a Pi. Não estamos 100% prontos, mas é a nossa ambição.

Inv.com – Além das carteiras, a Pi também lançou um fundo de Tesouro.

FB – Sim, é um produto incrível. O cliente pode comprar títulos do Tesouro sem pagar custódia de 0,25%, nem taxa de administração. Tem apenas o come-cotas, mas nossos especialistas mostram que esse produto é melhor do que comprar direto.

Inv.com – Com todas as taxas zero, a Pi não ganha dinheiro.

FB – Eu não tenho que ser remunerado para render CDI ao cliente. Por isso, esse fundo tem taxa zero. A corretora deve ser remunerada quando render acima da taxa livre de risco. Eu quero que você ganhe bem mais que isso na Pi.

Inv.com – A Pi foi lançada há dois meses, qual o tamanho da base de clientes hoje?

FB – Não revelamos isso. Nossa ambição é ter 1 milhão de clientes em quatro anos.

Inv.com – A recepção inicial foi boa?

FB – Sim, muito. Vemos um fluxo grande de clientes e achamos que isso está apenas começando, pois a indústria B2C, que é fazer o produto para o consumidor final, nem começou ainda. Somos pioneiros nisso e estamos testando se o brasileiro está pronto.

Inv.com – Quem é o público-alvo da Pi?

FB – Miramos muito no cliente que quer tirar o dinheiro da Poupança e ganhar mais que o Tesouro Direto. Isso é a maioria da população. Vamos trabalhar para ajudar o investidor a investir mais e melhor.

Inv.com – A Pi é uma empresa do Santander. Por que montar uma empresa separada e não uma nova área conectada ao banco?

FB – É muito simples. Queremos unir os dois mundos. O que o investidor gosta no banco? Solidez, governança, praticidade. O que ele prefere nas fintechs? Agilidade, tecnologia, capacidade de inovação. A Pi é uma startup com credibilidade, solidez e financiamento do Santander.

Temos muito orgulho, respeito e admiração pelo Santander e sabemos que é um dos grandes diferenciais da nossa fintech em relação às outras, que estão lutando para ter credibilidade, funding e solidez. Nós já nascemos com isso.

Comprar na Pi é muito diferente de comprar numa fintech que está nascendo agora. Não podemos tomar riscos regulatórios. O que você vê em fintechs é que quando bate o desespero para vender e começam a fazer promessas que não conseguem cumprir. Começa com “vamos mudar o mundo” e termina com “venha para o fundo com 200% do CDI nos últimos 12 meses”. Os anúncios são um show de horrores.

Inv.com – Quais são os próximos passos da Pi?

FB – Iremos lançar em breve um produto inovador de Previdência em dois meses. Ainda não posso revelar os detalhes, mas o próximo passo é revolucionar esse mercado. Depois, lançaremos renda variável até o final do ano.

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