A estimativa do Banco Central (BC) divulgada em ata do Comitê de Política Monetária (Copom) na última terça-feira (8) de que o IPCA deve ficar acima do teto de 5% neste ano, em 5,4% – o que significa o estouro da meta de inflação pelo segundo ano consecutivo -, faz com que apostas de agentes do mercado financeiro por uma taxa básica de juros Selic a 12,5% a.a. aumentem.
Para Alexsandro Nishimura, economista, head de conteúdo e sócio da BRA, o tom mais hawkish da ata do Copom pesou sobre os negócios no mercado acionário ao passo que forçou para cima os juros futuros.
"Isto, por sua vez, trouxe impacto sobre ações mais sensíveis aos juros, como as empresas de tecnologia". De acordo ainda com o economista, "a comunicação mais rígida em relação à inflação provocou, inclusive, alterações nas expectativas de alguns agentes do mercado, que elevaram suas projeções para a Selic ao fim do atual ciclo de alta. Há apostas de que os juros cheguem até a 12,5% a.a".
Na ata, o BC também mostrou preocupação com a adoção de políticas fiscais que buscam controlar a inflação no curto prazo, o que pode gerar alta na inflação:
“O Comitê nota que mesmo políticas fiscais que tenham efeitos baixistas sobre a inflação no curto prazo podem causar deterioração nos prêmios de risco, aumento das expectativas de inflação e, consequentemente, um efeito altista na inflação prospectiva”.
O colegiado ainda indicou uma redução no ritmo de ajuste na taxa de juros para a próxima reunião de definição da Selic.
De acordo com João Beck, economista e sócio da BRA, a ata do Copom mostrou um BC preocupado com a interpretação do mercado após o comunicado da decisão na semana passada em relação à desaceleração do ritmo de ajuste.
"O Comitê reforçou que não pretende alterar a taxa terminal, mas sim fazer uma desaceleração. É natural que nesta fase final do ciclo de alta, o BC adote uma postura cautelosa, dado que altas passadas ainda não impactaram a economia", afirma o especialista.
Outro ponto sensível do texto, segundo Leandro Vasconcellos, CFP®️, Head da mesa de alocação Alta Renda e sócio da BRA, foi o alerta para a classe política no que tange a condução da política fiscal, que não raras as vezes acaba trazendo mais incerteza para o cenário e impactando na precificação do mercado.
"No documento, o comitê alerta para o risco de se adotarem políticas fiscais que tenham como objetivo conter a inflação de curto prazo, mas que no médio e longo prazos podem ter o efeito oposto. O alerta acontece por conta das recentes discussões no legislativo no sentido de se tentar reduzir o preço dos combustíveis no curto prazo alterando o arcabouço fiscal. O comitê alerta que tais políticas poderiam causar a deterioração dos prêmios de risco e, consequentemente, gerar um efeito altista na inflação", explica.
Vale lembrar que, com a Selic em dois dígitos, a 10,75% ao ano, a renda fixa se torna ainda mais atraente aos investidores que buscam bons rendimentos. Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, acredita que, com o aumento da Selic, os ativos pós-fixados são atraentes. “Como o momento de stress diminuiu e o mercado já precificou o aumento da taxa de juros, as taxas prefixadas não estão tão atraentes. Só se tornarão atrativas quando a curva mudar de sentido. Os atrelados a inflação longos dependem de como irá se comportar a inflação ao longo dos anos. Por isso, nesse caso, um título de curto prazo é mais interessante”, diz.
De acordo com Costa, ainda neste ano é possível que haja um fluxo de mercado de capitais muito positivo. "Se o crescimento vier e inflação diminuir pressão, podemos ter taxa menor que 12% no fechamento do ano, apesar de essa ser a previsão de boa parte do mercado", explica.
Com informações de Hochmuller Multimídia.