Reflexos da guerra

Fertilizantes: por que o Brasil é tão dependente da Rússia?

Com a guerra, importações do insumo russo foram suspensas temporariamente, o que pode prejudicar o plantio das safras de 2022 e 2023

- Elza Fiúza/Agência Brasil
- Elza Fiúza/Agência Brasil

O Ministério do Comércio e Indústria da Rússia recomendou aos produtores de fertilizantes do país que suspendam temporariamente as exportações. Em comunicado, a pasta diz que, devido à situação atual dos operadores logísticos estrangeiros e aos riscos envolvendo a guerra entre Ucrânia e Rússia, a recomendação é de suspensão temporária das exportações.

Hoje, o Brasil é o maior importador do mundo, trazendo de fora mais de 80% dos fertilizantes utilizados pelo agronegócio.

Apesar de o Brasil não ser um país que entraria nesta lista de restrição, a preocupação em relação ao fornecimento de fertilizantes da Rússia para o plantio da safra 2022/2023 aumentou nos últimos dias, já que o país não consegue receber os insumos russos devido à falta de navios e de seguro para que embarcações possam carregar fertilizantes no mar Báltico e Negro. 

Segundo a ministra da Agricultura, o Brasil tem estoques de fertilizantes até outubro, época em que se intensifica o plantio da safra de grãos de verão, o maior do país. Mas, segundo a Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), o Brasil tem estoque de fertilizantes somente para os próximos três meses.

Svein Tore Holsether, chefe de uma das maiores empresas de fertilizantes do mundo, disse à BBC News que a guerra na Ucrânia irá causar um choque "catastrófico" na cadeia de suprimentos e no custo dos alimentos.

A Rússia é o principal país que exporta fertilizantes para o Brasil. Cerca de 23% dos adubos ou fertilizantes químicos importados em 2021 vieram da Rússia, aponta o levantamento do Comex Stat, do Ministério da Economia.

Inclusive, em 2021, o Brasil importou do país US$ 3,5 bilhões de dólares em fertilizantes. Em segundo lugar, está a China, que exportou ao Brasil US$ 2,1 bilhões de dólares no insumo em 2021. Na sequência, entre os maiores exportadores, estão Marrocos, Canadá e EUA. 

"O Brasil é um dependente da Rússia na importação de fertilizantes e isso é fato. A China é o segundo maior fornecedor (US$ 2,1 bilhões), mas o valor não chega nem na metade do que o Brasil importa da Rússia", diz Rob Correa, analista de investimentos CNPI e autor do livro "Guia Do Investidor de Sucesso no Longo Prazo".

Segundo o especialista, o Brasil não é autossuficiente em fertilizantes e importa a maior parte do que consome, sendo o cloreto de potássio um dos principais deles. Mas por que o Brasil depende tanto da Rússia se somos um grande produtor de agronegócios?

"O Brasil precisa de fertilizantes porque o solo brasileiro é pobre em nutrientes e possui baixa fertilidade, principalmente nas regiões de destaque para a agricultura brasileira, onde ficam plantações de soja no cerrado, por exemplo. Então, apesar de sermos um país abençoado pela diversidade geográfica e rico em cultivos, dependemos de fertilizantes. E o país não consegue ter produtividade sem fertilizantes", afirma o analista.

De acordo com Correa, esse é um problema que vem se arrastando há muitos anos. "Precisamos pensar em ter uma produção nacional de fertilizantes o quanto antes. Essa é uma falha grave de quatro décadas e agora abriu os olhos do brasileiro. Precisou estourar uma guerra para percebermos o erro. E o problema só vai aumentando conforme a guerra e sanções continuam", diz. 

Impacto no bolso

Um dos principais impactos é no bolso. Antes da guerra, no porto de Vancouver, no Canadá, referência internacional, o preço da tonelada de cloreto de potássio saiu de US$ 279 dólares, em maio do ano passado, para US$ 680 dólares em dezembro, subida já influenciada pelo aumento das tensões entre Rússia e Ucrânia, que havia começado meses atrás. Hoje, o preço está em US$ 700 dólares. 

“Adubos e fertilizantes representam entre 30 a 35% dos custos de uma plantação, ou seja, isso vai impactar com certeza na margem do agronegócio brasileiro. E o preço pode subir ainda mais. No fim, quem paga a conta é o cidadão. Fertilizantes mais caros significam alimentos mais caros e menos dinheiro no bolso”, complementa.

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