Por Noreen Burke e Leandro Manzoni, da Investing.com – Com o Federal Reserve entrando em seu tradicional período de silêncio antes da próxima reunião sobre política monetária, nos dias 21 e 22 de setembro, o foco principal dos investidores dos EUA na semana à frente serão os números da inflação para agosto.
O momento em que os bancos centrais das economias desenvolvidas irão escolher para reduzir o estímulo econômico é uma peça chave do sentimento do mercado, em meio a preocupações sobre a inflação em alta.
O Reino Unido também deve divulgar dados de inflação que serão atentamente observados, juntamente com as atualizações sobre o emprego e as vendas do varejo.
As falas de dirigentes do Banco Central Europeu podem trazer mais luz à decisão da semana passada de reduzir as compras de títulos.
Enquanto isso, os dados da China provavelmente irão demonstrar que o ritmo de recuperação da segunda maior economia do mundo está desacelerando.
E no Brasil, continuam os desdobramentos da crise institucional após os atos pró-governo no dia 7 de setembro e com os protestos pró-impeachment deste domingo convocados pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua (VPR), em uma semana de indicadores com destaque para o volume do setor de serviços em julho e o IBC-Br de agosto.
Aqui está o que você precisa saber para começar a sua semana:
1. Inflação dos EUA
Os dados de terça-feira da inflação de preços ao consumidor serão o destaque do calendário econômico, em meio a um debate contínuo sobre se o atual aumento da inflação deverá se enfraquecer à medida que o desequilíbrio entre oferta e demanda, que vem causando os aumentos de preços nos últimos meses, venha eventualmente a diminuir.
Em julho, os aumentos de preços diminuíram, apesar de se manterem a nível mais alto em 13 anos numa base anual, entre sinais incertos de que a inflação atingiu o seu pico.
Os observadores do mercado também vão observar os números de quinta-feira sobre as vendas no varejo, cuja expectativa é de um segundo recuo mensal consecutivo, além dos dados sobre a produção industrial e os dados da Universidade de Michigan sobre o sentimento dos consumidores.
2. Mercado de ações
Os números da inflação dos EUA de terça-feira podem ajudar a ditar a direção do mercado na próxima semana, entre preocupações de que a persistente escalada da inflação possa levar o Federal Reserve (Fed) a reverter as medidas de estímulo monetários adotados para combater a crise econômica do coronavírus.
Nos últimos dias, vários representantes do Fed indicaram que o fraco relatório de empregos nos EUA de agosto não iria impedir o banco central de começar a recuar suas compras de títulos no final deste ano.
Apesar do prospecto da redução dos pacotes de estímulo, Mark Haefele, diretor de investimento da UBS Global Wealth Management, disse que esperava que os bancos centrais mantivessem as taxas de juro baixas.
"Isto é positivo para os mercados de ações, particularmente as áreas cíclicas e de valor do mercado. E, embora isso complique a busca por rendimentos, continuamos a ver oportunidades", ele escreveu em um relatório aos clientes.
3. Política em Brasília e IBC-Br
O último domingo (12) foi marcado por protestos favoráveis ao impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) convocados pelo MBL e VPR em 15 capitais brasileiras.
As manifestações foram uma resposta aos atos pró-governo de 7 de setembro, quando Bolsonaro radicalizou no discurso contra o STF e escalou a crise institucional no país, que foi reduzida após o presidente voltar atrás de suas atitudes relatadas em carta pacificadora redigida pelo ex-presidente Michel Temer (MDB).
O Ibovespa sofreu com esse vai-e-vem político e apresentou uma queda semanal de 2,26% aos 114.286 pontos, período marcado sob intensa volatilidade, com mínima de 112.435 pontos e máxima de 117.981.
O dólar tampouco foi diferente, com a moeda americana subindo 1,05% na semana a R$ 5,2454, com mínima em R$ 5,1547 e máxima em R$ 5,3347.
Os investidores estão monitorando os desdobramentos e impactos da crise política sobre o mercado financeiro.
Além disso, está no radar dessa semana a análise como se enquadra o foro privilegiado do senador e filho do presidente, Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ), no processo das chamadas "rachadinhas".
E na sexta-feira o STF volta ao protagonismo ao retomar a análise das ações contrárias a decretos que flexibilizam compra e porte de armas.
No Congresso, a expectativa é de votação do relatório da Reforma Administrativa, do deputado Arthur Oliveira Maia (DEM-BA), na Comissão Especial. Caso aprovada, a proposta seguirá para o plenário.
Em relação aos indicadores econômicos, destaque para o crescimento do setor de serviços em julho na terça-feira e do IBC-Br de agosto na quarta.
4. Dados do Reino Unido e falas do BCE
Na semana passada, o governador do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, alertou para o fato de que a recuperação econômica do Reino Unido está desacelerando, de modo que os dados desta semana sobre inflação, emprego e vendas do varejo serão observados com atenção, especialmente às vésperas da próxima reunião de política monetária do BoE, no dia 23 de setembro.
Os dados de julho mostraram que a inflação diminuiu para 2%, enquanto as vendas do varejo recuaram 2,5% no mês a mês.
Os dados do emprego de terça-feira também estarão no centro das atenções, num contexto de escassez de mão de obra e aumento de salários recorde de 8,8% em junho.
O fim dos regimes de licenças pode forçar as pessoas de volta ao mercado de trabalho, mas a escassez de competências corre o risco de alimentar pressões sobre preços motivadas por gargalos na oferta e pelos preços das commodities.
Na zona do euro, o economista-chefe do BCE, Philip Lane, e o governador do Banco da Finlândia, Olli Rehn, devem ambos fazer aparições, com os investidores ansiosos por mais detalhes sobre a decisão da semana passada de diminuir as compras de emergência de títulos ao longo do próximo trimestre.
A iniciativa é um pequeno primeiro passo no sentido de suspender o estímulo de emergência que o BCE implementou para fortalecer a economia da zona do euro durante a pandemia do coronavírus.
A Presidente do BCE, Christine Lagarde, fez questão de enfatizar que a iniciativa não foi o início do tapering.
Espera-se que a ação do BCE para cortar a compra de títulos seja acompanhada pelo Fed no final deste ano, apesar do decepcionante relatório do emprego de agosto nos EUA.
5. Dados da China
A China deverá divulgar dados sobre a produção industrial, vendas do varejo e investimento em ativos fixos na quarta-feira, que irão demonstrar o impacto econômico do surto generalizado de Covid em agosto, que viu Pequim fechar parcialmente o terceiro maior porto de contâineres do mundo e impor novas restrições em algumas partes do país.
Apesar dos surtos recentes já tenham sido em grande parte contidos, a economia chinesa ainda enfrenta dificuldades.
Embora as exportações tenham se mantido fortes, impulsionadas pela robusta demanda global, a demanda interna diminuiu em meio às medidas de contenção, gargalos na oferta, medidas mais restritivas para domar os preços de imóveis e uma campanha para reduzir as emissões de carbono.
Com informações de Reuters.