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G20: em discurso de instalação da Comissão Nacional do grupo, Lula critica FMI e Banco Mundial

Presidente brasileiro defende medidas para enfrentar endividamento de países pobres

- Ricardo Stuckert/Divulgação
- Ricardo Stuckert/Divulgação

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva formalizou, nesta quinta-feira (23), a instalação da Comissão Nacional do G20 –  órgão destinado a assessorar o Executivo durante o período em que o Brasil assumirá a presidência do grupo composto pelas 19 maiores economias do mundo e a União Europeia.

Durante seu discurso na reunião inaugural, que contou com ministros e membros do grupo, Lula enfatizou a importância de explorar essa oportunidade para debater o papel das instituições de governança global. Além disso, indicou a intenção de enfrentar a problemática do endividamento dos países em desenvolvimento.

"Vamos abordar no G20 a questão da governança mundial. Não é aceitável que as instituições como o Banco Mundial, o FMI e outras entidades financeiras continuem operando como se estivessem alheias aos desafios globais", argumentou.

O presidente expressou preocupação com o propósito dessas instituições ao concederem empréstimos, sugerindo que o objetivo muitas vezes não é salvar as nações devedoras, mas sim garantir um retorno financeiro mais significativo. Mencionou, ainda, a situação da Argentina e do continente africano como exemplos desses impasses.

"Por vezes, essas entidades que concedem empréstimos não o fazem com o intuito de resgatar o país mutuário, mas para quitar dívidas. Isso não resulta na produção de ativos produtivos, evidenciando a ausência de contribuição para a recuperação dos países. Observamos o que ocorreu na Argentina e o endividamento de US$ 800 bilhões no continente africano. Se não houver uma revisão na forma como os países pobres são financiados, não teremos soluções", enfatizou.

Lula também colocou em pauta que a presidência do G20 representa uma oportunidade singular para o Brasil finalmente se consolidar como uma nação desenvolvida. Ele associou essa possibilidade à agenda de transição ecológica.

"Um tema que abordaremos com grande ênfase é a questão ambiental. A transição energética se apresenta para o Brasil como uma oportunidade ímpar que não tivemos no século passado. O Brasil se tornará um porto seguro para investimentos na transição ecológica, contribuindo para sua consolidação como país desenvolvido", acrescentou.

Entretanto, o presidente também alertou os ministros sobre a prioridade de cuidar das questões nacionais, mesmo diante do compromisso com o G20, em meio à recente queda de popularidade.

"Este é um evento de extrema importância. É mais relevante do que uma Copa do Mundo, e os ministros devem estar cientes de suas responsabilidades. A prioridade de cada um é ser ministro, ou seja, não se espera que trabalhem mais do que já trabalham. Não podemos negligenciar os assuntos internos do Brasil", destacou o presidente.

Lula não deixou de fazer menção ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), presente na reunião e um dos membros da Comissão Nacional do G20.

"Estamos planejando um amplo evento de participação popular para construir propostas para o G20. O presidente Arthur Lira mencionou o interesse em realizar um encontro voltado para as mulheres, que terão um papel de destaque no G20. Queremos envolver todos os setores da sociedade nesse debate. Estamos constituindo duas forças-tarefa: uma contra a desigualdade e outra focada na questão climática. Além disso, vamos estabelecer um grupo de trabalho para promover o empoderamento das mulheres", revelou.

Por fim, em tom mais descontraído, Lula brincou com a presença do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, na reunião, alguém que tem sido alvo de suas críticas desde o início do mandato.

"Para aqueles que acreditavam que o BC não participava dessas reuniões [no Palácio do Planalto], o Roberto Campos, do Banco Central, está aqui desempenhando um papel tão importante quanto o nosso nesta reunião", ressaltou.

O Brasil assumirá a liderança do bloco em 1º de dezembro e manterá esse papel até 30 de novembro de 2024. A agenda do G20 será delineada e implementada pelo governo brasileiro, com o suporte direto da Índia, última nação a ocupar a presidência, e da África do Sul, país que assumirá o mandato em 2025. Este modelo, conhecido como troika, representa uma das características singulares do grupo em relação a outros organismos internacionais.

Durante o período de dezembro deste ano a novembro de 2024, o Brasil planeja organizar mais de 100 encontros oficiais em diversas cidades do país, incluindo aproximadamente 20 reuniões ministeriais, 50 reuniões de alto nível e eventos paralelos. O ponto culminante será a 19ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo, programada para os dias 18 e 19 de novembro de 2024, no Rio de Janeiro.

De acordo com Lula, no próximo 13 de dezembro, ele se reunirá em Brasília com representantes da trilha de política, onde se discutem políticas públicas, e da trilha de finanças, focada em questões de financiamento.

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