PIB 2019

Incerteza e baixo investimento público devem se manter durante 1º semestre de 2020

Incerteza e baixo investimento público devem se manter durante 1º semestre de 2020

▪ O Produto Interno Bruto (PIB) registrou variação positiva de 0,5% qoq no quarto trimestre de 2019 em relação ao terceiro (sazonalmente ajustado). Na comparação com igual período de 2019, o PIB cresceu 1,7% yoy.

▪ Em 2019 o PIB registrou crescimento de 1,1% e a renda per capita cresceu 0,3%.

▪ Pelo lado da oferta, o crescimento econômico foi puxado pelo setor de serviços que cresceu 0,6% qoq. Pelo lado da demanda o crescimento foi puxado pelo consumo das famílias (0,5% qoq).

▪ A indústria cresceu 0,5% em 2019 repetindo o crescimento de 2018. Porém, em 2019 a indústria de transformação permaneceu estagnada (em 2018 havia crescido 1,5%).

▪ O resultado do quarto trimestre de 2019 implica em um carregamento estatístico de 0,8% para 2020. Isto indica que, se o PIB mantiver o nível do 4º Trim. 2019 ao longo deste ano, haverá crescimento de 0,8% do PIB em 2020.

▪ Projetamos crescimento de 2,2% do PIB em 2020.

Evolução Recente

O PIB cresceu 1,1% em 2019, levemente abaixo do crescimento de 1,3% apresentado em 2018. Com isso houve um ganho da renda per capita de 0,3% em 2019. Apesar do crescimento do PIB nos últimos 3 anos, a renda per capita está 7,4% abaixo do nível de 2013. Em nível de produto, o PIB ainda está no mesmo patamar de 2013.

As perspectivas para 2020 apresentaram deterioração nas últimas semanas devido ao surto de coronavírus. O comércio global tem se contraído desde a segunda metade de 2019 devido à guerra comercial entre EUA e China. Adicionalmente, o coronavírus tem impactado fortemente o volume de comércio e as expectativas de crescimento global. Portanto, o setor externo não vai ajudar este ano. Dessa forma, 2020 será novamente um ano dependente apenas do setor privado doméstico.

No lado doméstico, temos a política fiscal pisando no freio e a política monetária pisando no acelerador. Portanto, esperamos continuidade do crescimento do consumo privado e, em menor grau, do investimento.

Ponto positivo em 2019: Consumo privado. O crescimento econômico de 2019 foi puxado principalmente pelo consumo privado. Embora o crescimento do consumo no quarto trimestre de 2019 tenha sido levemente abaixo do apresentado no terceiro trimestre, os indicadores antecedentes de consumo das famílias seguem apontando recuperação contínua. As concessões de crédito para pessoa física excluído o cheque especial e rotativo apresenta crescimento interanual ao redor de 25% (série chamada de “Crédito Bom” no gráfico abaixo).

Adicionalmente, há uma recuperação constante do emprego, inclusive do emprego formal, que tem possibilitado um crescimento sustentado da população ocupada. Não esperamos significativos ganhos salarias ao longo de 2020, dado que o nível de desemprego ainda está muito alto e vários setores ainda estão operando com grande ociosidade do fator trabalho. Contudo, a população ocupada tem crescido ao redor de 2,1% na comparação interanual e implicará em crescimento da massa real de rendimentos, o que favorecerá o consumo das famílias este ano.

Esses indicadores antecedentes sugerem um crescimento consumo privado entre 2-3% para este ano, acima do crescimento de 1,7% que vimos em 2019.

Ponto negativo: Queda do investimento no último trimestre de 2019. Embora tenha havido crescimento do investimento no ano passado como um todo (2,3%), o último trimestre apresentou uma queda na FBKF de 3,3% qoq, o que implica em uma recuperação mais lenta do que o esperado até o final do ano passado.

Ainda há elevado nível de incerteza, baixo investimento público, alto grau de ociosidade e evolução pouco favorável de termos de troca. Todos esses fatores devem se manter pelo menos até o final do primeiro semestre deste ano (a aprovação da PEC emergencial tem potencial de diminuir o ambiente de incerteza quanto à trajetória fiscal). Adicionando a isso o efeito, ainda incerto, mas nocivo, do coronavírus na atividade do primeiro trimestre deste ano, implica em uma fotografia pessimista para a recuperação do investimento para o início deste ano. O resultado de queda da FBKF na margem lança uma preocupação adicional para a retomada do investimento no primeiro semestre deste ano.

Contudo, as baixas taxas de juros estão fomentando crescimento da tomada de crédito por parte das empresas. As concessões de crédito como % do PIB apresentam recuperação sólida, compensando a queda nas concessões de crédito direcionado. A queda dos juros, que ocorreu ao longo de toda a curva, tem possibilitado a expansão de financiamentos via mercado de capitais a taxas bastante baixas na comparação histórica. Esse é um fundamento positivo que deve contrabalancear, pelo menos em parte, os vetores negativos citados acima.

Coronavírus: O Brasil é um país dependente da demanda externa por commodities agrícolas. A queda no comércio global deve impactar negativamente o crescimento do Brasil. O surto de coronavírus tende a impactar negativamente o crescimento deste ano, porém, ainda é cedo para avaliar quantitativamente esse efeito. A China é o principal destino das exportações brasileiras e é fonte de importação de máquinas e equipamentos que servem como insumos para a indústria brasileira. Embora os dados da balança comercial de fevereiro não tenham apresentado efeito claro e significativo do surto de coronavírus, ainda é cedo para avaliar o impacto negativo, mas ele provavelmente ocorrerá. Assim como na Zona do Euro, o impacto será sentido ao longo de março e abril.

Considerando a piora no cenário global devido ao surto de coronavírus, reavaliamos nossa projeção de crescimento econômico de 2,5% para 2,2% em 2020. Esse crescimento será liderado pelo consumo privado e pela melhora no investimento, principalmente a partir da metade do ano.

 

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