Agenda Econômica

Inflação no Brasil e nos EUA, reunião do BCE, petróleo: o que movimenta a semana de 6 a 10 de junho

Aqui está o que acompanhar nos mercados para os próximos cinco dias

- Marcello Casal Jr/Agência Brasil
- Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Por Daniel Shvartsman e Leandro Manzoni, da Investing.com – A inflação é o assunto central dos investidores nessa semana, tanto no Brasil como nos EUA.

No caso brasileiro, somam-se às preocupações de alta dos preços os riscos fiscais com a proximidade das eleições presidenciais de outubro.

Mas, o alerta de aceleração inflacionária é global, sendo a maior preocupação do Federal Reserve nos EUA e de outros bancos centrais.

O Banco Central Europeu se reúne esta semana sob essa perspectiva, em meio a expectativas de normalização de sua política monetária.

E, com os preços do petróleo fechando mais alto na semana passada e um conjunto de trovoadas corporativas em maio das nuvens de tempestade à frente, abundam os lembretes de que um pouso econômico suave pode ser difícil de realizar, não importando o tamanho da força dos consumidores.

Já os mercados de ações sofrem, terminando a primeira semana de junho novamente em um tom de baixa com a perspectiva de um bancos centrais hawkish (com tendência à normalização e aperto de políticas monetárias), mesmo às custas dos ativos de riscos.

O forte relatório do mercado de trabalho nos EUA na última sexta-feira deixou isso claro para o Federal Reserve e outros bancos centrais.

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Aqui está o que acompanhar nos mercados nesta semana dos dias 6 a 10 de junho:

1. Inflação no Brasil em maio desacelerou? E a pressão por mais gastos do governo

A divulgação dos números da inflação de maio no Brasil na quinta-feira (9) é o principal dado econômico do país nessa semana.

A expectativa do mercado é de que, finalmente, o IPCA tenha começado a desacelerar, embora a continuação de novas surpresas e dados acima do esperado não seja descartado.

A projeção é de que o IPCA tenha desacelerado de 1,06% em abril para 0,6% em maio, enquanto no acumulado dos últimos 12 meses a inflação tenha diminuído a alta de 12,13% para 11,8%.

Mesmo assim, os juros futuros continuaram a subir ao longo da curva na última semana, devido à perspectiva de inflação alta e elevação de juros pelo mundo. Contribui para a expectativa de condições financeiras mais apertadas o risco fiscal, que voltou ao radar durante a semana com a especulação de decretação de estado de calamidade pública pelo governo como manobra para conter a crescente inflação no país.

Porém, a discussão por alternativas durante o fim da semana trouxe alívio ao mercado, segundo a XP Investimentos (SA:XPBR31).

A semana que se inicia não será de alívio em relação à política fiscal.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) busca encontrar meios para baixar o preço dos combustíveis, aumentar o valor do Auxílio Brasil e dar o reajuste de 5% ao funcionalismo federal de olho na reeleição, além de ser exigência de sua base de apoio no Congresso, os partidos do Centrão, segundo informa a coluna de Lauro Jardim n'O Globo.

Por enquanto, Bolsonaro ouve o ministro da Economia Paulo Guedes, que o convence em não mexer nada sob o "risco de elevar a inflação e o dólar". No entanto, os líderes do Centrão exigem que Guedes apresente uma solução para conter a alta do preço dos combustíveis até essa semana, de acordo com Jardim.

Por fim, o Banco Central anunciou que vai atualizar parcialmente os dados da pesquisa Focus nesta segunda-feira (6), às 08h30. Sem dar maiores detalhes, apenas informou que será uma parcial das projeções realizadas até a última sexta, 3.

Além disso, os dados de vendas no varejo de abril serão conhecidos na sexta-feira (10) às 09h00.

2. Inflação nos EUA

O relatório de inflação ao consumidor dos EUA para maio, com divulgação marcada para sexta-feira, vem alguns dias antes da próxima reunião do Federal Reserve e irá atuar como o ingrediente final antes de o Fed decidir em quanto vai aumentar os juros.

A previsão é que a inflação alcance 8,3% no acumulado de 12 meses, enquanto o núcleo da inflação (sem energia e preços de combustíveis) deverá atingir 5,9% anualmente. Este último número representaria o terceiro mês de quedas consecutivas e reforçaria a tese de que a inflação central pode ter alcançado seu pico, o que iria ecoar o crescimento mais lento dos salários refletido no relatório sobre o emprego da semana passada.

Ao mesmo tempo, o número total de 8,3% para a inflação estaria próximo do pico, e considerando-se como está sendo dolorosa a visita às bombas de gasolina e supermercados, os consumidores podem encontrar certo consolo no fato de que o número principal esteja se nivelando.

3. Reunião do Banco Central Europeu

Embora bancos centrais de todo o mundo tenham iniciado o seu ciclo de elevação dos juros, o BCE parece estar a um ou dois passos atrás. No entanto, o fato de que a inflação na zona do euro atingiu altas recordes acrescentou mais urgência à discussão, e os analistas esperam que esta reunião deixe claro que os aumentos dos juros estarão a caminho no 3º trimestre.

A presidente do BCE, Christine Lagarde, chegou a afirmar isso num post de blog há duas semanas, de modo que tanto o comunicado do BCE como a coletiva de imprensa na sequência darão a oportunidade para Lagarde elucidar o caminho de volta a taxas de juros positivas e reafirmar a credibilidade do banco.

O euro subiu 1,67% desde o final de abril e 3,55% em relação às mínimas de meados de maio, sugerindo que o banco reconquistou pelo menos um pouco dessa credibilidade junto aos mercados.

4. A próxima direção do petróleo

O aumento anunciado de 50% na produção da OPEP+ pouco fez para frear o aumento do petróleo bruto, com tanto os futuros do petróleo WTI e o Brent encerrando a semana pouco abaixo de US$ 120 por barril.

Apesar dos rumores de desaceleração, a expansão econômica (PMIs) e a demanda dos consumidores sugerem que a procura por petróleo continuará alta, e existem dúvidas de que o incremento de produção da OPEP será suficiente ou mesmo alcançado integralmente.

Para a semana à frente, os olhares estarão voltados para a decisão do presidente dos EUA, Joe Biden, quanto a se encontrar ou não com o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, em meio a questões relacionadas aos direitos humanos.

Enquanto avançarmos para a temporada de viagens de verão do hemisfério norte, será interessante acompanhar os estoques semanais de petróleo e gasolina, os quais provavelmente encontraram correspondência com a a pesquisa sobre o sentimento dos consumidores de Michigan, cujas leituras estão se aproximando das mínimas de 2008-09 (embora, reconhecidamente, também sejam as mínimas observadas na crise do teto da dívida de 2011, um lembrete de que a pesquisa pode refletir o sentimento político tanto quanto qualquer outra coisa).

5. Fim da temporada de balanços nos EUA? Mais bomba corporativa a explodir?

Apesar de já termos atravessado a maior parte da temporada de balanços do primeiro trimestre, alguns nomes de peso divulgam seus dados esta semana, oferendo uma interpretação para diversos temas de investimento.

A DocuSign Inc (NASDAQ:DOCU) (SA:D1OC34) programou seu anúncio para quinta-feira, após o fechamento do mercado; a empresa de software como serviço, que antes fazia voos altos, foi uma das primeiras a emitir alertas de desaceleração nas atividades, sendo que os investidores podem agora torcer para que a empresa se junte ao recente ressurgimento visto em nomes como Zoom Video Communications Inc (NASDAQ:ZM) (SA:Z1OM34) ou Okta (NASDAQ:OKTA).

A Smartsheet (NYSE:SMAR) (terça-feira) e a Coupa Software Inc (NASDAQ:COUP) (SA:C1OU34) (segunda-feira) também estão entre empresas de software que divulgam resultados esta semana.

Tanto a JM Smucker Company (NYSE:SJM) como a Campbell Soup (NYSE:CPB) (SA:C1PB34) fazem seus anúncios esta semana, que podem contextualizar o impacto da inflação sobre os itens de primeira necessidades dos consumidores.

Da mesma forma, Caseys General Stores (NASDAQ:CASY), Five Below (NASDAQ:FIVE), e Signet Jewelers Ltd (NYSE:SIG) anunciam seus resultados no setor de varejo, proporcionando mais uma rodada de dados sobre os gastos e o apetite dos consumidores.

A Nio (NYSE:NIO) comunica seu balanço na quinta-feira, num momento em que a fabricante chinesa de veículos elétricos se encontra perto de suas mínimas em 52 semanas após as dificuldades enfrentadas em função dos lockdowns contra o coronavírus na China.

A última semana também foi marcada por uma série de comentários e anúncios corporativos de grandes players, incluindo a previsão de furacão econômico de Jamie Dimon, o e-mail de Elon Musk debatendo uma redução de 10% da força de trabalho da Tesla (NASDAQ:TSLA) (SA:TSLA34) e o anúncio da Coinbase (NASDAQ:COIN) (SA:C2OI34) sobre o congelamento de contratações e a rescisão de algumas ofertas de emprego já aceitas.

Com várias conferências de investidores esta semana, haverá muitas oportunidades para que executivos de todos os setores da economia façam considerações sobre se a economia está à beira do abismo, como afirmou Dimon, ou se, como nas palavras do ex-CEO do Goldman Sachs NYSE:GS), Lloyd Blankfein, "talvez ainda poderemos ter um pouso suave".

O contraste entre qualquer outra notícia de demissões por um lado e anúncios de fusões e aquisições por outro, como o da aquisição da Bristol Myers (NYSE:BMY) Squibb de sexta-feira, também vai contribuir para movimentar o moinho dos investidores.

Não é o mercado mais fácil de se navegar, mas alguma vez já foi?

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