Após cinco meses desde o início de 2022, muitas variáveis entraram no radar, acentuando a aversão ao risco tanto no Brasil quanto lá fora. Diante das mudanças, o Inter revisou a projeção para o Ibovespa e agora espera que o índice chegue ao final de 2022 aos 120.000 pontos, ante os 125.000 pontos que tinha projetado anteriormente.
Conforme o Inter, o novo preço-alvo deriva do múltiplo Preço/Lucro ajustado pelas projeções, de maneira que enxerga o Ibovespa atualmente sendo negociado a 12x (versus os aproximados 7x de mercado, sem ajustes) o que, considerando o P/L histórico do índice dos últimos dois anos, traz um upside para o índice local de 8%.
"Contudo, ressaltamos que em um exercício rápido de cenários, considerando o nível de P/L médio dos últimos 3 anos, poderíamos ver um Ibovespa chegar a 130 mil pontos, abrindo aqui uma oportunidade para o investidor local", pontuou o banco.
Contexto
Na análise do Inter, na China, as ondas de lockdown por conta da política zero-covid adotada pelas autoridades locais limitaram ainda mais o comércio global, já afetado pela eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia, o que colocou ainda mais pressão nos preços de insumos, contribuindo para níveis inflacionários recordes em todo o globo.
Ao mesmo tempo, bancos centrais mundiais iniciam, tardiamente na opinião de alguns, seu ciclo de aperto monetário, elevando a aversão ao risco e levando à correção dos índices em praticamente todas as principais bolsas globais.
"Em meio a um cenário cada vez mais incerto, a bolsa brasileira, não imune, segue oscilando apesar do viés levemente mais otimista que o restante do mundo. No ano, o índice local acumula alta de 6%, reflexo da retomada ao longo de maio, após as fortes quedas vistas nos índices globais em abril, antecipando o famoso “Sell in May”", ressalta o Inter.
Respiros
Dentre os motivadores recentes para o viés levemente otimista, está uma menor incerteza no curto prazo ante ritmo de aperto monetário do FED, após Ata do FOMC ter mostrado unanimidade entre os membros da instituição quanto à elevação de 0,5 p.p. na taxa de juros da próxima reunião contribuiu para diminuir a aversão ao risco em nível global.
Ademais, o Inter aponta as notícias de flexibilização dos lockdowns na China, reabrindo a economia, especialmente em Xangai, bem como os estímulos anunciados pelas autoridades chinesas para garantir o crescimento econômico no 2T22 foram bem recebidos pelo mercado, impulsionando aqui as ações das mineradoras, siderúrgicas e das companhias no setor de Papel e Celulose, contribuindo para que o IMAT no mês acumule uma alta de mais de 5%.
Em cenário adverso como vemos agora, é natural uma migração para setores mais defensivos, ou os chamados ativos de value, como as blue chips, fortemente correlacionadas com o índice, em razão de sua representatividade.
"Sendo assim, desde o início do ano, refletindo o boom nos preços do petróleo nos mercados internacionais, em especial após o início dos conflitos na Ucrânia que limitaram a oferta da commodity, as ações da Petrobras avançaram quase 30%. No setor financeiro, os grandes bancos também subiram fortemente, impulsionados pelo aumento das taxas de juros e reflexo no spread bancário, apesar da elevação recente dos receios quanto à inadimplência. Assim, o IFNC é o destaque dentre os índices, acumulando alta de mais de 16% em 2022".
Espelhando o avanço dos índices inflacionários e, setorialmente, a diminuição do cenário de cautela quanto a crise hídrica, o setor de Utilities se destaca, com o IEEX e o UTIL acumulando altas de 8,4% e 12,5%, respectivamente.
Mesmo com o avanço do índice, a cautela prevalece, uma vez que a aversão ao risco ainda continua elevada, impingindo pressão baixista nos ativos mobiliários. Os dados de inflação global continuam em tendência de alta, exigindo uma posição mais restritiva dos bancos centrais, que já sinalizam novos aumentos de juros. Na China, apesar dos recentes estímulos, mantemos visão mais comedida quanto a uma desaceleração econômica pior que o projetado.
Aqui no Brasil, inflação dá sinais de desaceleração, apesar de persistente, resultante do movimento de aperto monetário iniciado o ano passado, já antecipando as pressões esperadas para este ano.
O que esperar?
"Com isso, vemos meses ainda desafiadores para as companhias brasileiras no geral com 1) a demanda local arrefecida por preços de insumos ainda elevados e menor poder de consumo da população podendo limitar as receitas das companhias no mercado interno, 2) desaceleração global pressionando receitas com exportação, 3) choques de oferta impulsionando preços de insumos na cadeia global e contribuindo para ainda mais pressão de custos e aversão ao risco", diz o Inter.
"No entanto, como upside para nosso cenário, entendemos que atualmente no Brasil, observamos uma inflação muito mais por parte da oferta do que pela demanda, o que, em caso de arrefecimento dos preços das commodities nos cenários internacionais, juntamente com os índices de atividades que seguem apresentando melhora gradual, poderia trazer um ritmo mais célere de desaceleração dos custos no país, contribuindo para recuperação de margens em ritmo acima do atualmente considerado".