Os investimentos de varejo, tanto de pequenos aplicadores quanto do chamado varejo alta renda e dos private bankings, devem crescer de 8% a 10% este ano, acompanhando o desempenho do ano passado, quando subiram 9% e fecharam o ano R$ 2,797 trilhões estima Claudio Sanches, vice-presidente do Comitê de Varejo da Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima). A diferença deve ser na velocidade de mudança no mix de aplicações, que pode ser maior que no ano passado, pois os juros baixos tendem a incentivar a diversificação. “Já começamos o ano com juro Selic lá embaixo, em 6,5%, e os clientes de varejo de alta renda tendem a procurar alternativas que entreguem mais rentabilidade e começam a aprender mais sobre riscos”, explica.
No private banking, a expectativa é de um ano melhor, por conta da reativação da economia e da retomada das operações de fusões e aquisições e vendas de empresas, que colocam mais dinheiro no mercado de gestão de fortunas, explica João Albino, presidente do Comitê de Private Banking da Anbima. “Se não mudarem as condições de pressão e temperatura na economia, o segmento private tem tudo para superar os 11,6% do ano passado”, afirma.
Mais ofertas de ações e fusões
Segundo ele, este ano começa com um humor melhor, com os empresários mais dispostos a retomar projetos. “E estamos vendo uma lista de aberturas de capital de empresas e fusões e aquisições grande, tem muita coisa no radar”, diz Albino. E a valorização do estoque de renda variável começa a crescer e dar mais opções. “A tendência é o cliente sair para produtos alternativos, ações, private equity e fundos imobiliários”, afirma o executivo. “E estamos vendo os clientes buscando ativos mais longos também, o que aumenta o leque de opções, além da tendência de maior busca por fundos de previdência”, explica.
Privates vão disputar mais clientes para compensar juro menor
Nesse ambiente, Albino espera que a disputa entre os bancos pelos clientes de alta renda seja mais acirrada. “O rouba-monte vai continuar, pois com a queda dos juros, as receitas dos bancos caem e eles precisam ganhar em escala para compensar a rentabilidade menor”, diz. Isso também levará os bancos a ampliar a chamada visão holística do cliente, buscando atender outras necessidades além da gestão de recursos, com mais serviços, como cuidados com a família, sucessão, heranças e negócios.
Mais multimercados para iniciantes
Já Claudio Sanches espera para o varejo tradicional e de alta renda uma disseminação maior de multimercados, que é porta de entrada para o cliente experimentar os mercados de risco com alguém fazendo gestão por ele. Outra opção de diversificação para o varejo de baixa renda é o Tesouro Direto, já que agora as instituições estão oferecendo taxa zero pela compra e manutenção dos papéis e o cliente tem acesso maior.
No varejo de alta renda, deve ter tendência de renda variável, seguindo a tendência do private. “As debêntures ainda tem baixa popularidade nesse segmento e devem ganhar peso nesse segmento pelo aumento de emissões”, diz. Além disso, há o aumento da renda variável por conta do bom desempenho da bolsa no ano passado. E a tendência do setor de gestão será olhar mais a carteira do cliente, e não só alocação como produto, como já faz com o private.
Menos sustos dos investidores
Sanches diz ainda que as oscilações do mercado assustaram menos os investidores de varejo no ano passado que no anterior e houve menos episódios de fuga de investimentos de risco. “Nossa orientação para os clientes sobre risco, o suitability, é robusto, mas o cliente sempre esteve acostumado a oscilações menores”, explica. “Mas o comportamento tem sido melhor que no ano anterior”, acrescenta, lembrando que, no segundo semestre, com mais oscilação, houve saída de clientes, mas com intensidade menor. “A tendência é os clientes se acostumarem com oscilações, até porque determinados produtos têm oscilações maiores.”
Sobre a queda de LCA e LCI, Albino espera que a retomada da atividade nesses dois setores, agrícola e imobiliário, aumente a oferta desses papéis.
Varejo tradicional deve mudar menos
Já o crescimento do varejo tradicional vai depender mais do dinheiro em circulação na economia e quanto sobrará para investir, afirma Sanches. O crescimento da economia maior pode ajudar nisso. Ele não espera, porém, grandes mudanças no perfil do pequeno investidor, que deve continuar concentrado em caderneta de poupança e alguma migração para novos produtos com taxas mais atrativas. Essa migração não será rápida, já que o investidor de varejo é muito conservador, mas vai ocorrer, acredita Sanches.
Tributação de fundos fechados favorecerá previdência privada
Sobre os projetos tributários, a Anbima deve ficar atenta à possível retomada da MP 806, que permite a cobrança de imposto semestral antecipado, o come-cotas, sobre os fundos fechados. Hoje, só há cobrança de imposto em caso de saque ou fim do fundo. “Não temos visto nenhuma movimentação sobre isso nos últimos meses, pois a pauta está muito concentrada na reforma da Previdência”, afirma Albino. Mas, se o tema for retomado o melhor veículo para substituir os fundos fechados, acredita o executivo, serão os fundos de previdência privada.
LCI deve crescer nos privates
Outra opção que deve crescer, especialmente na alta renda, são as Letras Imobiliárias Garantidas, as LIGs, regulamentadas no fim do ano passado e que começam a ser emitidas pelos bancos. Elas contam com dupla garantia, dos recebíveis, como as LCI, e do banco. “Elas estão surgindo fortes este ano, e janeiro começamos a ver instituições emitindo mais, concentradas em vender para o público private”, diz Albino. Os papéis costumam ter prazo de três anos com um de carência. “É um belo investimento, mas vai depender também do lastro, ou seja, do crédito imobiliário, e os clientes gostam de ter um percentual da carteira nesses papéis isentos mais longos, pois eles ficam protegidos no caso de uma mudança na tributação, que não costuma atingir os papéis já emitidos”, diz Albino.
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