Minas e Energia

Ministério divulga estudo prevendo "revolução" no setor energético

Áreas em que há digitalização ficam mais competitivas e eficientes

- Pok Rie
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Por Pedro Peduzzi, da Agência Brasil – O setor de energia poderá passar por adaptações tecnológicas que representarão uma revolução similar à ocorrida com as telecomunicações.

Em termos práticos, significa, entre um número ainda inimaginável de possibilidades, transformar medidores de energia e demais equipamentos em unidades de inteligência artificial e, a partir da digitalização de dados e procedimentos, ampliar como nunca a qualidade e os serviços prestados pelas empresas do setor.

O potencial da digitalização do setor energético vai muito além do que se pode imaginar nos dias atuais, conforme sugere um estudo divulgado nesta sexta-feira (26), em Brasília, pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

Foi o que disse à Agência Brasil o diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do MME e coordenador do projeto Sistemas de Energia do Futuro, Carlos Alexandre Príncipe Pires.

O estudo Uso de Novas Tecnologias Digitais para Medição de Consumo de Energia e Níveis de Eficiência Energética no Brasil é, segundo ele, “uma ideia lançada no ar” para mostrar à comunidade e, em especial, às empresas do setor energético, “um horizonte inicial” sobre o impacto que a digitalização de equipamentos e serviços pode ter para o Brasil. 

Elaborado por meio da Parceria Energética Brasil-Alemanha, o trabalho é produto de uma cooperação entre o Ministério de Economia e Energia (BMWi) da Alemanha e o MME, que tem por base experiências europeias no uso da Inteligência Artificial, Internet das Coisas (IoT), Big Data e tecnologias digitais de ponta.

Ele traz insumos sobre como utilizar essas tecnologias para coletar, processar e analisar dados relacionados ao consumo de energia e medição da eficiência energética no contexto brasileiro.

O que diz o estudo

O estudo divulgado pelo Ministério de Minas e Energia indica alguns desafios básicos, técnicos e de infraestrutura de rede, para que o Brasil avance na digitalização dos serviços oferecidos pelas companhias elétricas. 

Um deles está relacionado à “necessidade de efetividade da comunicação entre o ponto de medição e a distribuidora [necessidade de um sistema bidirecional de comunicação, o gerenciamento deste sistema dentro do negócio de energia], e seus custos associados [quem pagará o investimento e como ele deve ser articulado entre as diversas possibilidades e players]”.

Outro desafio é o país promover uma “modernização regulatória e legal da concessão de distribuição de energia, para exigir, incentivar e monitorar a digitalização em toda a cadeia de negócios de energia”, de forma a evoluir o “status quo atual das condicionantes operacionais” das distribuidoras de energia, e oferecer “mais serviços e soluções energéticas, com modelos participativos e reconhecendo as interferências de novos mecanismos de comercialização da energia possivelmente infiltrados e competindo em sua cadeia de fornecimento”.

Segurança cibernética

O estudo apresenta, ainda, alguns riscos que devem ser levados em conta, de forma a evitar problemas como o mau uso dos dados obtidos dos clientes. A questão da confidencialidade de dados é algo a ser considerado, uma vez que “todo processo que se digitaliza, se torna também alvo”.

“Precisamos ter cuidados com relação a isso. Trata-se de uma discussão pertinente que precisa ser trabalhada”, segundo o diretor, destacado pelo ministério para explicar o estudo que aborda o tema.

"Alguns exemplos e questões dessa mudança ficam como resultado desta análise: quanto da informação (e qual) deve ser armazenado em tempo real ou em tempos determinados, sobre o consumo e a qualidade da energia entregue para o cliente? O que fazer com essa informação para promover o relacionamento efetivo? Como garantir o uso dessa informação e a privacidade do cliente sobre o seu consumo – quais as restrições de uso das informações do cliente para ampliação de serviços pela concessionária? Como ampliar o relacionamento e garantir uma parceria efetiva entre o cliente e a concessionária, bem como a percepção do valor desse novo relacionamento? As respostas serão dadas pelos diversos agentes do processo, com parcimônia, pois dependem das estratégias assumidas por cada negócio, são regionalizadas e também precisam ser reguladas", indicou.

Segundo a pesquisa, “o tratamento desses dados, em tempo real, o armazenamento em formato útil para agilidade de seu processamento e utilidade, a manutenção da informação para estratégias e tomada de decisões pelo cliente, pela concessionária de distribuição, pela sociedade, pelo regulador representam um grande desafio. A privacidade de dados individuais e coletivos deve ser exercitada e garantida, uma questão ainda em aberto no Brasil para o grande big data [conjunto de dados maior e mais complexo, especialmente de novas fontes de dados] gerado”. 

“Se o consumidor for o eleito e respeitado como promotor do processo, novos horizontes serão conquistados em decorrência do arranjo inteligente da rede e dos novos negócios que podem ser gerados”, complementou.

Transição planejada e sistemática

Ainda segundo a pesquisa do MME, as mudanças propostas com rede elétrica inteligente, IoT e digitalização das redes são “culturalmente profundas para os players e para a sociedade”, demandando, portanto, repensar, testar e reorganizar os processos existentes e as situações de décadas de operação das redes de energia, das normas regulatórias e das leis.

“Espera-se que as concessionárias brasileiras de energia possam realizar a transição de forma planejada e sistemática, ampliando de forma gradual o conhecimento de seus clientes e de sua rede. Espera-se que o cliente seja também aculturado em suas responsabilidades e direitos e possa contribuir de forma inteligente para o negócio, como decisor da compra e efetivo estruturador da demanda”, conclui o estudo.

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